A ordem é de cautela para os produtores de frangos. Já à espera de certa desaceleração do consumo de carne da ave, sobretudo no mercado externo, por conta dos reflexos da crise financeira internacional, dirigentes do setor recomendaram a toda a cadeia, na semana passada, que tomem medidas imediatas para diminuir a produção.
A orientação é de reduzir em 15% o volume do alojamento mensal de pintos de corte, atualmente de 485 milhões de cabeças, já a partir de dezembro. Segundo o presidente da União Brasileira de Avicultura (UBA), Ariel Mendes, a recomendação é começar a tomar medidas desde já para alojar até teto máximo de 420 milhões de cabeças por mês no primeiro trimestre de 2009. "Havíamos estimado redução de 10% nos alojamentos um pouco antes da reunião desta semana. Mas após considerar também as expectativas das exportações, houve reavaliação e alteramos a recomendação para redução de 15%", comentou Mendes na semana anterior. Durante o encontro do setor, estiveram presentes representantes da UBA, Associação Brasileira dos Exportadores de Frangos (Abef) e de toda a cadeia produtiva.
Segundo o presidente da UBA, os exportadores recomendam redução de 30% do volume produzido destinado para exportações. Análises feitas pelas empresas indicaram que há retração em alguns importantes mercados internacionais e uma escassez preocupante do crédito para a exportação - embora já tenham sido tomadas medidas oficiais. Esse cenário resulta em expectativas negativas quanto ao primeiro trimestre de 2009.
O Japão tem estoques do produto e para as novas negociações, a partir de janeiro do ano que vem, os exportadores esperam alguma redução de encomendas. Outros mercados que sinalizam desaceleração são a Rússia, onde já se observa redução de encomendas, e os países do Oriente Médio, além da Venezuela - os últimos destinos devem reduzir compras por conta da redução dos preços do petróleo, pois essas regiões são importantes exportadoras. De acordo com os exportadores, no caso do crédito para vendas externas, apesar das medidas oficiais de apoio a essas linhas, infelizmente o volume necessário às operações não se realizou ainda, o que tem dificultado a concretização de negócios no mercado externo.
Em relação ao mercado interno, ainda não há estimativas definidas sobre os efeitos da crise. "Não há estimativa clara. O que já sabemos é que durante o primeiro trimestre o consumo de carne de frango cai tradicionalmente por ser época de férias e as pessoas estarem um pouco mais endividadas depois das festas de final de ano", comenta Mendes.
"Neste momento, notou-se alguma redução do consumo nos supermercados, entre 2% ou 3%", completou. Segundo o dirigente, a redução recomendada, de 15%, é bastante significativa. Trata-se de alternativa para que os produtores ajustem oferta e demanda sem enfrentar problemas mais graves. Mendes lembra que o setor passou por cortes similares recentemente. Em 2006, por conta da gripe aviária que atingiu a União Européia, a produção nos alojamentos chegou a ser reduzida em 20% no País. Entre as medidas tomadas para o corte estão o aumento, em cerca de cinco dias, do período chamado de vazio sanitário (prazo entre os alojamentos); além do descarte das matrizes ocorrer quatro ou cinco semanas antes do período normal, que é de 68 semanas.
Os preços do frango vivo ainda estão reagindo por enquanto, por conta das festas de fim de ano. Em São Paulo, o quilo esteve cotado a R$ 1,80 na sexta-feira, 6% mais do que há duas semanas, segundo a Safras & Mercados. A tendência é de queda nas cotações para o início de dezembro, quando os varejistas terão formado estoques.
Veículo: DCI