Frigoríficos buscam alternativas a Itajaí

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As enchentes que paralisaram as operações no porto catarinense de Itajaí afetaram as empresas exportadoras de carnes, que agora procuram desviar suas cargas para outros portos brasileiros.
 


Com 70% de suas exportações feitas pelo porto de Itajaí, a Seara, unidade de negócio carnes da americana Cargill, é uma das mais prejudicadas pela paralisação do local. De acordo com o diretor da unidade, Robert Zee, a empresa inicialmente desviou cargas para Paranaguá (PR) e São Francisco do Sul (SC) e agora também está embarcando em Rio Grande (RS). 

 

A suspensão das operações em Itajaí fez com que a empresa deixasse de embarcar contêineres com 8 mil toneladas de carnes de frango e de suíno e ter custos adicionais de R$ 2 milhões até agora. Esses custos referem-se à armazenagem de produto e ao frete para levar as cargas a outros portos e à necessidade de viagens mais longas por causa de estradas fechadas, de acordo com Zee. 

 

O desvio de mercadorias para outros portos, porém, não é uma operação simples, disse ele. "Não consegue de uma hora para outra [embarcar por outro porto] porque depende da disponibilidade de espaço e plugs de energia e disponibilidade de armadores", observou. 

 

Assim, ainda é difícil afirmar quando a empresa conseguirá embarcar as 8 mil toneladas - de um total de 45 mil de carnes (principalmente frango) que exporta por mês a partir de Itajaí, Navegantes e Paranaguá - para seus destinos no exterior. "Vai atrasar (...) Sem Itajaí, não é possível fazer 53 mil toneladas", disse Zee, referindo-se ao volume mensal mais as 8 mil toneladas não-embarcadas. A esperança do executivo é que a situação se normalize em um mês, mas ele admite que ainda "não está claro quando Itajaí voltará a operar". 

 

Além de operar com contêineres em Itajaí, a Cargill também tem um terminal privativo de cargas frigorificadas na cidade, a Braskarne, que embarca principalmente para terceiros. As fortes chuvas em Itajaí também afetaram essa operação: um navio com carga de 6 mil toneladas de carnes de suíno e de frango, com destino à Rússia, está impedido de sair, porque as cheias provocaram o assoreamento do rio Itajaí, explicou Ramiro Mayer, gerente de logística da unidade de carnes da Cargill. Outro navio do mesmo porte espera para atracar. Parada há 15 dias, a Braskarne está deixando de faturar R$ 1,5 milhão, diz Zee. 

 

A Sadia deve ser uma das menos prejudicadas entre as exportadoras de carne. A empresa já havia escolhido Paranaguá como principal local de embarque e mais de 60% de suas cargas saem de lá. Em 2007, inaugurou no porto um armazém frigorificado, com capacidade estática de 8,5 mil toneladas. 

 

De Itajaí estavam saindo de 20% a 25% da produção da Sadia vendida ao exterior. Agora, esse volume está sendo distribuído entre São Francisco do Sul, Paranaguá e Santos. "Estamos trazendo para cá tudo o que o armador permite que seja embarcado aqui", disse ontem em Paranaguá o gerente de operações portuárias da Sadia, Blásio José München, durante evento sobre novo terminal de frigorificados no porto . 

 

Em um mês, a Sadia deve desviar para Paranaguá de 15 mil a 20 mil toneladas de carnes que teriam Itajaí como destino. A empresa não chegou a cancelar embarques, mas em alguns casos haverá atrasos de duas semanas. A Perdigão também terá de desviar cargas, e fontes do setor informaram que a empresa perdeu muitos contêineres que estavam carregados, prontos para o embarque, e foram atingidos pelas enchentes. Procurada, a Perdigão não comentou a informação. 

 

Como Itajaí é o maior terminal de congelados do país, todos os exportadores de carnes têm operações lá e, como terão de procurar outros destinos, os custos com logística vão aumentar. 

 

Em caráter emergencial, o porto de Paranaguá abriu dois de seus 19 berços de atracação para navios de contêineres que iriam para Itajaí, com desconto de 15% nas tarifas. Em contrapartida, os operadores têm de aderir ao programa "porto solidário" e destinar os 15% de desconto e outros 15% para a compra de cestas básicas e utilidades domésticas para trabalhadores portuários de Itajaí. Ou seja, as tarifas para esses navios serão de 115%, e cerca de R$ 200 mil devem ser arrecadados em doações por mês com a medida. Os dois berços cedidos são de importação de fertilizantes e exportação de grãos, com movimento fraco nesta época. 

 

Conforme o diretor do Sindicarnes-SC, Ricardo Gouvêa, é "muito complicada" a situação de logística que as agroindústrias estão enfrentando com a parada do porto de Itajaí. "O trabalho de logística está sendo muito grande. As empresas estão distribuindo as cargas nos portos de Imbituba (SC), Paranaguá (PR), Rio Grande (RS) e Santos (SP). Mas em alguns locais a fila está grande, como em Paranaguá". 

 

Para o executivo, os problemas de logística aliados à queda de consumo no mercado interno e recuo das vendas ao mercado externo pela crise internacional deverão levar a uma redução da produção pelas agroindústrias. 

 

Segundo o presidente da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), Alcântaro Corrêa, que esteve reunido com a direção dos portos de Navegantes e São Francisco do Sul, o volume de embarques pelo porto de Itajaí não tem como ser suprido por outros portos catarinenses, sendo necessário o uso de portos em Estados vizinhos, o que encarece o frete. "Neste momento sempre existem os aproveitadores", disse sobre o aumento de custos, preferindo não estimar um valor. "Estamos negociando os preços porque o mais importante agora é manter os clientes lá fora". 

 

Além do porto de Itajaí, o porto de Navegantes, localizado de frente para Itajaí, também está parado porque utiliza o mesmo canal de acesso para os navios e que precisa receber dragagem. A expectativa é que os trabalhos de dragagem no local sejam iniciados na próxima semana e sejam concluídos até o fim de dezembro, podendo Itajaí operar parcialmente e Navegantes voltar a operar com sua capacidade total. 

 


Veículo: Valor Econômico


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