Investimento pode fazer PIB superar 6%

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Projeções para 2010 apontam maior alta dos últimos anos, apesar da perda que virá das importações


  
A taxa de crescimento do produto Interno Bruto (PIB) de 2010 pode passar de 6%. Há um crescente número de economistas que aposta nessa taxa forte e a explicação para um percentual tão alto está no investimento. Bancos e consultorias que apostam em PIB superior a 6% projetam, também, um aumento dos gastos em máquinas, equipamentos e construção civil próximo a 20% no ano que vem.

 

É principalmente essa aposta que explica a diferença entre as projeções que ficam entre 4% e 5% e as que superam esse percentual. Há um consenso entre as consultorias de que a demanda interna será forte - entre 7% e 8%, na média das previsões. Há também consenso de que as importações atenderão parte importante desse consumo e, por isso, vão afetar o PIB negativamente e reduzir seu tamanho final. Nas contas do Santander, as importações vão tirar dois pontos do PIB - ele poderia ser de 6,8%, mas ficará em 4,8%, diz Cristiano Souza, economista do banco.

 

Para as instituições e consultorias que esperam um desempenho menor do PIB em 2010, o investimento também cresce, mas de forma mais modesta. Para a MB Associados, que estima um aumento de 5% do PIB, o investimento sobe 5,9%, quase metade da elevação de 11,5% projetada pelo BNP Paribas, que calcula a alta do PIB em 4,1%.

 

O Credit Suisse desenha um cenário extremamente positivo para o Brasil em 2010, apostando em alta do PIB de 6,5%. Metade desse crescimento virá da expansão de 20% da formação bruta de capital fixo (FBCF, que mede o que se investe na construção civil e em máquinas e equipamentos), diz o economista-chefe do banco, Nílson Teixeira. Segundo ele, parte da alta forte se explica pela fraca base de comparação - a FBCF deve cair 13,5% neste ano -, mas haverá genuína retomada das inversões.

 

"Os investimentos aumentarão de modo significativo nos próximos trimestres como resultado da expectativa de expansão da atividade por vários anos", afirma Teixeira, para quem a aceleração da oferta de crédito pelos bancos privados e públicos contribuirá para esse processo. Ele afirma ainda que o aumento da poupança externa também financiará a expansão dos investimentos em 2010 e 2011, "compensando a baixa taxa de poupança doméstica".

 

O diretor de Pesquisa e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, também projeta expansão de 20% da FBCF em 2010. "A retomada do investimento em nosso cenário está pautada na expectativa de aumento da demanda doméstica", afirma Barros.

 

Para ele, a recuperação das inversões é fundamental por dois aspectos: primeiro, por mostrar que "o setor privado está crescendo justamente quando os estímulos fiscais, como a redução do IPI, estão diminuindo, o que sugere que o crescimento da economia será sustentável mesmo com a retirada dos impulsos". O segundo ponto é que ele "revela uma leitura generosa do futuro por parte dos empresários, que antecipam a continuidade da expansão da demanda nos próximos trimestres".

 

Barros destaca ainda a perspectiva de aceleração das inversões do setor público, por causa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), da ampliação do crédito do BNDES e do restante do sistema bancário e das perspectivas favoráveis para o mercado de capitais. Pelas contas de Barros, o investimento voltará a equivaler a 19% do PIB em 2010 - o mesmo nível de 2008 - depois de cair para 16,9% do PIB este ano. Para Teixeira, a taxa de investimento ficará em 18% do PIB no ano que vem, superando os 19% do PIB só em 2011.

 

De acordo com a LCA Consultores, a taxa de investimentos terá contribuição negativa de dois pontos percentuais no PIB deste ano - que, segundo a consultoria, deve crescer 0,6%. A situação se inverte no ano que vem. Segundo Bráulio Borges, economista-chefe da LCA, os investimentos terão participação positiva de 2,7 pontos na formação do PIB, que aumentará 5,6% em 2010. "A virada no PIB, saindo de recessão para crescimento alto, é sustentada na virada do investimento", diz ele.

 

O outro grande motor do crescimento em 2010 será o consumo das famílias, segundo Bradesco e Credit Suisse. O Credit aposta em crescimento de 7,6% nesse componente do PIB e em uma taxa média de desemprego de 7,5%, o nível mais baixo da série iniciada em 2003. Ao mesmo tempo, diz que a massa salarial real deve crescer 6,1%, bem acima dos 3,2% de 2009. O Bradesco é um pouco mais conservador quanto à expansão do consumo das famílias, acreditando em alta de 5,1% em 2010.

 

Teixeira chama a atenção para o desempenho extremamente positivo que deverá ter a demanda doméstica (consumo das famílias, consumo do governo e investimento). Da alta de 6,5% projetada para o PIB, 8,6 pontos percentuais deverão vir daí, enquanto o setor externo deverá "tirar" 2,1 pontos do crescimento no ano que vem, já que as importações de bens e serviços devem aumentar 23,7%, bem acima da alta de 6,1% das exportações. Barros acredita que a contribuição da demanda doméstica para o PIB será de 8,7 pontos.

 

Para Alexandre Lintz, estrategista do BNP Paribas, o setor manufatureiro brasileiro "vai sofrer muito" na nova relação internacional de forças, por falta de demanda externa e da dificuldade de competição com os países da Ásia, cujas moedas estão bem mais desvalorizadas do que o real e a mão de obra, mais barata.

 

Em 2010, diz, todos os canais de distribuição dos produtos asiáticos no mercado brasileiro estarão montados. O impacto dessas importações sobre a produção será significativa, acredita Lintz, e o hiato do produto vai continuar amplo, de forma que o BC brasileiro não precisará subir os juros no ano que vem. Para ele, a demanda interna fará um aumento de 5,1% do PIB, mas a demanda externa vai contribuir com 1% negativo, deixando a alta em 4,1%.

 

Tomás Málaga, economista do Itaú Unibanco, concorda que o setor manufatureiro ainda não recuperou a média diária de exportação de US$ 400 milhões que chegou a atingir antes da crise. Hoje, exporta em torno de US$ 280 milhões por dia. No seu entender, o aumento dos investimentos, de 16,2% do PIB neste ano para 17,5% em 2010 e a expansão no setor de serviços e na exportação de produtos básicos vão permitir um crescimento de 5,5% no PIB no ano que vem. A demanda interna será responsável por uma expansão de 7% e a externa, por queda de 1,5%.
 


Veículo: Valor Econômico
 


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