Companhias mantêm compasso em TI

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A despeito das incertezas provocadas pela crise econômica internacional, grandes compradores de tecnologia da informação (TI), como bancos e operadoras de telefonia, pretendem manter seus investimentos na área em 2009. O Bradesco planeja aplicar R$ 2 bilhões em TI, o mesmo porte de investimento deste ano. No Banco do Brasil, os planos também seguem inalterados para o ano que vem, com R$ 1,2 bilhão reservados para gastar com tecnologia. Há metas ainda mais agressivas, como a da operadora Claro, que pretende ampliar seu orçamento de TI, de valor não revelado, em 40%. 
 
 

A lista inclui companhias de vários outros setores. Grupos como América Latina Logística (ALL), Braskem, Cyrela, Accor, Pão de Açúcar e VR informaram ao Valor que, com ou sem crise econômica, a expectativa é de que os projetos de TI serão executados sem grandes alterações ao longo de 2009. 

 

"Com TI não há desperdício, não jogamos dinheiro fora. Tudo o que se consome é absolutamente necessário", diz Laércio Albino Cezar, vice-presidente do Bradesco. Dos gastos planejados para o ano que vem, apenas 35% dos recursos serão usados para cobrir custos operacionais. A maior parte da verba será aplicada em novos projetos. "Temos um cronograma de longo prazo e vamos cumprí-lo, independentemente da crise", afirma o executivo. 

 

Na Claro, Ricardo Santoro, diretor de TI, garante que não houve nenhum corte nos planos. "Até metade de 2009 não vejo alteração nos projetos estimados para o ano", diz. Há dois bons motivos para que a previsão seja mantida, segundo ele. O primeiro é a construção do novo centro de dados da empresa, na cidade de Campinas (SP), projeto que será concluído em meados de 2010. O segundo é a manutenção do crescimento. Em agosto, a Claro tirou o segundo lugar em participação de mercado da TIM e, segundo o portal Teleco, lidera as adições líquidas em 2008, com 5,4 milhões de celulares. "O maior foco (dos projetos de TI) está nas vendas e no atendimento ao usuário", comenta Santoro. 

 

As razões para manter o ritmo dos investimentos podem variar de empresa para empresa, mas um dos pontos em comum, observam analistas, é que muitos projetos são de longo prazo e estão ligados diretamente ao negócio central das companhias. Paralisá-los pura e simplesmente poderia significar não só a perda do investimento já feito, como o risco de comprometer a competitividade da empresa no futuro. 

 

"Não vamos parar de investir porque podemos perder boas oportunidades na hora da retomada da economia", diz Rogério Pires, gerente geral de TI da incorporadora Cyrela. Uma das ênfases da área, afirma o executivo, é diminuir os seus custos em pelo menos 20%, para não ter que cortar investimentos. A lista de projetos em andamento inclui a implantação de programas de gestão e de análise de negócios, além de mobilidade e comunicações unificadas. Para isso, Pires já renegociou contratos de terceirização de impressão e tarifas de telecomunicações. 

 

A avaliação de executivos e analistas é de que em vez de paralisar os projetos de tecnologia da informação (TI), a crise econômica vai redirecionar boa parte das ações para alvos como diminuir as despesas e ganhar eficiência. "O mercado estava em ritmo acelerado, não havia um foco na redução de custos, mas em preparar o negócio para crescer", comenta Pedro Bicudo, da TGT Consult. 

 

Na prática, isso significa que as empresas não se importam em gastar mais em TI agora se tiverem garantias de que os custos operacionais - e não só na divisão de TI - serão reduzidos em um prazo mais longo. "Vimos isso acontecer em outros momentos de crise. Muitas vezes o que acontece é um aumento de gastos com tecnologia para que as empresas consigam reduzir custos onde precisam", avalia Ivair Rodrigues, diretor de pesquisas da IT Data. 

 

No grupo Pão de Açúcar está em andamento a substituição do sistema de gestão empresarial, que havia sido feito internamente, por pacotes da Oracle e da SAP. A migração, que será finalizada em janeiro, dará início a um segundo ciclo de investimentos em tecnologia e logística, que se estenderá pelos próximos três anos. "Nesse período serão investidos cerca de R$ 150 milhões", diz Hugo Bethlem, vice-presidente de TI do grupo varejista. 

 

O Pão de Açúcar é exemplo de um grande número de empresas que, em 2009, pretende investir em seus sistemas de administração. "É um processo contínuo", diz Thaís Falqueto, gerente de TI da ALL, que se prepara para atualizar seu banco de dados, fornecido pela Oracle, e ampliar o alcance do sistema de gestão, comprado da SAP. Dona de uma das maiores redes ferroviárias da América Latina, a ALL prevê gastar R$ 15 milhões com TI no ano que vem, o mesmo montante de investimento deste ano. "Não estamos falando de custeio operacional, essa verba será aplicada apenas em projetos novos", comenta Thaís. 

 

A ALL passou este ano debruçada sobre sistemas que ajudam a melhorar a produtividade de seus maquinistas. "Testamos medidores de vazão de combustível, melhoramos nosso computador de bordo e desenvolvemos sistemas para evitar descarrilamento", afirma a executiva. "Em 2009, a área de TI vai apoiar a gestão de pátios e vagões." 

 

No Banco do Brasil (BB) - que acaba de fechar a aquisição da Nossa Caixa e tem outras operações em vista -, a atenção estará voltada a projetos capazes de aumentar a eficiência operacional e reduzir custos, como a adoção de gerenciamento eletrônico de documentos (GED). "Trabalhamos focados na utilização eficiente de TI, isto é, fazendo mais com o mesmo", explica Glória Guimarães, diretora de tecnologia do banco. De acordo com ela, o orçamento de TI - fechado entre agosto e setembro - não deverá sofrer alterações, pois os gastos já foram previstos de maneira bem enxuta. A expectativa é manter o mesmo patamar de 2008, na casa de R$ 1,2 bilhão. 

 

No menu dos fornecedores de TI, algumas tecnologias devem ter maior destaque em 2009. Algumas delas estão no alvo de companhias como a petroquímica Braskem, que, de 2005 para cá, injetou cerca de R$ 180 milhões para reorganizar a área de tecnologia, após várias aquisições. Segundo Stefan Lepecki, diretor de TI da Braskem, a empresa pretende priorizar a virtualização de seus servidores, além de expandir seus sistemas de comunicação de voz via internet (IP), que atualmente funcionam em apenas um quarto da companhia. "Agora precisamos cuidar da nossa infra-estrutura para reduzir custos operacionais", diz Lepecki. 

 

A consolidação de servidores também está na agenda do Bradesco e da Accor Services, divisão do grupo Accor. "Vamos gastar cerca de R$ 15 milhões com tecnologia neste ano e devemos manter esse orçamento para o ano que vem", diz José Rubens Spada, diretor de TI da Accor Services. A empresa, que hoje tem 100 servidores instalados, deve reduzir este volume em 20%. 

 

A consolidação será ainda mais agressiva no Bradesco, que administra um arsenal de 1,7 mil servidores. Em 2009, a meta é reduzir o número dessas máquinas pela metade, dando lugar a equipamentos com maior potência e que ocupam menos espaço. Também está na pauta a conclusão do sistema empresarial do banco, um conjunto de programas que apenas na área de contabilidade armazena 2 milhões de lançamentos por dia. "São projetos com data para acontecer e que serão realizados no ano que vem", diz Cezar, do Bradesco. 

 

Veículo: Valor Econômico


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