Pouco depois de assumir o comando da Hewlett-Packard (HP) no início de 2005, Mark V. Hurd percebeu que, apesar de ser uma das principais fornecedoras de tecnologia do mundo, a HP tinha um embaraçoso e debilitante problema tecnológico.
Não era fácil ter uma idéia do que ocorria na empresa inteira. Cada unidade da gigante da informática de Palo Alto, Califórnia, tinha seu próprio sistema para obter as informações sobre áreas críticas, como estoque, custos de componentes e despesas de marketing. Nenhum sistema central juntava todos os dados no que Hurd gostava de chamar de "versão única da verdade".
Hurd desenvolveu sua paixão por essa busca no tempo em que administrava a divisão Teradata da NCR. A Teradata foi pioneira de uma tecnologia chamada armazenamento de dados, que permite aos gestores obter um quadro do estoque, produção e marketing e vendas da empresa. A NCR tornou a unidade independente em 2007.
Diante dessas informações, os funcionários podem ver tendências antes ocultas. Essa tecnologia ajuda empresas como a Wal-Mart Stores a determinar quais as cores de camisa preferidas pelos moradores de Cincinnati, informa à Best Buy quais ofertas deve acenar on-line em meados de março e indica à Wynn Resorts quais jogadores frequentes devem receber tratamento especial.
Para Hurd, cujo sucesso na Teradata conquistou para ele o posto de diretor-executivo da NCR, o armazenamento de dados é uma ferramenta vital para deixar o negócio eficiente. Ele tinha poucas opções para resolver o problema de informações da HP: comprar os produtos da Teradata, adquirir integralmente a Teradata ou fazer a HP construir sua própria tecnologia de armazenamento.
Assumindo um grande risco, escolheu a terceira opção, incentivando os técnicos da HP a fundir a tecnologia de décadas herdada da aquisição da Compaq com o software de análise de dados da HP e criar o NeoView.
Hurd se recusou a conceder entrevista sobre a estratégia de gerenciamento de dados da HP, mas o diretor da área de informações da empresa, Randy Mott, disse: "depois de muitas análises, Mark chegou à conclusão de que não tinha as informações que necessitava para administrar a empresa do modo como deveria. Então a determinação foi que teríamos de obter a tecnologia para resolver isso".
Depois de testar o sistema NeoView dentro da HP, Hurd decidiu vendê-lo para os clientes - declarando, essencialmente, guerra ao seu ex-patrão.
A HP tem uma presença pequena no mercado de armazenamento de dados, que é dominado pela Teradata, IBM, Oracle e Microsoft, além de pequenas empresas. Nos últimos 18 meses, a HP conseguiu vender apenas 30 dos seus sistemas, segundo Donald Feinberg, analista da empresa de pesquisa Gartner.
Alguns especialistas na área dizem que os sistemas da HP, baseados em tecnologia cara e mais antiga, são datados e muito dispendiosos. Os sistemas NeoView podem custar mais de US$ 10 milhões, o que coloca a HP no lado errado de uma tecnologia que tem declinado de preço.
Mas a HP espera que a recente compra da Electronic Data Systems (EDS), por US$ 13,9 bilhões, mude a situação. O alcance da EDS pode levantar o negócio de consultoria de armazenamento de dados da HP. A empresa está comunicando para os clientes corporativos que sua tecnologia de armazenamento de dados, combinada com a renovação dos processos gerais de dados conduzida pela EDS, pode lhes economizar muito dinheiro.
Além disso, a HP indica que planeja produzir sistemas NeoView para computadores mais baratos e pode alugar espaço nos seus próprios centros de dados. O modelo de locação vai complementar algo que a EDS tem se especializado há anos: gerenciar centros de dados para um grande número de empresas.
Na presente situação econômica difícil, argumenta a HP, as empresas necessitam de seus produtos mais do que nunca. "Esse não é um brinquedo, é o mais importante de tudo", disse Mott.
A Bon-Ton Stores, uma rede de varejo que comprou a tecnologia da HP, tem perto de 1 mil de seus 32 mil funcionários fazendo pesquisas no banco de dados NeoView. A Bon-Ton coleta informações de 13 mil caixas registradoras e as transfere ao banco.
"Estamos utilizando ferramentas para saber como aproveitar melhor cada dólar que gastamos na corporação", disse o diretor de informações Jim Lance.
O avanço da HP no mercado chega quando outras empresas de tecnologia estão também reconhecendo a importância cada vez maior do armazenamento de dados. A Oracle e IBM renovam produtos relevantes, enquanto novas empresas oferecem hardware mais barato e veloz direcionado para tarefas especiais. Os analistas acreditam que a SAP quer ampliar seu alcance no mercado, possivelmente por meio de uma aquisição. A Microsoft também sinalizou sua intenção de levar essa tecnologia para as massas com a compra da Datallegro em julho.
A Teradata elogia a HP por apresentar uma mensagem pertinente no momento apropriado. "O que Mark e Randy estão fazendo é a coisa certa", disse o diretor de tecnologia Stephen Brobst, que afirma, porém, que a tecnologia da HP é muito cara e não comprovada. "Faz provavelmente seis meses que eles não fecham um negócio", ele disse.
A proposta da HP de armazenamento de dados se baseia na tecnologia de banco de dados originalmente desenvolvida pela Tandem Computers, que a HP adquiriu em 2002.
Mas a tecnologia NonStop nunca foi testada em aplicativos de armazenamento de dados quando a HP primeiro decidiu entrar no mercado. Depois de passar meses trabalhando no projeto, a HP organizou um banco de dados unificado para 30 mil funcionários utilizarem para obter informações instantâneas sobre cada aspecto da atividade da empresa. Agora a HP está usando a experiência de converter suas próprias operações como ponto de venda para clientes.
E em novembro, a HP escolheu uma ex-executiva da Teradata, Kristina Robinson, para ser a diretora de uma nova unidade, a Business Intelligence Solutions.
Sua tarefa será vender essa tecnologia cara num dos mais difíceis períodos econômicos da história recente, e desenvolver esse novo negócio.
Veículo: Gazeta Mercantil