Indústria dá sinais mais fortes de recuperação

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Produção industrial cresceu 2,2% em outubro, a décima taxa positiva consecutiva ante o mês anterior

 

Os sinais de recuperação da indústria ficaram mais fortes em outubro, evidenciados pelo bom desempenho dos bens de consumo duráveis e pelo aumento no ritmo de reação dos investimentos. O impulso do consumo interno e dos bens de capital garantiu alta de 2,2% na produção em outubro ante setembro, a décima taxa positiva consecutiva ante mês anterior. A queda de 3,2% em relação a outubro de 2008 foi o menor recuo do desempenho mensal em relação ao mesmo mês do ano anterior desde o início da crise.

 

"Queda menor também é recuperação", disse a gerente de análise da coordenação de indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Isabella Nunes. Ela ressaltou que, apesar da recuperação na indústria ao longo de 2009 e do crescimento de 19,5% em outubro ante dezembro do ano passado, a produção industrial em outubro ainda foi 5,7% menor que a de setembro de 2008, o início da crise.

 

Para ela, os dados confirmam a reação industrial, mas não a consolidação. "A recuperação estaria consolidada se estivéssemos no patamar de produção de antes da crise, mas ainda estamos no nível de outubro de 2007. No auge da crise, em dezembro de 2008, tínhamos retornado a 2004", afirmou.

 

O economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rogério Souza, destacou o caráter diversificado da reação da indústria, já que 21 dos 27 segmentos pesquisados apresentaram alta na produção em outubro ante setembro. "Há um movimento mais generalizado e mais consistente na recuperação industrial", observou.

 

Isabella também sublinhou o maior espalhamento da recuperação da indústria por produtos. Citou como evidência dessa distribuição o índice de difusão, que mostrou crescimento na produção em 42% dos 750 produtos pesquisados em outubro, ante igual mês do ano passado. Em setembro deste ano, o índice de difusão havia apontado uma alta de 34%, na mesma base de comparação.

 

Mesmo com a distância ainda longa entre o cenário de agora e o nível recorde de produção de 2008, os resultados de outubro da indústria foram comemorados. "Os dados apresentaram um desempenho bastante favorável da indústria em outubro, que acompanha a melhora do cenário econômico como um todo", diz Bernardo Wjuniski, da Tendências Consultoria.

 

INVESTIMENTOS

 

O desempenho da produção de bens de capital trouxe sinais de reação mais forte dos investimentos, que vinham sofrendo com a crise desde dezembro do ano passado. Segundo o IBGE, os bens de capital apresentaram aumento de 5,9% na produção em outubro ante setembro - a maior alta em relação ao mês anterior desde janeiro - e queda de 16,8% ante outubro do ano passado, neste caso o menor recuo ante igual mês de ano anterior desde o primeiro mês de 2009.

 

Para Isabella, os dados mostram que "a retomada dos investimentos foi mais consistente em setembro e outubro" e isso reflete a reação em segmentos como bens de capital para transportes (produção de caminhões), energia elétrica e construção civil. "Esses setores estão refletindo os incentivos do governo, seja pela redução de tributos ou pelas linhas de crédito diferenciadas."

 

Segundo ela, o crescimento de bens de capital será importante para o desempenho industrial dos próximos meses. "Os dados de bens de capital mostram que a indústria está se recuperando com qualidade, aumentando a capacidade de produção, isso é sempre bem-vindo", afirmou.

 

Bernardo Wjuniski, da Tendências, também avalia que "o forte crescimento da produção de bens de capital revela uma boa perspectiva para os próximos meses, já que indica um aumento dos investimentos".

 

Para Rogério Souza, do Iedi, caso essa categoria prossiga nesse ritmo de crescimento, o que ele considera provável, "os investimentos vão se recuperar das perdas sofridas com a crise mais rápido do que esperávamos".

 


Estímulos fiscais puxam produção de bens duráveis

 

Os incentivos governamentais levaram a produção dos bens de consumo duráveis (automóveis e eletrodomésticos) a ter em outubro a primeira alta em relação a ao mesmo mês do ano passado (2,8%), após 12 meses de queda. Nos eletrodomésticos, o aumento foi de 4,5%. Os produtos de linha branca (geladeira, fogão, máquina de lavar) tiveram expansão de 27,1%. A produção de automóveis, que tem maior peso entre os duráveis, cresceu 9,7%.

 

"A alta dos bens duráveis ratifica toda a política anticíclica que tivemos até agora", afirmou a gerente de Análises da Coordenação de Indústria do IBGE, Isabella Nunes. Segundo Isabella, é evidente a importância do consumo doméstico na recuperação da indústria ao longo de 2009.

 

Prova disso é que os seis segmentos que mostraram maior aumento na produção em outubro, na comparação com dezembro do ano passado - considerado o fundo do poço do setor após o início dos efeitos da crise -, são voltados para o mercado interno.

 

Para o economista Rogério Souza, do Iedi, esse desempenho reflete não apenas os incentivos governamentais, mas também a recuperação do crédito e da confiança dos consumidores. A produção de duráveis cresceu 5,9% ante setembro.

 

As maiores altas na produção em outubro de 2009 ante dezembro de 2008 são de grupos diretamente ligados ao consumo doméstico, como veículos (alta de 107%), material eletrônico e equipamentos de comunicações (90,8%) e mobiliário (38,4%).

 


Veículo: O Estado de S.Paulo


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