Brasileiro come muito e mal, diz IBGE

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O brasileiro não abre mão do feijão com arroz e tem carne no prato, mas combina o trivial com alimentação de alto índice calórico e baixo teor nutritivo - e abusa do sal e do açúcar. É o que mostra a Análise do Consumo Alimentar Pessoal no Brasil, feita pela primeira vez pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em domicílios visitados na última Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2008-2009).

 

O alimento mais ingerido é o café, que lidera a lista da média de consumo diário per capita de itens avaliados. Em média, cada pessoa bebe entre quatro e cinco cafezinhos por dia. O feijão é o segundo, com consumo diário médio equivalente a cinco conchas. Os brasileiros consomem um pouco menos de arroz (uma concha e meia), mas recorrem ao alimento com maior frequência em relação ao feijão.

 

O IBGE pediu a 34 mil moradores de 13,5 mil domicílios que registrassem o que ingeriram em dois dias não consecutivos, exceto água. O arroz foi reportado por 84% em pelo menos um dia, enquanto o feijão apareceu em 72,8% dos questionários. Carne bovina foi relatada por 48,7%.

 

O brasileiro come, em média, mais carne que pão: pouco mais de 63 gramas diários de carne bovina contra 53 gramas de pão de sal, o equivalente a um pãozinho francês. Curiosamente, o maior consumo de carne não está entre os 25% mais ricos, mas na fração intermediária com rendimento per capita entre R$ 571 e R$ 1.089: quase 71 gramas por pessoa. Frango e outras aves são frequentes na mesa de 27%.

 

Se a base de carboidratos e proteínas é satisfatória, o problema está nos acompanhamentos. Só um entre dez brasileiros come os 400 gramas diários recomendados pelo Ministério da Saúde de frutas, verduras e legumes, fontes de fibras. Só 16% reportaram ter comido salada crua.

 

O alto consumo de processados gera ingestão de sódio e gordura saturada acima dos limites saudáveis em todas as faixas etárias. O abuso do açúcar aparece no alto consumo diário de refrigerantes (94,7 ml), sucos e refrescos, mesmo em pó (145ml).

 

"O brasileiro come muito e come mal. Come muito do que não deve e pouco do que deveria", definiu Rosely Sichieri, pesquisadora do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio (Uerj). Ela chama a atenção para a maior concentração do consumo de alimentos como biscoitos recheados, salgados fritos e sanduíches entre os adolescentes, também os que menos procuram itens mais saudáveis.

 

André Martins, técnico do IBGE, lembrou que outros desdobramentos da POF mostraram queda da desnutrição, mas apontavam tendência crescente da obesidade, principalmente entre adolescentes. "Agora vemos a relação disso com a escolha dos alimentos."

 

Calorias demais. O consumo calórico diário médio do brasileiro é de 2.044 kcal. Os homens ingerem mais calorias, enquanto os idosos têm consumo energético mais reduzido em ambos os sexos. Pouco mais de 40% come pelo menos uma vez no dia fora de casa, mas essa fonte de alimentação representa, em média, 16,2% do consumo energético total diário do indivíduo.

 

A pesquisa também mostrou carência quase generalizada. Mesmo os 10% da população de 10 a 13 anos que ingerem mais cálcio não atingem a média diária recomendada, de 1.100 mg. A inadequação está na dieta de mais de 80% em todas as faixas etárias. Também foi de mais de 80% a prevalência do excesso de ingestão diária de sódio, acima do limite de 2.300 mg (o que equivale a meia colher de chá).

 

"O brasileiro passou a comer mal por conta da facilidade do rápido preparo do alimento industrial ", avalia Denise Barros, coordenadora do Centro de Alimentação e Nutrição da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

 

Mais pobres comem poucas frutas e legumes; ricos bebem mais cerveja, diz IBGE

 

Dados são de pesquisa que apura o que a população brasileira come e bebe no cotidiano.


  
Brasileiros de menor renda comem menos frutas e verduras do que a população de maior renda, enquanto esta consome mais cerveja, pizza, refrigerantes e salgadinhos do que os segmentos mais pobres, segundo aponta levantamento divulgado nesta quinta-feira pelo IBGE.

 

Os dados são da pesquisa de Consumo Alimentar Pessoal no Brasil, realizada pela primeira vez pelo IBGE, para estimar o que a população come e bebe no cotidiano.

 

Os resultados, parte da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009, indicaram como a diferença de renda influi sobre a dieta de ricos e pobres.

 

Entre os 25% de brasileiros com menor renda per capita (R$ 241), produtos naturais como arroz, feijão, farinha de mandioca e preparações à base de milho são mais ingeridos que entre os mais ricos, mas frutas e verduras têm participação menor.

 

Nesta faixa, por exemplo, apenas 8,9% dos brasileiros tiveram salada crua no cardápio nos dias da pesquisa, número que pulou para 23,7% na faixa de maior renda.

 

Renda

 

O consumo de frutas e verduras aumenta conforme a renda, assim como o de produtos como leite desnatado e queijo. No caso do último, o consumo é mais do que cinco vezes maior entre os 25% mais ricos.

 

Nesta faixa mais alta de renda (com R$ 1.089 de renda per capita), porém, também há forte presença de alimentos considerados marcadores negativos da qualidade da dieta.

 

Entre os mais ricos, 31,2% tomaram refrigerantes nos dias em que foi realizada a pesquisa (contra 14,4% dos mais pobres); 18,4% comeram salgadinhos fritos e assados (contra 8,6%); e 5,6% tomaram cerveja (contra 1,3%).

 

No geral, o consumo de cerveja e bebidas destiladas é cinco vezes maior entre homens do que entre mulheres.

 

A base para a estimativa foi um levantamento de todo o consumo individual de brasileiros de 10 ou mais anos de idade durante dois dias aleatórios. Eles listaram tudo o que efetivamente comeram e beberam, do chocolate ao cafezinho, em casa ou fora.

 

O café é a bebida mais consumida pelo brasileiro, que toma, em média, mais de 200ml do produto por dia - o equivalente a uma xícara grande.

 

Carências e excessos

 

O consumo médio revelou carências e excessos em larga escala. Quantidades excessivas de gordura são ingeridas por 82% da população, e de açúcar, por 61%. Já em relação ao sódio, mais de 70% das pessoas consomem mais sódio do que o tolerável, confirmando o alto consumo de sal, o vilão da hipertensão.

 

Por outro lado, na dieta do brasileiro há carência de fibras, cálcio e vitaminas. Na população de 19 a 59 anos, o consumo diário insuficiente de cálcio atinge 83% dos homens e 90% das mulheres. Já entre as pessoas com 60 anos ou mais, a carência da vitamina E atingiu 100% para ambos os sexos, e a falta de vitamina D chegou a 99%.

 

Entre os adolescentes (10 a 19 anos), faixa etária em que os problemas do excesso de peso e da obesidade vêm se agravando, os hábitos corroboram a tendência. Quase 50% fizeram uma refeição ou um lanche fora de casa no dia da pesquisa.

 

Entre os itens mais consumidos na rua, eles citaram batata frita, pizza, refrigerantes e salgadinhos fritos, assados ou industrializados.

 


Veículo: O Estado de S.Paulo


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