Recessão foi a mais intensa desde 1980

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Ciclo de retração econômica durou dois trimestres e foi um dos mais curtos dos últimos 30 anos

 

A redução dos juros, a expansão do crédito, os incentivos fiscais e os gastos do governo, sobretudo em custeio, ajudaram o Brasil a sair mais rápido da recessão no início deste ano. Foi uma das recessões mais curtas vividas pelo país nos últimos 30 anos. Durou apenas dois trimestres - do quarto trimestre de 2008 ao primeiro trimestre de 2009. Apesar de rápida, foi severa. O Produto Interno Bruto (PIB) dessazonalizado a preços de mercado, medido pelo IBGE, caiu 3,8% no acumulado dos dois trimestres. A redução média por trimestre foi de 1,9%, a mais intensa entre as oito recessões registradas pelo Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace) a partir de 1980.

 

"Não foi uma parada sem custos", diz Regis Bonelli, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV. Bonelli é um dos sete membros do Codace, órgão independente que segue método de trabalho semelhante ao do comitê de datação americano, criado em 1978. Ontem, o Codace divulgou relatório no qual compara a recessão vivida pelo país entre o fim de 2008 e o início de 2009 com períodos anteriores de retração econômica.

 

A base de comparação trimestral, a partir de 1980, indica que só em dois períodos anteriores à recessão de 2009 houve retrações tão curtas - de dois trimestres cada uma. Uma delas ocorreu entre o segundo e o terceiro trimestres de 1995, logo depois da crise do México, no fim de 1994. A outra verificou-se entre o primeiro e o segundo trimestres de 2003, período que se seguiu à aceleração inflacionária de 2002 que obrigou o Banco Central a elevar os juros para frear a economia.

 

A partir do terceiro trimestre de 2003 até o terceiro trimestre de 2008 (por mais de cinco anos), o PIB cresceu por 21 trimestres seguidos, observa Bonelli. A expansão foi resultado do fato de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não ter feito grandes mudanças na política econômica quando assumiu o governo. Foi o período mais longo de expansão do PIB da série do Codace. O crescimento acumulado nos 21 trimestres foi de 29,7% (média trimestral de 1,2%).

 
 
A partir do quarto trimestre do ano passado, porém, veio a crise e o país entrou em recessão, que conseguiu superar rapidamente. O crescimento acumulado no segundo e terceiro trimestres de 2009 foi de 2,4% (média de 1,2%). A desaceleração econômica foi acentuada no setor industrial, diz o Codace em seu relatório. O PIB industrial brasileiro reduziu-se em 12,2% nos dois trimestres da recessão, queda bem superior à redução média de 0,6% do PIB do setor de serviços.

 

Na visão de Bonelli, a recessão foi curta, pois as ameaças que se configuraram com a restrição de crédito, a partir de setembro de 2008, foram sendo dissipadas. "A economia mundial, embora não tenha voltado à normalidade, recebeu injeções de liquidez substanciais." Ele avalia que o fato de o Brasil ainda ser uma economia relativamente fechada, na qual as exportações não têm peso elevado em relação ao PIB, ajudou o país a se recuperar de forma mais rápida em um cenário de forte redução dos fluxos comerciais.

 

A política fiscal do governo também pesou, na visão de Bonelli. "O governo manteve o pé no acelerador da política fiscal." Ele lembrou que os gastos do governo aumentaram em várias rubricas, sobretudo no custeio. Bonelli citou ainda a redução da taxa básica de juros e dos compulsórios dos bancos, medidas que injetaram uma "montanha" de liquidez na economia. Também contribuiu para o cenário de recuperação o aumento do crédito dos bancos oficiais e a isenção do IPI sobre automóveis, linha branca e construção civil.
 


Veículo: Valor Econômico


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