Holanda prioriza longevidade e sólidos no leite

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A raça Holandesa, no país de origem, se ajusta para ter vacas cada vez mais longevas, de tamanho médio e repetidas lactações, com leite apresentando índices elevados em sólidos

 
 
Em um país como a Holanda, onde o número de vacas leiteiras com mais de 100 mil kg de produção passa de 11 mil fêmeas, o fator volume parece não ser a principal preocupação entre seus produtores há algum tempo. Por isso mesmo, a meta da maioria deles é hoje praticamente comum: obter um leite com alto índice de sólidos a partir de animais longevos, ou seja, produtivos por cinco, seis ou mais lactações. Para tal missão, dispensam à reprodução cuidados específicos, valorizando cada quesito que traduza mais proteína, gordura e maior vida útil às vacas em produção.

 

A proposta é unânime e pode ser observada em qualquer propriedade leiteira visitada ou então no trabalho desenvolvido pelas centrais de inseminação. Enfim, o que se busca é atender ao mercado, onde se tem numa ponta a indústria de laticínios remunerando por sólidos - € 2 por kg de proteína; € 0,7 por kg de gordura; menos € 0,06 por litro de leite - e um contexto de criação, no qual a reposição é cara - € 1.800 por novilha -, e o uso de mão-de-obra é quase proibitivo, já que um empregado não custa por menos de € 3 mil por mês.

 

Diante disso, o foco recai sobre os fatores de eficiência no processo produtivo. No Quadro 1, é possível conferir a evolução de alguns itens no período entre 2001 e 2007, quando o número de produtores caiu de 28 mil para atuais 21.170; o número de vacas, de 1,5 milhão para 1,4 milhão; enquanto a produção subiu de 11,5 bilhões para 12 bilhões de litros, mesmo que reprimida pelo regime europeu de cotas. Todavia, por trás desta inversão ganha destaque a evolução genética que elevou a média de 9.135 kg por vaca/ano para 9.722 kg, o que traduz um ganho em produção que

 

Um bom exemplo nesse sentido pode ser visto no sudoeste do país, em Beers, onde a família Hermanussen cria seu rebanho Holandês Vermelho e Branco. Eles foram um dos principais destaques da NRM 2008 (veja o box), ao terem a vaca "Barendonk Wilma 198" apontada como campeã na categoria jovem. A fêmea é representante de uma linhagem que tem a matriarca "Wilma 64", de 15 anos, ainda em produção e parida há dois meses. Em junho último, sua produção acumulada passava de 155 mil kg, com 4,25% de gordura e 3,51% de proteína. Só de sólidos, o total produzido ao longo da vida batia em 12 mil kg.

 

Eric, o dono do rebanho, justifica a sua escolha pela variedade HVB devido à força dos animais e composição do leite. Esses mesmos predicados são buscados pelos compradores de seus animais, que os criam puros ou cruzados com HPB. Sua cota é de 1,300 milhão kg de leite/ano, com 4,10% de gordura como referência. No entanto, no ano passado, teve como média 4,27% de gordura; e de proteína, 3,48%, em lactações de 361 dias. "Trata-se de um desafio, pois a cada ano, temos ampliado em 10 dias as lactações, sem diminuir o índice de sólidos", diz Eric.

 

A média por lactação dos Hermanussen no ano passado foi 11,214 kg. Neste ano, está em torno de 11,240 kg; em 2006, era de 10.983 kg, e em 2005, de 10.442 kg. A evolução tem como base principal o trabalho genético, apoiado por ajustes constantes feitos pela família no manejo e na alimentação de um rebanho inteiramente registrado e controlado. Atualmente, o rebanho é constituído de 130 vacas, que produzem 4 mil kg de leite/dia, mais 86 bezerras e novilhas. Sua preferência genética recai em touros como "Classic", "Kian", "Reno", "Stadel", entre outros. A Holanda concentra o maior rebanho de HVB do mundo, com cerca de 300 mil vacas.

 

A ordenha é automática, feita por um sistema utilizando um robô, pelo qual a retirada do leite ocorre de forma espontânea, mas inteiramente controlada. Eric conta que tal prática está completando três anos, e ele está muito satisfeito. "Deixa a família livre para outras tarefas", cita. As vacas mantidas num free-stall dispõem do espaço reservado ao equipamento todas as vezes que sentem necessidade de se livrar do leite produzido. Como recompensa, recebem ali uma dose de concentrado fornecida de acordo com sua média de produção. Tais informações são transmitidas por um transponder que levam ao pescoço, o qual registra todas suas ações.

 

Longevidade é priorizada na fazenda - O robô para ordenha, cotado em € 110 mil, é utilizado atualmente por 22 mil produtores na Europa. "Como a grande maioria não tem empregados, querem se livrar da ordenha a qualquer custo", diz Eric. Na prática, o investimento compensa, pois a eficiência se comprova no operacional, ao se observar vacas bem adaptadas à rotina, inclusive, se dispondo a esperar sua vez para tirar o leite numa ordenada fila. O robô se incumbe de preparar a dieta, higienizar os tetos e colocar as teteiras. Faz também a coleta de amostras do leite para análise e aponta possíveis problemas com sua composição. Sua disponibilidade é de durante 24 horas por dia e as vacas o utilizam 2,9 vezes ao dia na fazenda Barendonk.

 

Os avanços tecnológicos estão sintonizados com os avanços genéticos. Na Holanda, 80% das vacas têm controle leiteiro e 100% das vacas são registradas. "A identificação dos animais é mais precisa do que a das pessoas", ilustra Karel Fantshalm, gerente de exportação da CVR, a principal central de sêmen do país, detendo 85% do mercado. Conta que seu país é diferenciado no apuramento genético aplicado às raças leiteiras. E dá exemplo disso: "A longevidade tem sido priorizada por aqui. Com isso, nossas vacas duram em média 3,8 lactações, enquanto nos Estados Unidos, apenas 2 e em Israel 1,8".

 

A razão para tal estratégia está nos seus estudos, que apontam que o investimento em uma vaca só começa a dar retorno efetivo a partir da terceira lactação. Outra diferença, segundo ele, está nas metas. Nos Estados Unidos, se buscam lactações de 15 mil kg, enquanto na Holanda a referência são os sólidos, mais exatamente, tentando aproximar de 5% de gordura e 4% de proteína. Hoje, a média é de 4,41% e 3,50%, respectivamente. Em termos de produção, conta que sua central tem como padrão gerar genética que promova uma primeira lactação com 8.500 kg; uma segunda, com 9.000, e a partir da terceira, um mínimo de 10.000 kg, com 300 dias, sempre preservando ou elevando os índices de gordura e proteína (Quadro 2).

 

Tais volumes garantem boa longevidade e uma reposição anual nunca superior a 25%. A proposta, segundo ele, procura atender à tendência das fazendas, que estão ficando cada vez maiores. A reprodução apresenta um intervalo médio entre partos invejável, de 412 dias. "Para isso, é preciso dispor de animais sadios. Nesse sentido, a genética contribui com 30% dos resultados", cita, explicando que o restante fica por conta do manejo, com 35%, e da nutrição, com outros 35%. Tendo isso em vista, informa que a Europa testa cerca de 1.200 touros por ano, sempre considerando os resultados das três últimas gerações.

 

Esse trabalho, que tem um custo alto, pode começar a viver uma nova fase devido ao bom controle de dados mantido no país, onde a margem de erro é de apenas 3%. A novidade holandesa tem o nome de "Insire", aplicada a partir da seleção genômica de touros selecionados e futuras mães de touros. Trata-se de um trabalho da central CRV voltado para o mapeamento do genoma bovino da raça Holandesa. "Ao se trabalhar com marcadores genéticos identificando características produtivas, de conformação e funcionais, se tem maior precisão e permite que se encurte o período de teste", cita Wiliam Tabchoury, gerente do Produto Leite da Lagoa, que no Brasil representa a marca CRV/Holland Genetics.

 

A mudança vai representar também menores custos no teste, já que não vai se precisar mais de cinco a seis anos para que as filhas apresentem resultados. "Na seleção genômica, está se identificando os indivíduos superiores precocemente", cita ele. Do ponto de vista prático, a novidade pode significar um progresso genético mais intenso para o produtor e uma efetiva redução nos preços do sêmen, já que os custos com teste de progênie serão bem menores que os atuais - cerca de € 130 mil por touro provado ou € 50 mil para cada um dos mais de mil tourinhos que entram em prova na Europa.

 

A genética leiteira holandesa ainda carrega a marca de "Sunny Boy", reprodutor que deixou história no país ao produzir cerca de 2,300 milhões de doses de sêmen, um recorde mundial até hoje não superado. Tal volume inclui também o consumo de sêmen fresco do citado reprodutor, uma prática de duas décadas atrás, hoje, não mais adotada. Com isso, é difícil encontrar alguma propriedade no país sem uma filha de "Sunny Boy". Hoje, os dois maiores produtores de sêmen são "Grand Prix" e "Kian", cada um com um milhão de doses comercializadas. A Holanda produziu no ano passado 6 milhões de doses, das quais exportou 2 milhões.

 

CCS: média holandesa é de 228 mil/ml - O fator sanidade merece também atenção especial na produção leiteira holandesa. A contagem de células somáticas é o melhor exemplo, já que o país apresenta média de 228 mil células/ml. O leite que apresentar mais de 350 mil células/ml é recusado pela indústria, um parâmetro bem mais exigente que o praticado nos Estados Unidos, cuja contagem máxima adotada é de 750 mil/ml. Comparativamente, tal diferença representa aos holandeses um rendimento industrial superior em 18 a 22% na produção de queijos, o principal produto lácteo de exportação. "Cada 100 mil células/ml significa uma perda de 0,5 kg de leite/vaca/dia", ensina Karel Fantshalm.

 

O produtor Arnold van Velzen, com sua propriedade no norte do país, em Meedhuizen, a 15 km da Alemanha, segue rigorosamente as exigências da indústria, entregando seu leite com uma CCS em torno de 240 mil/ml. São 95 vacas com média de 33 kg/dia. O rebanho, completado com 80 bezerras e novilhas, tem como marca genética touros como "Jabort", Celsius", Labelle", "Ronald", "Kian", "Olympic", entre outros. O famoso "Sunny Boy" também foi utilizado no passado, deixando seis filhas com produção superior a 100 mil kg de leite. A mesma marca foi repetida por outras 21 vacas de Arnold, o que significou também uma produção individual superior a 10 mil kg de sólidos. Sua média de gordura é de 4,23%; de proteína, 3,47%. Para efeito de comparação, as médias brasileiras são de 3,60% e 3,17%, respectivamente.

 

Assessorado pelo tio Kees van Velzen (veja o box), o produtor vem também se propondo a criar vacas longevas. Possui várias delas com mais de oito anos. Para isso, adota o tamanho como referência para os animais, não passando de 1,45/1,50 m de altura, e valoriza a força leiteira, combinando com capacidade e resistência. "Vacas com mais de 1,60, angulosas e descarnadas, significam vida curta. Não interessa para nós", destaca Arnold, que, sozinho, cuida das 95 vacas, um número bem superior às 60 recomendadas por produtor. "É por isso que ele não se casou até hoje", brinca o tio Kees.

 

A dieta do rebanho é a tradicional, adotada na maioria das propriedades leiteiras do país. Entre abril e setembro, o gado fica no pasto de azevém, sendo suplementado com silagem de milho, polpa de beterraba úmida ou seca, mais concentrado. De outubro até março, os animais ficam confinados, tendo um cardápio com pré-secado de azevém, silagem de milho, polpa de beterraba ou polpa cítrica, soja e concentrado, este, sempre em pouca quantidade. "As vacas produzem até 25/26 kg de leite consumindo apenas volumosos e mineral. A partir disso, a suplementação é de 1 kg para 3 litros", explica o produtor.

 

Isso ocorre pelo fato de o volumoso ser de muito boa qualidade em termos nutricionais e de digestibilidade. "Com isso há uma combinação perfeita do concentrado com a energia da silagem do milho e a proteína do azevém, como se fosse um total mix", explica. Tal dieta, acrescida de outros itens na planilha, representa um custo médio de € 0,28/0,29 para se produzir um litro de leite. Em junho, os produtores holandeses estavam recebendo € 0,35, ou seja, praticamente o mesmo valor praticado no Brasil. Já os consumidores pagavam por um litro de leite pasteurizado cerca de € 0,95.

 

O preço do leite é estabelecido pelos índices de sólidos e o mercado é dominado em 85% por duas cooperativas que se associaram recentemente - a Campina e a Friesland. Juntas, representam um volume de 9,7 bilhões de litros, um faturamento de € 9,100 bilhões/ano e cerca de 17 mil produtores, entre holandeses, belgas e alemães. Trata-se do terceiro maior laticínio do mundo. A fusão deve significar maior competitividade frente aos grandes laticínios europeus e também maior força no mercado internacional, principalmente, nas exportações para a China. Na oferta de produtos, consta uma completa linha de lácteos, desde leite fluido a sobremesas lácteas.

 

Os holandeses não utilizam BST, o hormônio de crescimento bovino que estimula a produção leiteira, um produto de consumo não permitido no continente europeu. Também são muito poucos os que recorrem à terceira ordenha. Ambas as práticas podem significar uma quebra de 1.500 litros por lactação em cada vaca criada no país, o que evidencia que o produtor holandês até poderia tirar mais leite de suas vacas, se seguisse os preceitos de intensificação praticados pelos colegas norte-americanos.

 

Escola gera conceitos de produção - Os conceitos técnicos e de produção de leite na Holanda são disseminados principalmente por uma respeitada instituição, a PTC-Pratical Training Centre. É para lá que correm os filhos de produtores holandeses e também técnicos e produtores do mundo inteiro. Sua proposta é ensinar tarefas específicas, que vão do trato de um casco a conduzir um trator, ordenhar uma vaca, até a produção de alguns derivados lácteos, com o cuidado de ajustar os ensinamentos à origem do estudante. "De nada valeria ensinar a fazer um queijo com o leite holandês se, no dia-a-dia, vai se trabalhar com o leite de um país africano, onde a realidade de produção é muito diferente", diz o instrutor.
As aulas, que acontecem em cinco diferentes unidades instaladas no país, abrangem distintas áreas de interesse e níveis de aprendizado, com a duração dependendo do tema abordado. Dentro da diversificação agropecuária da PTC, o leite é apenas uma das matérias. Na visita feita por um grupo de técnicos e produtores brasileiros, dois professores demonstraram um apurado conhecimento prático no tratamento de cascos e no manejo de fertilidade de novilhas. A base da didática tem como lema "aprendendo fazendo" e envolve uma fazenda própria, com 173 vacas.
Outro fator muito enfatizado na escola é a responsabilidade com o meio ambiente. O manejo do esterco, por exemplo, obriga os produtores holandeses a projetarem uma galeria sob seu free-stall, armazenando o esterco durante o inverno, da mesma forma que se vê na escola. É no verão, com máquinas apropriadas, que eles injetam o esterco líquido no solo em áreas de plantio agrícola. Entretanto, há limites para aplicação. O excesso deve ser secado e armazenado ou, então, exportado para outros países. As despesas com tal manejo, segundo um instrutor, chega a representar de € 0,03 a 0,05 por litro de leite.

 

O certo é que tal realidade, apesar de sua dinâmica, está mudando e exige que as cotas desapareçam em 2015, como foi anunciado pelas autoridades da Comunidade Européia. Hoje, ao entrar na atividade ou ampliar sua exploração, o produtor deve pagar € 0,07 por litro de leite produzido. Com tal regulamentação, a Europa manteve nos últimos 15 anos a sua produção estagnada em 200 bilhões de litros de leite. Tabchoury não tem dúvida de que, uma vez liberado o mercado, o produtor europeu vai responder. "Neste ano, foi autorizado aumento de 2,5% na cota. Se o índice for atingido vai significar um aumento 5 bilhões de leite, ou seja, 20% da produção brasileira", calcula.

 

No caso específico da Holanda, convém observar que o território brasileiro é 212 vezes maior, mas são os holandeses, com seus 4 milhões de ha, que representam o terceiro país que mais exporta produtos agrícolas, o que, inclui, além de lácteos, frutas, legumes e flores, principalmente tulipas. A pecuária de leite, mesmo com os aparentes entraves, vem atraindo investidores, especialmente para projetos envolvendo 100, 200 ou mais vacas. Segundo cálculos de Tabchoury, abrir uma fazenda para 100 vacas naquele país requer um gasto inicial de € 3 milhões, mais € 30 mil por vaca alojada. "No Brasil, o alojamento por vaca não passa de R$ 10 mil", compara.


Para efeito de cálculos nos valores citados nesta reportagem, o câmbio praticado em junho, na época da viagem, era de: US$ 1= R$ 1,60; € 1 =R$ 2,52.

 

IMPRESSÕES DE UM HOLANDÊS

 

Kees van Velzen é um dos principais especialistas em genética de gado leiteiro na Holanda. Além do seu país, já esteve trabalhando junto aos produtores do Uruguai, Brasil e Quênia. Nesta entrevista, ele revela as tendências da criação da raça Holandesa e da produção de leite.

Balde Branco - Do Brasil, qual é a referência que o sr. tem na pecuária de leite?
Kees van Velzen - No contexto da atual economia brasileira, que se mostra bem estabilizada, o leite deve se tornar um produto muito favorável. Mas para tirar proveito disso é preciso melhorar o rebanho, procurando dispor de vacas produtivas e longevas, que possam ter em média sete/oito lactações. Nesse sentido, os produtores precisam priorizar sanidade, úbere, patas e pés, ou seja, fatores que traduzem longevidade e fertilidade.

BB - O sr. tem dado especial destaque ao tamanho das vacas. Quais são seus conceitos a respeito desse aspecto?
KvV - São vários os estudos que apontam que produção pouco ou nada tem a ver com vacas de grande porte. Muito menos, a longevidade. É por isso que temos insistido junto aos produtores para selecionarem vacas adultas que não passem de 1,48/1,50 m de altura, nada mais, nada menos. Quero dizer que não se deve ter vacas Holandesas de 1,40m, com úbere tocando o solo, mas também não recomendo vacas com 1,60 m, pois significa problemas de reprodução e, com certeza, também não viverão muito.

BB - As vacas Holandesas de seu país estão seguindo as medidas sugeridas pelo sr.?
KvV - Diria que ainda vemos em nossas exposições de gado vacas demasiadamente grandes. No entanto, elas são exceção se compararmos com a tendência que vem sendo seguida pelos nossos produtores de leite que querem ganhar dinheiro e, para isso, buscam reduzir custos, principalmente, com a reposição, um item muito valorizado dentro da atividade. Eles sabem que precisam investir no estábulo, na seleção continuada do rebanho, e sabem também que cada pessoa dentro fazenda precisa cuidar de 50/60 vacas adultas, já que os empregados são muito caros - média de € 3 mil/mês - e não são fáceis de serem encontrados.

BB - O que mudou na pecuária de leite da Holanda, de 10 anos para cá?
KvV - A pecuária leiteira holandesa se mostra cada vez maior em termos de propriedade e rebanho, com produtores grandes comprando os pequenos. Onde tal tendência vai parar, ninguém sabe. O certo é que propriedades com 100, 200 ou 300 vacas também têm problemas, diferentemente dos que havia quando se manejava 50, 60 vacas. A expansão não é fácil, assim como também não é fácil sair da exploração familiar e ter empregados. A terra na Holanda é muito cara. Um hectare custa cerca de US$ 40 mil, o que quer dizer que uma propriedade média, considerando, vacas, terra e cotas, vale, hoje, algo em torno de US$ 3 milhões.

BB - Com tais preços, atualmente, quem está investindo no leite na Holanda?
KvV - São os próprios produtores, que desejam crescer. Eles fazem empréstimos nos bancos para ampliar seus negócios. Na Holanda, 60% das terras pertencem a produtores, 40% são de instituições, como sanatórios ou igrejas, que arrendam as terras para se produzir leite ou outra atividade agropecuária. Um arrendamento hoje custa cerca de US$ 500 por hectare e os contratos são feitos por um mínimo de seis anos, prevalecendo este mesmo período para futuras prorrogações. Existem leis do governo que dão proteção aos arrendatários, que não podem ser despejados se não for por motivos suficientemente justificados.

 

QUALIDADE NA PISTA


 
A cada dois anos, uma parte dos produtores de leite da Holanda se reúne na abertura do verão em Utrecht, a 40 km da capital, Amsterdã, para mostrar e conferir o que vem sendo feito com a raça Holandesa no país. É a conhecida All Holland Dairy Show-NRM 2008, a mais importante mostra européia de gado leiteiro. O julgamento de pista dura apenas dois dias e reúne fêmeas em produção das variedades Preto e Branco e Vermelho e Branco, divididas em categorias, separadamente.

 

Não há espaço para bezerras e novilhas. A razão é simples: avaliar o potencial genético do animal de maneira efetiva, quando já expressa seu sistema mamário. Tudo é feito de forma muito objetiva. A maioria dos animais chega ao recinto no dia do julgamento e se retira logo em seguida. Uma mostra comercial dá suporte à exposição, apresentando estandes com empresas do setor, que apresentam as mais recentes novidades em produtos ou serviços.

 

Neste ano, estiveram passando pela pista 378 animais, de 46 criadores, perante um público estimado em 15 mil visitantes. O julgamento é dividido em duas partes. No primeiro dia, 19 grupos de progênie de pai foram representados por cinco fêmeas cada, de mães e criadores diferentes. Três categorias separam os reprodutores; todos, provados: os debutantes, os intermediários e os consagrados. Detalhe: a seleção das filhas é definida pelo controle leiteiro, classificação e uma comissão especial, sem interferência dos criadores. Os melhores touros, entre HPB e HVB, são apontados pela soma de notas de três jurados.

 

No segundo dia, é a vez dos animais inscritos pelos respectivos criadores. Nesse caso, também são separados nas duas variedades e por categorias: jovem (até duas lactações), intermediária (de três a cinco lactações) e master (mais de seis lactações). O julgamento indica a campeã e a reservada de cada categoria para, ao final, indicar a campeã suprema. As notas são dadas por quatro jurados, acrescidas de uma média da nota do público presente, atribuída por celular.

 

Um dos destaques da NRM 2008 foi a campeã jovem "Barendonk Wilma 198", uma filha do touro "Classic" com "Wilma 116", uma fêmea HVB de família de alta produção, criada na fazenda de Eric Hermanussen, em Beers, na região sudoeste do país. Ela é da linhagem de "Wilma 64", que, aos 15 anos, ainda produz leite na propriedade com dois meses de parida. De sua ficha consta a produção de 154,270 kg de leite e 12.000 kg de sólidos, além de 14 crias. Sabedor da qualidade que tem na mão, o criador Eric, ao receber a premiação, informou que a campeã tem outras sete irmãs na fazenda.

 

Na variedade Holandês Vermelho e Branco, também se destacaram a campeã intermediária "Betje 140", filha de "Boss Iron"; a campeã master e suprema "Soettem Botter Almmacht", filha de "Stadel-Red". Entre as fêmeas Holandesas Preto e Branco, a campeã jovem foi "Venetie 5", filha de "Braedale Goldwyn"; campeã intermediária, "Wieersma 635", filha de "Walkway Chief Mark", e campeã master e suprema, "Wilhelmina 369", filha de "Canyon-Breeze Allen".

 

Novidades - Na mostra comercial que cerca a pista de julgamento, chama a atenção dos visitantes os produtos voltados para o bem-estar animal. Só de camas eram cinco os diferentes modelos: de colchão de água, por € 155, com garantia de 10 anos, à cama de borracha reciclada para ser preenchida com areia, a € 90. Uma escova automática, para uso espontâneo dos animais confinados, custa € 1.600, enquanto um robô para ordenha automática estava cotado em torno de € 110 mil, por dois diferentes fabricantes.
 
 

 
Veículo: Revista Balde Branco

 

 


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