Indústria demora mais para atender pedidos

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Conjuntura: Pequenas lojas de construção ficam sem produtos e reposição demora até 40 dias, diz associação

 

O aquecimento das vendas de materiais de construção neste fim de ano está pressionando a indústria, e já há casos de atraso na entrega de alguns itens por falta de estoque dos fabricantes. Grandes lojas não relatam este problema, mas entre as pequenas e médias, que encomendam volumes menores e com menos antecedência, faltam produtos como gabinetes de cozinha, louças sanitárias, luminárias e lâmpadas fluorescentes.

 

Na Casa Nova, loja de São Bernardo do Campo, ABC paulista, os prazos de entrega fechados com fabricantes passaram de 10 para 30 dias desde meados de outubro. No caso de gabinetes para cozinha, a loja não conseguirá contar com o produto neste ano. A encomenda feita em outubro será entregue só em janeiro. "Normalmente isso acontece no fim de ano, mas não com essa intensidade", diz Fábio Festa, diretor da loja. Segundo ele, as vendas devem crescer sobre 2008, mas o resultado será afetado pelos atrasos dos fornecedores.

 

Na loja Joli, da capital paulista, o produto que vai faltar nesse fim de ano é um tipo de luminária chamado plafon. Segundo a funcionária responsável pelas compras, Marli Lucena, o fabricante só poderá entregar em 90 dias. "Geralmente em novembro as vendas aumentam e surgem problemas para obter alguns itens no prazo esperado." A loja também enfrenta atraso nas entregas de fechaduras e lâmpadas fluorescentes da China.

 

Segundo a Anamaco, que representa o varejo da construção, os últimos dois meses do ano devem ter grande peso no crescimento do setor. De janeiro a outubro, as vendas cresceram 3% sobre o mesmo período de 2008. Para o ano, porém, é esperado um aumento de 6%. "No primeiro trimestre, quando as vendas caíram 15% sobre o período anterior, era questão de dias para se receber uma encomenda. Hoje os prazos são de 30 a 40 dias, o que exige uma melhor organização dos lojistas", diz Cláudio Conz, presidente da Anamaco.

 

Conz afirma, porém, que fora problemas pontuais com materiais de acabamento, o varejo não deve sofrer com falta de produtos. "Eventualmente pode haver algum desabastecimento na área de acabamento, mas nada que não possa ser substituído", diz. O único caso de material que está em falta hoje, segundo Conz, é a telha, por conta do prejuízo com as chuvas.

 

A Dicico, que espera um crescimento de 30% das vendas em dezembro contra o mesmo mês de 2008, não teve problemas com abastecimento. Segundo Cláudio Fortuna, diretor de marketing da varejista, as encomendas para o fim de ano foram iniciadas em julho. "Trabalhamos com estoques muito altos e apostamos que o fim do ano seria aquecido." No ano, as vendas da loja devem crescer de 20% a 22%, segundo o diretor. Para 2010, a rede está apostando em um crescimento maior, quando inaugurará 12 lojas.

 

O aumento das vendas surpreendeu a Leroy Merlin no começo de novembro, mas não chegou a afetar os estoques. Marcos Lima, diretor da central de compras da companhia, conta que o crescimento das vendas 20% acima do esperado causou um atraso de até dois dias na reposição de produtos nas lojas. "Estávamos preparados para uma venda menor, e tivemos que nos reorganizar. Mas estamos sempre preparados para essas eventualidades no fim de ano", diz. A rede espera ter crescimento superior a 10% em 2009.

 

Lima tem percebido no mercado a ausência de alguns metais sanitários e itens de cerâmica. Para ele, o comércio que não apostou em aquecimento neste fim de ano e buscou comprar de última hora ficou desabastecido. "A demanda está aquecida e a indústria prioriza atender quem já tem pedidos."

 

O bom desempenho do varejo puxou a produção da indústria, que atingiu em outubro o maior nível de utilização de capacidade instalada do ano, 89%, recuperando boa parte da perda do pós-crise - em março, o índice estava em 78,1%. Dessa forma, os fabricantes de material de construção já sentem necessidade de aumentar investimentos.

 

Segundo pesquisa realizada pela Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Construção (Abramat) no começo de novembro, a expectativa de elevar os investimentos nos próximos 12 meses é a maior desde o pré-crise: 70% dos executivos devem ampliar investimentos, frente 33% em maio.

 

Segundo Melvyn Fox, presidente da Abramat, porém, o aumento das compras não surpreendeu os fabricantes, e não há risco da demanda não ser atendida. "Após o mergulho do fim do ano passado, tinhamos muita capacidade ociosa na indústria". Dessa forma, avalia Fox, "temos margem para crescer sem investimentos", uma vez que, antes da crise, o Nuci do setor era maior - chegou a 91,3%, em agosto de 2008, segundo a FGV. "Isso, na hipótese de não realizarmos novos investimentos. Algo que não deverá ocorrer", diz.

 

Segundo ele, como a indústria estava muito estocada no começo do ano, mesmo com o aquecimento a partir do segundo semestre, a produção do setor deve cair 8% em 2009. "Para 2010, as perspectivas são as melhores possíveis. Vamos crescer 14%."

 

O setor da construção foi impulsionado pela isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) desde junho deste ano. Na semana passada, o governo prorrogou a medida até o fim de junho de 2010. Outros segmentos que também foram contemplados pelo benefício fiscal, no primeiro trimestre, e que devem ter um fim de ano aquecido foram o de automóveis e produtos da linha branca.

 

"Com a queda do IPI, tivemos, especialmente neste segundo semestre, uma antecipação da sazonalidade de dezembro. Quer dizer, antecipamos o Natal em produção e comercialização", afirma Mauro Correia, diretor de marketing da Mabe, dona das marcas Dako, General Eletric (GE), Continental, e Bosch, no Brasil.

 

Segundo Correia, a demanda doméstica foi estimulada pela queda nos preços que, em média, ampliaram as vendas de eletrodomésticos em 20%. Segundo cálculos da Mabe, a venda de lavadoras de roupas, nos sete meses após a redução do IPI no fim de março foi 30% maior que em igual período de 2008, quando o país crescia a taxas de 6% ao ano.

 

Diferente da construção, o varejo da linha branca não sente falta de produtos. Segundo José Domingos Alves, supervisor-geral das Lojas Cem, a falta só se verificará "se a empresa não se preparou", por má gestão. "A demanda doméstica aquecida não será um fenômeno novo, ela já está ocorrendo e, como sempre, virá mais forte no Natal."

 

Alves diz que as perspectivas do dos grandes varejistas são positivas. "Começamos com um Natal forte e, a partir de 2010, teremos uma sucessão de eventos como Copa do Mundo e eleições que sempre fortalecem o consumo."
 

 

Veículo: Valor Econômico


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