Mais organizado, artesão amplia venda ao varejo

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A Tok & Stok foi buscar em Miracatu, município de 23 mil habitantes situado no Vale do Ribeira (SP), um de seus lançamentos deste ano. Em novembro, a rede de móveis e decoração coloca no mercado uma nova série de pufes, fabricados com fibra de bananeira, reforçando, assim, a presença do artesanato nas prateleiras de suas 26 lojas. "Foi um casamento feliz que fizemos com os artesãos, que já dura 30 anos", diz Edson Coutinho, coordenador de tendências da varejista, considerada a maior distribuidora de artesanato no país.
 

 
Dos 10 mil itens que compõem a atual linha da Tok & Stok, 600 são de diferentes tipos de artesanato, fornecidos por cerca de 200 produtores. Mas a Tok & Stok não está sozinha. O artesanato tem atraído uma clientela seleta no país e no exterior e deixa, para algumas famílias, de ser uma atividade acessória para assumir um perfil mais empresarial.
 

 
"Comecei com artesanato para ajudar na renda familiar e, há três anos, meus pais venderam o restaurante que tinham para trabalhar na minha empresa", conta Simone Oliveira, proprietária da Brasil Pitanga Arte Rústica, de Carangola (MG), que faz peças decorativas, como abajures e luminárias, com filtros de café usados.
 

 
A Brasil Pitanga tem cadastrados 833 clientes e seus produtos já cruzaram as fronteiras do país. Em janeiro, um lote com 160 peças foi despachado para o Estados Unidos e, em julho, outro, do mesmo tamanho, para Israel. No mercado interno, só Tocantins, Roraima e Acre não são ainda atendidos.
 

 
Da linha de produção da Brasil Pitanga saem duas mil unidades ao mês: além de abajures e luminárias, uma linha diversificada de quadros, aparadores, tampos de mesas, biombos e arandelas, entre outros itens. Tudo feito com filtros de café reciclados e montados em estruturas de ferro e telas galvanizadas, feitas em três serralherias - duas delas terceirizadas. Simone, que trabalhava sozinha há sete anos, emprega atualmente 40 pessoas na sua empresa.
 

 
Essa "profissionalização", ainda que não generalizada, ajuda o setor a crescer. Um indicador é o volume de negócios fechados em feiras do Brasil e do exterior. Na edição mais recente realizada pelo Sebrae de Minas Gerais, em agosto em Uberaba (MG), os negócios somaram R$ 5,7 milhões - quatro vezes superior ao R$ 1,3 milhão apurado no primeiro encontro. A maior parte das vendas (R$ 4,9 milhões) correspondeu a encomendas de empresas nacionais e de países como Estados Unidos, Alemanha, Espanha e Holanda.
 

 
"O artesanato brasileiro está em busca de profissionalização", diz Sabrina Campos Albuquerque, do Sebrae-MG. Há artesãos que conseguem vender cerca de R$ 20 mil ao mês devido a pedidos originados a partir de catálogos feitos pelo Sebrae, diz ela. Nas quatro feiras realizada pelo Sebrae-MG, 1,2 mil produtos foram catalogados.
 

 
Outro evento que serve de termômetro é a Feira Nacional de Artesanato, considerada a maior do gênero na América Latina, promovida anualmente pelo Instituto Centro de Capacitação e Apoio ao Empreendedor (Centro Cape) e a Mãos de Minas, associação que representa cerca de sete mil artesãos de Minas Gerais. A primeira feira, em 1989, reuniu 200 expositores e recebeu 15 mil visitantes. A do ano passado contou com quase nove mil expositores, distribuídos por 1.100 estandes, pelos quais passaram 180 mil pessoas. Os negócios fechados no evento somaram R$ 65 milhões, o que representou crescimento de 140% em relação a 2005. A 19ª edição da feira acontece em novembro e a expectativa é manter a trajetória de expansão. "Esperamos pelo menos R$ 70 milhões em negócios", afirma Tânia Machado, diretora da Mãos de Minas. Segundo ela, dos 12 mil lojistas que devem freqüentar o evento deste ano, 200 virão do exterior.
 

 
Para aumentar exportações, artesãos estão fechando acordos e participando de feiras no exterior. A Mãos de Minas, por exemplo, firmou parcerias para promover o produto em outros países. Nos EUA, montou, junto com a Ecoart, um show room localizado próximo ao Empire State Building, o prédio mais famoso de Nova York. Também se associou a Worldwide, de Nova Jersey, para distribuição de peças a lojistas americanos.
 

 
Na Europa, a parceria foi com a Vitória Régia, sediada em Cintra (Portugal), que se encarrega da distribuição no continente. "Essa estrutura de distribuição é crucial para as exportações, porque os lojistas de outros países exigem uma estrutura mínima de vendas local", afirma Tânia Machado.
 

 
Na busca de clientes externos, os artesãos tem o apoio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), que desenvolve, atualmente, projetos com produtores de Minas Gerais, São Paulo e Ceará, somando quase R$ 10 milhões em investimentos. Os recursos são destinados à promoção comercial, como a participação em feiras internacionais, entre as quais a Gift Fair (Nova York), Tendence (Frankfurt) e Maison & Objet (Paris). "Nosso foco não é só ampliar as vendas externas, mas profissionalizar o artesão e ampliar o número de exportadores do setor", diz Nelma Vieira, da Apex.
 

 
No caso de Minas Gerais, que responde por cerca de 60% das vendas externas brasileiras de artesanato, a parceria entre Apex e Centro Cape vem dando certo. Em 2001, quando foi firmada a parceria, as exportações foram de US$ 10 mil. Em 2007, esse valor já alcançava US$ 1 milhão e a estimativa é de que cresçam 20% neste ano.
 

 
Nessas transações, não estão incluídos os negócios fechados diretamente pelos artesãos, que também crescem. É o caso da Bonecas do Brasil, de Divinópolis (MG), empresa constituída há oito anos pela artesã Stela Máris Rachid Moraes. Suas bonecas de cabaça e biscuit são vendidas na Alemanha, Itália, Portugal e França. Também chegam ao exterior pelas mãos de turistas, que encontram as peças nas lojas dos aeroportos de Salvador, Rio de Janeiro, Brasília e Fortaleza. Das 1.800 bonecas fabricadas mensalmente, pelo menos 30% são exportadas. A linha de bonecas "Carmem", rica em adereços baianos, é a mais demandada no exterior. Exemplares dos outros 11 modelos de bonecas, incluindo as que são montadas com cones plásticos, também têm saída, mas suas cores originais são, normalmente, alteradas. "O lojista estrangeiro gosta de bonecas com a predominância das cores da bandeira brasileira", diz Stela Máris.
 

 
As peças feitas com chifre de boi por Milton Nascimento, de Araguari (MG), já ganharam projeção internacional. Bijuterias, utensílios domésticos, caixas e outros objetos criados pelo artesão mineiro podem ser encontrados em lojas dos EUA, Inglaterra, Portugal, Espanha e Angola. No início de agosto, Nascimento despachou para a Holanda um lote de 300 anéis.
 

 
Uma das empresas mais ativas nas exportações do artesanato brasileiro é a Bio Fair Trade, de Jaboatão dos Guararapes (PE). Neste ano, a empresa despachou três contêineres para a Holanda, com 138.400 peças. No mês que vem, será embarcado outro lote de 32.900 unidades. São itens variados, de presépios a bolsas de palha. "Pretendemos iniciar em breve vendas para a Alemanha", diz Fabiana Dumont, diretora de negócios da Bio Fair Trade - que atua no chamado comércio justo, conceito que designa práticas voltadas a promover o desenvolvimento sustentável de pequenas comunidades de produtores. A Bio Fair trabalha com cerca de 350 artesão de 40 grupos produtivos de Pernambuco e Alagoas e começou agora a comercializar produtos de Minas Gerais e da Bahia. "A demanda internacional é crescente, mas ainda há dificuldades em termos de preços e de adequação às tendências de design dos países importadores", comenta Fabiana Dumont.
 

 
Foi para observar as atuais tendências internacionais que Maria Cristina Carvalho Duarte, artesã de Belo Horizonte, viajou recentemente a Paris para visitar a Maison & Objet, uma das maiores feiras de moda e decoração do mundo. Ela quer tornar suas peças em vidro (fruteiras, castiçais e pratos) conhecidas em outros países. "O investimento na participação em eventos internacionais é alto, mas vale a pena", diz. De seu ateliê saem 360 peças ao mês, compradas por cerca de 100 lojistas no Brasil.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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