Sadia vai investir em 2009 um terço do que aplicou este ano

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Num almoço de fim de ano em que pediu aos jornalistas para esquecerem "as más notícias e aproveitar para ampliar as vendas natalinas", o presidente do conselho de administração da Sadia, Luiz Fernando Furlan, disse ontem que a empresa prevê investir R$ 500 milhões em 2009. O valor representa menos de um terço da quantia recorde aplicada este ano pela empresa, um total de R$ 1,6 bilhão. 

 

Furlan também informou que a companhia, que em setembro assumiu perdas de R$ 760 milhões com derivativos atrelados ao dólar, conseguiu reduzir novamente sua exposição cambial. Na segunda-feira da semana passada, a exposição era de US$ 966 milhões - caiu para US$ 678 milhões ontem. "Estamos com menos de três meses de exportação de exposição cambial. Praticamente de volta à normalidade que existia na vida da empresa nos últimos anos", afirmou. Em setembro, quando reconheceu as perdas, a exposição da Sadia era de US$ 2,364 bilhões. 

 

Segundo Furlan, que substituiu Walter Fontana Filho na presidência do conselho após o imbróglio dos derivativos, a redução da exposição está sendo feita por meio da compra de dólar futuro e de liquidação antecipada de contratos de derivativos. "A partir da virada do ano, as mudanças cambiais voltam a representar benefício, já que o dólar valorizado aumenta a receita com as exportações", disse, acrescentando que a empresa deve fechar 2008 com exportações de cerca de US$ 3,1 bilhões. 

 

"Em vários pontos de vista, 2008 foi extraordinário para a Sadia. Bateu recorde de vendas, de exportação e de contratação. É também o primeiro ano da história, em 64 anos, que terá um balanço em 31 de dezembro sem lucro", reconheceu. 

 

Apesar disso e da crise financeira internacional, Furlan está otimista para 2009 e disse que boa parte dos investimentos feitos em 2008 vai dar competitividade à empresa nos próximos anos. "Os investimentos feitos pela Sadia nos últimos dois a três anos ficaram muito acima da nossa média histórica e tinham como objetivo deixar a empresa preparada para longos períodos de crescimento". 

 

O investimento recorde este ano permitirá um aporte menor em 2009, segundo Furlan. Os R$ 500 milhões previstos para ano que vem serão destinados à conclusão de projetos já em andamento, como Lucas do Rio Verde (MT), melhoria nas unidades, infra-estrutura, tecnologia da informação e matrizes. O projeto de construção de uma unidade nos Emirados Árabes Unidos ficará no papel, por enquanto. "É preciso esperar decantar a poeira", disse. A construção de unidade de suínos em Mafra (SC) também não entrará no plano de investimentos de 2009. 

 

O presidente do conselho da Sadia avalia ainda que a crise financeira internacional não deve afetar o consumo de alimentos, e previsões preliminares indicam um aumento de 7% no volume de vendas da empresa (nos mercados interno e externo) para o próximo ano. 

 

Na avaliação de Furlan, a "acomodação geral" de preços, com queda das commodities agrícolas, deve reduzir os custos de produção da empresa. Ele disse ainda que a queda das cotações nas exportações em 2009 deverá ser compensada, em parte, por volumes maiores de vendas. 

 

No entanto, a empresa já prepara o que Furlan chamou de "paradas técnicas" em unidades pelo país, para reduzir a oferta de frango para exportação. A razão é que há atualmente importadores estocados, quadro agravado pela contração de liquidez. "Não vai prejudicar as vendas e vai ajudar a diluir segmentos que tiveram produtos retidos por conta de problemas nos portos", disse, referindo-se a atrasos em embarques por conta da paralisação em Itajaí (SC). 

 

Gilberto Tomazoni, presidente-executivo da Sadia, disse que as paradas - com duração de duas a três semanas - devem ocorrer na virada do ano, mas as unidades afetadas ainda não foram definidas. A Abef (associação que reúne os exportadores) recomenda redução de 20% na produção de frango para exportação. Segundo Tomazoni, esse é o percentual de redução que a Sadia deve buscar na produção de ave para o mercado externo. 

 

Furlan voltou a dizer que "a empresa não está à venda", e admitiu ter sido procurado por 18 fundos, nacionais e estrangeiros, interessados em investir na Sadia depois a empresa ter assumido as perdas com derivativos . "Todo mundo olha [para a Sadia] como grande uma oportunidade para investir". Segundo ele, a empresa não tem aperto de "curtíssimo prazo e o desafio é buscar crescimento para continuar investindo". 


 
Veículo: Valor Econômico


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