"Estamos prontos para crescer", diz Diniz

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Porém, primeiros bons resultados do Grupo Pão de Açúcar após reestruturação não animam especialistas

Poucas empresas brasileiras chegam aos 60 anos fortes, bem-sucedidas e apresentando boas vendas e resultado, diz Abilio Diniz, presidente do conselho do Grupo Pão de Açúcar, que celebra a efeméride no domingo. "Nosso Ebitda [lucro operacional, medido antes de impostos, juros e depreciação] vai crescer mais, e as vendas nas mesmas lojas vão avançar muito mais do que nos anos anteriores", afirma Diniz. "Estamos prontos para crescer."

 

Já Claudio Galeazzi, presidente-executivo da empresa, acha que, apesar de os indicadores mais recentes serem positivos, ainda não dá para estourar o champanhe.

 

"Talvez o Abilio tenha mais experiência em varejo do que eu e, por isso, comemore os resultados", diz Galeazzi. "Eu, nas reuniões, não os festejo. Todos os indicadores são favoráveis, mas precisam ser consolidados. Temos um longo caminho pela frente."

 

Concorrentes com fôlego

 

Especialistas parecem concordar com Galeazzi. Segundo Claudio Felisoni, coordenador do Provar (Programa de Administração do Varejo), da USP, o Grupo Pão de Açúcar não encontrou ainda um modelo exitoso no varejo para a baixa renda, categoria que mais cresceu nos últimos anos.

 

Além disso, diz, a recente reestruturação pode ter seqüelas no grupo. Para ele, a disputa pela liderança do mercado tende a se concentrar entre as duas grandes redes estrangeiras, Carrefour e Wal-Mart.

 

Eugenio Foganholo, diretor da consultoria Mixxer, tem a mesma opinião. "A briga pela liderança será complexa daqui para a frente", diz Foganholo. "Não é fácil para o Pão de Açúcar crescer enquanto arruma a casa e muito menos agüentar o fôlego do Wal-Mart."
A rede americana anunciou, recentemente, investimentos de US$ 1,8 bilhão no Brasil neste ano. Já o Carrefour conquistou a liderança do mercado no ano passado com a aquisição do Atacadão. Enquanto isso, o Grupo Pão de Açúcar foi obrigado a cortar seus investimentos em 2008 e postergar boa parte deles para 2009, quando pretende abrir cem novas lojas e investir cerca de R$ 1 bilhão.
"Preferimos parar, reordenar a expansão e as vendas e buscar a rentabilidade", diz Diniz. "Temos de produzir resultados, e não só expansão."

 

De acordo com Galeazzi, a concorrência tem crescido sem ter essa preocupação. "Gostaria que os concorrentes divulgassem resultados", afirma ele. "Temos uma boa idéia dos resultados deles e [seus] prejuízos acumulados devem ser bastante significativos."

 

De todo modo, o grupo pode ter perdido a chance de avançar enquanto a economia está aquecida. "Acompanhamos todo o movimento da concorrência e temos poder para investir", diz Diniz. "Também não acreditamos que 2009 será um ano de crescimento menor."

 

Segundo ele, o conselho consultivo, formado por economistas de renome, trabalha com a perspectiva de crescimento de 4% no PIB em 2009 e com a taxa de inflação, medida pelo IPCA, de 5%. "Crescer um ponto a menos não fará tanta diferença", diz Diniz.

 

De acordo com Galeazzi, no entanto, a empresa usará o bom senso na hora de decidir pelos investimentos, como foi feito neste ano. Apesar de os investimentos terem sido planejados em razão do mercado aquecido, foram suspensos devido à remodelação.

 

Entre as novidades na companhia estão a redução de fornecedores para melhorar o poder de negociação da rede, a descentralização das operações, os pesados investimentos em tecnologia e a criação de uma estrutura para cuidar da área imobiliária, que tem ativos no valor de R$ 2 bilhões.

 

"Um shopping pode acontecer desde que faça sentido", diz Enéas Pestana, vice-presidente financeiro do grupo. "O que mais falta nos shoppings são lojas-âncora, o que o Pão de Açúcar é por excelência."
 
 
 
Empresário prepara curso e programa de TV
 


Abilio Diniz vai para a televisão. O presidente do conselho do Grupo Pão de Açúcar ainda não sabe em qual canal, mas os pilotos já estão prontos. Batizados de "Escolhas", os programas são baseados no livro "Caminhos e Escolhas -O Equilíbrio para uma Vida mais Feliz", que Diniz lançou há quatro anos e cujas vendas ultrapassam os 200 mil exemplares.

 

"Tenho uma equipe que está trabalhando no formato e nas negociações, mas ninguém tem pretensão de ir para a Globo", diz.
Os primeiros programas falam de temas como amor, saber dizer não e carboidratos. Durante cerca de cinco minutos, Diniz e alguns entrevistados explicam a importância de tais assuntos na vida das pessoas. Algumas cenas são gravadas na casa de Diniz, que aparece ao lado da mulher, Geyse, e brincando com a filha Rafaela, de dois anos de idade.

 

Os princípios do livro também servirão de base para um curso de liderança que ele está elaborando. Ainda não definido, o formato final poderá ser de aulas a serem dadas em cursos de administração.

 

Além desses projetos, o empresário está envolvido no Pão de Açúcar Esporte Clube, que treina 400 meninos como jogadores de futebol. Desde 2003, 12 jogadores do projeto foram vendidos ao exterior. Há ainda atletas contratados por Grêmio, Santos, Atlético Mineiro e São Paulo. O dinheiro da divisão dos direitos federativos dos jogadores é reinvestido no projeto.

 

Veículo: Folha de S.Paulo


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