Infraestrutura substitui a crise como prioridade para 2010

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Durante o ano de 2009, a preocupação dos economistas estava relacionada com o crescimento do Brasil em meio à crise que assolou as finanças do mundo inteiro. Passado o pico da turbulência, a maioria dos especialistas entrevistados pelo DCI afirma que para o País crescer acima dos 6% e caminhar em paralelo com a China, o governo brasileiro precisa investir na infraestrutura do território nacional a partir do próximo ano, já que o Brasil sediará a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

 

De acordo com levantamento inédito feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), com base nos dados da Infraero, em 2008, 113,3 milhões de passageiros passaram pelos aeroportos do País, gerando 2,8 bilhões de movimentos de aeronave. Além disso, foi transportado 1,3 bilhão de quilos de carga. Dados da Antaq revelam ainda que, no período, os navios transportaram 754 bilhões de quilos de carga.

 

Segundo o presidente do Ipea, Marcio Pochmann, o relatório aponta que existem, no Brasil, 196,2 mil rodovias públicas pavimentadas: 27,2 mil municipais, 98,4 mil estaduais, 58,8 mil federais e 17 mil mistas (estaduais e federais). Entretanto, há apenas 28,3 mil quilômetros de ferrovias. "Ou seja, para um quilômetro de ferrovia, há 6,9 km de rodovia", analisa Pochmann. "A malha ferroviária do País precisa ser ampliada. Ela, por si só, não resolve o problema de logística, mas, com a dimensão continental do Brasil, há espaço para transportes de longo curso. Sem dúvida, há dois modais de logística que precisam ser destacados: a ferrovia e o transporte de cabotagem [transporte de carga por navio]", comenta o diretor presidente da Fractal, Celso Grisi.

 

Na opinião do presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (Abracex), Roberto Segatto, para possibilitar que as indústrias estejam mais aptas a exportar também são necessárias mudanças nos portos e nos aeroportos brasileiros. "Temos uma série de problemas. Os fretes aéreos e marítimos são muito caros. Para se ter uma idéia, cobra-se mais no Brasil para um navio atracado do que na Argentina", diz. "A concorrência da China é grande, por conta da nossa deficiência de infraestrutura. Ao invés de produzir, estamos importando", acrescenta.

 

Garantias

 

O economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) e ex-secretário de Política Econômica José Sérgio Gomes de Almeida afirma que o Brasil precisaria avançar mais nas parcerias público-privadas (PPPs) e nas concessões. "O trabalho é longo, mas poderia ter mais PPPs. Nós fizemos o PAC [Programa de Aceleração do Crescimento], que está tentando encontrar o seu caminho. O governo garantiu o custo para os financiamentos da infraestrutura. No entanto, precisamos de mais recursos vindos da iniciativa privada. Seria bom acelerarmos os processos de concessões e de PPP, mesmo com todos os bloqueios burocráticos", aconselha.

 

Na opinião de Grisi, as PPPs são uma modalidade interessante para investir no desenvolvimento do País, mas levam muito tempo a serem concluídas. "As PPPs envolvem uma engenharia complicada, há muitos elementos jurídicos para conceber a privatização, por isso acredito que se deveria estimular o aumento das concessões e das permissões à iniciativa privada. A PPP pode continuar caminhando, mas, para tornar mais ágeis e acelerar os projetos mais urgentes, essas outras formas são mais independentes e interessantes", diz Celso Grisi.

 

Para o economista-chefe do Santander Real Brasil, Alexandre Schwartsman, o PAC é um símbolo que fez com que os investimentos no Brasil crescessem mais 1%, mas ressalta que há necessidade de mais investimentos no setor. "Se disser que é por causa de falta de tributos, não é verdade. Mas para atrair investidores precisa diminuir a carga tributária, que registrou em 2008, 36% e deve ser o mesmo em 2010. É preciso reduzir os gastos correntes e abrir mais espaço para a iniciativa privada", disse.

 

O economista do Win Trade, José Góes, avalia que os efeitos da infraestrutura são mais a curto prazo. "O País precisa estar preparado para os eventos que sediará. A burocracia neste aspecto precisa melhorar muito. Além de que investindo em infraestrutura, a entrada e saída de produtos fica bem mais barato. Vemos uma melhora com a efetivação de PPPs. Acredito que no caso de garantias, a iniciativa privada, o empresariado está mal acostumado com os incentivos de impostos. Para atrair mais a iniciativa, a União precisa abrir mão de receita e reduzir a carga tributária."

 

Alguns dos principais economistas do País afirmam que o governo precisa aumentar os incentivos a investimentos em infraestrutura para que a economia brasileira possa crescer 6% este ano. O economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) e ex-secretário de Política Econômica José Sérgio Gomes de Almeida afirma que o Brasil precisaria avançar mais nas parcerias público-privadas (PPPs) e concessões. "O trabalho é longo, mas poderíamos ter mais PPPs. Nós fizemos o PAC [Programa de Aceleração do Crescimento], que está tentando encontrar o seu caminho. Precisamos de mais recursos vindos da iniciativa privada." Para o economista-chefe do Santander, Alexandre Schwartsman, o governo deve diminuir a carga tributária para atrair mais recursos estrangeiros.

 


Veículo: DCI


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