A BDO Trevisan fará uma nova auditoria na Sadia, a respeito das perdas com derivativos que levaram a companhia a um prejuízo de R$ 777,4 milhões no balanço do terceiro trimestre - a maior perda trimestral da história da empresa. A decisão foi tomada na assembléia de acionistas da companhia realizada ontem, conforme solicitação da Previ, Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil.
O relatório da nova auditoria será complementar ao da KPMG, que já foi encaminhado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A nova inspeção deverá ser concluída em 90 dias, quando haverá outra assembléia para que, a partir das conclusões do documento, os acionistas decidam sobre a promoção ou não de uma ação de responsabilidade civil contra os administração da Sadia.
A ação pode ser movida por qualquer acionista ou grupo de investidores que detenham, no mínimo, 5% do capital total da empresa. Caso aprovada - em assembléia ou por decisão de acionistas -, a ação corre em favor da companhia, para que as perdas sejam ressarcidas à empresa. A Previ tem condições de, sozinha, adotar tal iniciativa. Procurada, a fundação não comentou o resultado do encontro de ontem.
Anteriormente, a Previ já havia informado que essa decisão dependerá das informações obtidas sobre o ocorrido.
Ontem, Sérgio Rosa, presidente da Previ, limitou-se a reiterar, durante evento com fundos de pensão no Rio de Janeiro, que espera explicações sobre as atitudes dos controladores da Sadia. "Esperamos que a empresa tenha informações positivas para dar, explicações satisfatórias", disse ele. "Qualquer executivo está sujeito a tomar decisões dentro de uma margem aceitável e errar. Nesse caso tudo indica que foram ultrapassados certos limites de risco e o que queremos são as explicações da empresa e ouvir como a companhia vai sair dessa situação", acrescentou.
A ata da assembléia realizada pela Sadia, divulgada na tarde ontem, não traz detalhes sobre as explicações dadas pelos executivos da companhia aos acionistas. O registro encaminhado à autarquia se limita a informar que os esclarecimentos a respeito da política de risco da empresa foram prestados pelo atual diretor de relações com investidores da Sadia, Welson Teixeira, e outras informações foram dadas pelos conselheiros Roberto Faldini e Cássio Casseb.
José Marcos Konder Comparato, conselheiro e acionista da empresa, apresentou documentação à assembléia. A ata não esclarece nem tema nem conteúdo na manifestação de Comparato.
Durante a assembléia, foi retirada da pauta a solicitação da Previ sobre esclarecimento de negociações com as ações da Sadia antes do anúncio sobre o prejuízo com derivativos. Na época, houve rumores de vazamento de informações. Segundo a ata, o tema foi retirado pelos acionistas "por entenderem tratar-se de informações privadas de cada acionista, legalmente não passíveis de divulgação à assembléia geral". Tal decisão contou com manifestação favorável da própria Previ, que pediu o esclarecimento.
A fundação segue mantendo esforços para tentar reunir participação de 5,0% do capital da Aracruz, para adotar iniciativa semelhante na empresa. A companhia de papel e celulose teria perdido cerca de US$ 2,5 bilhões com derivativos superalavancados de dólar. Até o começo dessa semana, de acordo com pessoas próximas aos trabalhos, faltava cerca de 0,5% do capita total para inteirar o mínimo necessário para o pedido de assembléia. (* Valor Online)
Veículo: Valor Econômico