Brasil e China já fazem negócios sem usar o dólar

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Primeira operação foi feita no mês passado, numa tentativa de diminuir a dependência da moeda americana

 

Brasil e China fizeram no mês passado a primeira operação financeira diretamente nas moedas dos dois países, sem conversão para o dólar. A filial brasileira da fabricante de ar-condicionados Gree enviou quase R$ 1 milhão para sua matriz por meio do Bank of China, que recebeu o dinheiro em reais e o entregou em yuans três dias mais tarde em uma agência na Província de Guangdong.

 

Normalmente, as remessas internacionais são feitas em moedas conversíveis, como dólar ou euro, mas a China está em uma ofensiva para ampliar a utilização do yuan fora de suas fronteiras.

 

Na visita que fez a Pequim em maio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que o comércio entre os dois países seja feito nas moedas nacionais, sem a conversão intermediária para o dólar.

 

A remessa da Gree teve por objetivo pagar pela importação de partes destinadas à sua fábrica na Zona Franca de Manaus, onde está desde 1999.

 

O vice-presidente do Bank of China no Brasil, Xiao Qi, disse à agência oficial de notícias Xinhua que a utilização das moedas dos países envolvidos na operação reduz o risco associado à flutuação das taxas de câmbio.

 

Em sua avaliação, outras empresas chinesas com atuação no Brasil vão preferir liquidar suas remessas para a China com a conversão direta de reais para yuans, sem passar pelo dólar.

 

No mês de março, o presidente do Banco do Povo da China (o banco central), Zhou Xiaochuan, defendeu o abandono do dólar como reserva internacional de valor e sua substituição pelo Special Drawing Rights (SDR), uma versão rudimentar de moeda internacional criada pelo Fundo Monetário Internacional em 1969.

 

Desde então, a China adotou uma posição mais agressiva para promover o uso internacional de sua própria moeda. Só o Bank of China fez nos últimos meses 50 operações de remessas de diferentes países diretamente em yuans, em valor equivalente a US$ 8,8 milhões. Com Hong Kong, que é uma região administrativa da China, foram feitas mais de 100 transações, na cifra de US$ 14,7 milhões.

 

Os valores são irrisórios quando comparados aos US$ 2,56 trilhões que o comércio internacional da China movimentou em 2008, mas as operações são um indício da disposição de Pequim de gradualmente reduzir a utilização do dólar.

 

Além de defender a liquidação de operações comerciais em yuans, as autoridades chinesas manifestam desde o ano passado preocupação com a cotação do dólar e a possibilidade de forte desvalorização da moeda em razão do enorme déficit americano.

 

A China tem o maior volume de reservas internacionais do mundo, de US$ 2,27 trilhões, e veria esse patrimônio derreter em um cenário de queda livre do dólar. Pelo menos US$ 800 bilhões das reservas estão investidos em títulos do Tesouro dos Estados Unidos e outros US$ 500 bilhões a US$ 700 bilhões estão em ativos denominados em dólares.

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


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