Bandeira verde

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Mudanças no mercado de cartões são comparadas às ocorridas na telefonia: com mais operadoras, cresce a competição e todos ganham.

 

   
Este é um ano de grandes mudanças e muitos desafios para o setor de cartões de crédito. A abertura da atividade de credenciamento, que se dará oficialmente a partir de amanhã, quando acaba o contrato de exclusividade entre a credenciadora Cielo e a bandeira Visa, deverá funcionar como um forte estímulo ao próprio crescimento do setor. A novidade também inclui a aceitação de diferentes cartões, de diferentes bandeiras, por todos os terminais de processamento, que são as máquinas alugadas aos lojistas. Espera-se, com isso, o aumento generalizado da concorrência, com a entrada de novas credenciadoras e também de novas bandeiras para disputar um mercado que cresce a taxas de cerca de 20% por ano e que deve movimentar R$ 534,74 bilhões em 2010, com 7,2 bilhões de transações de crédito e débito, conforme estimativa da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs).

 

Estão em discussão ainda a regulamentação do setor, que por sua vez se propõe a autorregular-se, e a uniformização e normatização das tarifas dos cartões pelo Banco Central, como aconteceu com as tarifas bancárias.

 

Tudo isso está sendo avaliado como muito positivo para a evolução dos negócios pelas principais credenciadoras e bandeiras com operação no Brasil. "Esses movimentos são salutares para o período de maturidade da indústria de cartões e o reflexo final será sentido pelo lojista e pelo portador. Muita coisa está mudando para melhor", define o presidente da Abecs, Paulo Rogério Caffarelli.

 

As lojas, que costumavam pagar mais de um aluguel por máquinas de bandeiras diferentes, agora têm a opção de ficar ou não com o mesmo volume de credenciadoras, também chamadas de adquirentes, já que todas vão poder oferecer vários tipos de cartão.

 

Esse benefício, nota Caffarelli, pode ser transferido para os preços das mercadorias. E mesmo que isso não aconteça, a redução de custo em si já é um fator que deve pesar na ampliação da aceitação de cartões pelo comércio, resultando em mais transações e em popularização maior desse meio de pagamento. Sem contar que as empresas vão se empenhar ainda mais na conquista de novos clientes.

 

No fim, é consenso entre as empresas: todos ganham. No horizonte, a sustentar tanto otimismo, estão o mercado potencial brasileiro e as exuberantes taxas de crescimento do país. Se elas se mantiverem em 5% ao ano, o presidente da Abecs calcula que até 2020 haverá mais 100 milhões de cartões em circulação, o equivalente à população que hoje não tem conta bancária somada aos novos clientes. Hoje o total é estimado em 120 milhões.

 

A Cielo (ex-VisaNet) não reclama por deixar de dividir apenas com a Redecard (credenciadora da MasterCard) cerca de 90% do mercado. A partir de 1º de julho, passa a operar também com a MasterCard e várias outras bandeiras. "A entrada de um novo player provoca de imediato a aceleração da expansão dos meios eletrônicos de pagamento, pois o esforço para atingir mais estabelecimentos será maior", diz Marcos Grodetzky, vice-presidente de finanças e de relações com investidores da Cielo.

 

Além disso, acrescenta, há um universo de lojistas a ser conquistado. Só a Cielo, hoje com 1,7 milhão de estabelecimentos credenciados, tem afiliado uma média de 300 mil novos varejistas por ano nos últimos três anos. Isso sem falar nos segmentos hoje visados pelas empresas de cartão, como saúde, educação, transporte público e pagamento de impostos. "O crescimento do mercado irá compensar a possível perda de participação que as credenciadoras venham a ter", prevê Grodetzky.

 

No primeiro trimestre, a Cielo registrou 927,6 milhões de transações com cartões de crédito e débito, quantidade 17,6% superior à observada no mesmo período do ano passado, elevando o volume financeiro dessas transações para R$ 58,8 bilhões, alta de 23,2%.

 

A Redecard, que apesar de não ter contrato de exclusividade com a MasterCard, era a responsável pelo credenciamento da bandeira, agora vai acrescentar a Visa às 17 outras com que já opera, entre as quais Diners, Aura e Hipercard. "Comparo esse movimento de mudanças com o que aconteceu na telefonia móvel: mais operadoras, mais clientes, maior número de operações, maior tráfego, preços mais competitivos, mais inovações tecnológicas e crescimento da indústria como um todo", diz Roberto Medeiros, presidente da Redecard. "Competição é bom para todo mundo. Gera novos serviços e novos empregos."

 

Medeiros acredita que é possível dobrar o uso de cartões no país em dez anos, considerando-se que ele atinge apenas 22% do consumo das famílias, em comparação a 45% nos EUA. A Redecard tem 1,4 milhão de estabelecimentos credenciados e em 2009 registrou R$ 148 bilhões em faturamento com operações de crédito e débito, ante R$ 125 bilhões em 2008. Entram nessa conta as operações com os cartões do Bolsa Família e os vales-refeição da Sodexo.

 

Devem engrossar o leque de credenciadoras as grandes instituições financeiras, como o Banco Santander, que desde janeiro é parceiro da empresa gaúcha de tecnologia GetNet, para atuar na captura e processamento de operações com cartões. O Serviço de Adquirência Santander já está credenciando estabelecimentos comerciais para aceitar cartões da bandeira MasterCard e é provável que também passe a operar em breve com a Visa.

 

Presente em 200 países, com 1,8 bilhão de portadores, a Visa não revela dados sobre o Brasil mas também encara com otimismo as mudanças no mercado brasileiro. "Estamos muito contentes com essa abertura, que vai proporcionar mais transações Visa no mercado", diz Rubén Osta, diretor geral da Visa no Brasil. "As mudanças vão levar a mais concorrência no ponto de venda. Os estabelecimentos vão ter mais opções de adquirentes e, com isso, mais estabelecimentos vão poder aceitar os cartões Visa."

 

Para o executivo, a empresa não tem o que temer com a possibilidade da entrada de novas bandeiras no mercado brasileiro. "Nosso principal concorrente são o cheque e o dinheiro, que hoje somam 80% dos meios de pagamento", argumenta. Segundo ele, para a bandeira, o mercado brasileiro é um dos mais importantes, tanto em crescimento quanto em potencial. "Para se ter uma ideia dessa importância, depois dos EUA, o Brasil é o mercado em que a Visa mais investe para fazer com que cresça a taxas ainda maiores", diz Osta.

 

Esse potencial tende a aumentar quando se olha para os consumidores que estão nas camadas de renda mais baixa, hoje as mais beneficiadas com o aumento de poder aquisitivo. A tendência de migração de famílias das classes D e E para a classe C, como fruto do crescimento da economia e da redução da pobreza, produziu mudanças rápidas no padrão de consumo dessa faixa da população. "Com aspirações de consumo cada vez mais parecidas com as das classes A e B, a classe C é também a que tem mais intenção de financiar suas compras", diz Grodetzky.

 

Essa faixa da população ganha importância, uma vez que de cada dez pessoas com vencimentos de até R$ 1,5 mil mensais, apenas duas fazem compras com cartão. Com forte concentração no Nordeste, ela já engrossou os números dos cartões do Bolsa Família, transações capturadas pelas máquinas da Redecard, assim como dos cartões alimentação e refeição. "O mais importante é elas serem bancarizadas, o que vem acontecendo", diz Roberto Medeiros.

 

"Temos uma estratégia de inserção de todas as classes econômicas em nossos cartões. Para essa faixa da população, criamos produtos e serviços específicos, como os cartões pré-pagos", diz Rubén Osta, da Visa. Para empresas voltadas a esse segmento, não poderia haver momento melhor, como é o caso da Sorocred, que deve chegar a 15 milhões de transações neste ano. Com um público formado em 95% pelas classes C, D, e E, a bandeira que nasceu em Sorocaba (SP) fechou contrato com a Redecard e a partir do segundo semestre será aceita em todo o país.

 

Nesse novo ambiente, além de buscar a expansão nos serviços convencionais, as empresas vão procurar diversificar sua atuação. No caso da Cielo, segundo Grodetzky, será reforçada a aposta na captação de clientes e no lançamento de produtos e serviços exclusivos. "Com isso, a companhia continuará focando nas mesmas estratégias que a transformaram na maior empresa de adquirência da América Latina e a quinta do mundo."
 

 

Veículo: Valor Econômico


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