Avanço mais moderado do PIB reduz risco de inflação

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A forte recuperação do investimento no fim do ano passado ajudou o Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre a crescer próximo a 2,5% sobre o resultado do terceiro trimestre, mas ainda assim a economia brasileira encerrou o ano com um desempenho próximo do zero, segundo as contas feitas pelas consultorias econômicas. Pelas previsões dos analistas consultados pelo Valor, o PIB de 2009 variou entre 0,1% e -0,3%. Se confirmada a queda, será a primeira vez desde 1992, quando o PIB caiu 0,5%, que haverá variação negativa da atividade econômica.

 

O que poderia manter o PIB no terreno positivo, segundo os analistas, seria uma elevação dos investimentos muito superior ao estimado hoje. Os economistas calculam que o aumento dos investimentos foi de "pelo menos" 7% nos últimos três meses do ano passado, superior aos 6,5% registrados entre julho e setembro. Mas, avaliam, "é um dado que pode surpreender para cima". O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga no dia 11 de março os dados relativos à atividade no ano passado.

 

"Esperamos que, ao divulgar os resultados do quarto trimestre, o IBGE também revise, para cima, os indicadores referentes ao segundo e terceiro trimestres", avalia Aurélio Bicalho, economista do Itaú Unibanco. Esta também é a aposta de Júlio Callegari, economista do J.P. Morgan, para quem os dados de 1,1% e 1,3%, do segundo e terceiro trimestres, respectivamente, serão revisados para 1,4% e 1,8%.

 

Ao mesmo tempo, calcula Callegari, o PIB dos últimos três meses de 2009 cresceu 2,4%, com ajuste sazonal, sobre os três meses anteriores, configurando variação anualizada superior a 9%. "A percepção que se fará, então, é de que estávamos crescendo mais forte do que imaginávamos", afirma Callegari, "mesmo que o PIB seja zero".

 

A alta dos investimentos será contrabalançada por uma variação menor do consumo das famílias, graças à combinação entre a retirada dos estímulos fiscais por parte do governo e o consumo já efetuado, que não se repetirá. A LCA Consultores calcula que houve diminuição de 2% para 1% no consumo das famílias, entre o terceiro e o quarto trimestres. O Itaú Unibanco espera alta de 2% na mesma comparação, mas conta com a revisão do dado do terceiro trimestre, que subiria para 2,4%. Para Bicalho, o quarto trimestre serviu para "consolidar a recuperação iniciada em abril, quando deixamos para trás a pequena recessão do pós-crise". Segundo avalia ele, o "carry-over" para 2010 ficará entre 2,7% e 3%, o que significa que, se nenhuma turbulência ocorrer - e nenhum crescimento extra se verificar - ao menos 3% do PIB estão garantidos para este ano.

 

As turbulências mundiais fizeram a atividade despencar cinco pontos percentuais entre 2008 e 2009, mas foram os investimentos os que mais sofreram com o baque internacional. Segundo dados do IBGE, a produção de máquinas e equipamentos, que funciona como indicador dos investimentos, despencou 10,9% no último trimestre de 2008, e 17,9% nos primeiros três meses do ano passado.

 

Houve queda forte também no mercado de trabalho, mas por tempo mais curto e com reversão mais rápida. Os 736,1 mil postos de trabalho perdidos entre outubro de 2008 e janeiro de 2009 foram revertidos nos sete meses até agosto, quando os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) acumularam saldo líquido de 781,8 mil vagas. A recuperação da produção industrial, no entanto, demorou mais a acontecer.

 

Se o consumo das famílias e o mercado de trabalho já estavam reagindo nos primeiros meses do ano, ajudando a puxar a recuperação da atividade a partir do segundo trimestre, foram os investimento em aumento de produção industrial que puxaram o PIB no segundo semestre do ano, avaliam os economistas. A produção de máquinas e equipamentos aumentou 13,3% entre outubro e dezembro, depois de ter crescido 6,5% no terceiro trimestre.

 

"O Brasil deu show no ano passado. É preciso ressaltar que um PIB próximo a zero num ano de crise mundial é algo muito bom", avalia José Júlio Senna, ex-diretor do Banco Central e sócio da MCM Consultores. Para Senna, a ação do governo foi "inegavelmente" bem feita, uma vez que o BC agiu rápido ao liberar os compulsórios e cortar as taxas de juros, e o governo federal foi "certeiro" em isentar de impostos a indústria, "justamente o setor que mais sofreu com a crise".

 

Nas contas da MCM, o quarto trimestre passou por elevação de 2,6% sobre o trimestre anterior, o que caracterizaria crescimento anualizado de 10,8%. Segundo Senna, o consumo das famílias deve continuar a se expandir, mas tende a crescer num ritmo menos elevado que o verificado em 2009, em parte porque os estímulos fiscais e monetários serão retirados. "O consumo foi um fator de sustentação da economia, mas, já no fim do ano, os investimentos voltaram com força e são eles que estão puxando a economia neste começo de 2010."

 

Veículo: Valor Econômico


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