Pela primeira vez em 64 anos de história, a Sadia não terá lucro. No tradicional almoço com a imprensa ao final do ano, Luiz Fernando Furlan, presidente do Conselho de Administração, lamentou o fato, sem estimar qual será o prejuízo no fechamento do ano. O mercado estima que o balanço do 4º trimestre mostre resultado negativo ainda maior do que os R$ 442,6 milhões amargados entre janeiro e setembro por causa da alta exposição da empresa aos contratos de derivativos cambiais. Ontem, ao explicar a nova redução da exposição líquida nesses contratos, o diretor de Relação com Investidores, Welson Teixeira Júnior, afirmou que houve perdas nessas liquidações feitas a partir de outubro, mas ponderou que esses recursos não terão efeito no caixa. "O recurso já está depositado como garantia de margem. Não sairá mais do caixa", esclarece Texeira, afirmando que o valor dessas perdas serão contabilizados e informados apenas na divulgação dos resultados financeiros trimestrais.
Até 30 de setembro, a Sadia já tinha registrado prejuízos de R$ 653 milhões com as operações de derivativos cambiais. Naquele momento, a empresa tinha uma exposição líquida de US$ 2,36 bilhões, valor que, conforme informado ontem por Furlan, foi reduzido, e está em US$ 687 milhões. "Usamos os três instrumentos possíveis para liquidar esses contratos (vencimento na data, liquidação antecipada e contratos inversos", detalha Teixeira.
O resultado exato dessas liquidações ainda é desconhecido do mercado. Sabe-se apenas que em 30 de setembro (quando o dólar tinha fechado em R$ 1,9030; ontem fechou em R$ 2,50) a oscilação cambial havia feito com que essas operações demandassem da Sadia o depósito de R$ 920 milhões de margem de garantia, segundo o balanço da companhia. Sabe-se também que desde 30 de setembro, o caixa da Sadia encolheu de R$ 2,3 bilhões para atuais R$ 1 bilhão, diferença que possivelmente inclui uso do recurso para envio de margem de garantia desses contratos cambiais, mas também para projetos de investimento e para capital de giro. "Provavelmente, o último trimestre, quando a empresa faz seu maior lucro do ano, será comprometido com perda financeira ainda maior do que a já anunciada", avalia Peter Ping Ho, da Planner Corretora.
O prejuízo e a incerteza diante da crise mundial fará com que a Sadia invista em 2009 cerca de R$ 500 milhões, três vezes menos do que os 1,6 bilhão investidos neste ano. "Todas as empresas estão suspendendo investimentos. Nós estamos mantendo. O recurso será usado na conclusão da unidade de Lucas do Rio Verde (MT) e na de Vitória de Santo Antão (PE). A indústria no Oriente Médio é prioridade, mas não no momento", explica Tomazoni.
Ele informa que a empresa já está reduzindo alojamento de animais nas granjas e que também diminuirá a produção industrial nos próximos meses com parada técnica de suas unidades para manutenção industrial. O objetivo, segundo Tomazoni, é reduzir o nível de estoques, que em 30 de setembro deste ano representaram R$ 1,9 bilhão, 58% maiores do que os R$ 1,2 bilhão registrados em mesmo dia de 2007, conforme informado no último balanço da companhia. "Isso não prejudicará nossas vendas. Nos ajudar a diluir os estoques retidos no porto de Itajaí (SC) e também a ajustar nossa produção destinada à exportação para níveis próximos do que está sendo feito por todo o setor. A Abef (exportadores de frango) está orientando as empresas a reduzirem 20%. Estamos avaliando", diz Tomazoni. Outra novidade é que nos próximos dias a empresa deve anunciar o novo diretor-financeiro, que ficará no lugar do executivo demitido, Adriano Ferreira.
Veículo: Gazeta Mercantil