Citricultor paulista teme prejuízo nesta safra

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Com a colheita de variedades precoces já iniciada, a safra de laranja de São Paulo, que abriga o maior parque citrícola do mundo, começa a confirmar os sinais de que vai atrasar e que será menor do que a prevista pelo governo estadual. A safra também será problemática do ponto de vista fitossanitário e pouco remuneradora para os produtores.

 

O atraso e a quebra previstos para esta temporada 2008/09 compõem um quadro traçado por especialistas desde o segundo semestre do ano passado, quando uma prolongada estiagem entre agosto e o fim de outubro afetou a florada das plantas.

 


Tanto que, quando o Instituto de Economia Agrícola (IEA) - vinculada à Secretaria da Agricultura - divulgou sua projeção para a produção (368,2 milhões de caixas de 40,8 quilos, 0,7% superior a do ciclo anterior), causou surpresa e foi recebida com muitas ressalvas.

 


No mercado, produtores e indústrias acreditam que a produção ficará em torno de 300 milhões de caixas. Como a colheita está atrasada e só deverá chegar ao pico em setembro, as empresas ainda mantêm a maior parte de suas unidades de processamento fechadas, conforme fontes do segmento.

 


Além do problema climático, Marco Antonio dos Santos, presidente do Sindicato Rural de Taquaritinga e coordenador da mesa diretora de citricultura da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Fasesp), prevê dificuldades para garantir a rentabilidade da produção.

 



Segundo ele, 90% das frutas que serão entregues pelos produtores às indústrias em São Paulo nesta safra já estão contratadas, em acordos de entrega fechados de US$ 3 a US$ 5 a caixa. Com a disparada do preço do adubo e o encarecimento do transporte, entre outros aumentos, o custo dos citricultores, segundo ele, estão entre R$ 10 e R$ 11 por caixa.

 


Em média, as grandes indústrias radicadas em São Paulo - Cutrale, Citrosuco, Citrovita e LD Commodities, que não costumam comentar negociações de preços -, abastecem cerca de 30% de suas necessidades com contratos desse tipo. Produção própria e mercado spot respondem pela fatia restante.

 


Para quem está sem contrato, diz Daiana Braga, analista do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (Cepea/Esalq), nas renegociações atuais os produtores estão conseguindo das indústrias de R$ 8 a R$ 13. Mas Santos afirma que poucos acordos estão sendo de fato renovados.

 


No mercado spot, a caixa está em torno de R$ 11, com colheita e frete a cargo dos citricultores. "Só de colheita, são pelo menos R$ 2 por caixa. De transporte, mais R$ 1", diz Santos. Para tentar facilitar as conversas com as empresas em busca de reajustes dos contratos, os produtores buscaram o apoio do secretário paulista da Agricultura, João Sampaio, que já chegou a mediar alguns embates.

 


Mas será difícil conseguir algo, já que as indústrias alegam que os preços do suco não mais estão nos elevados níveis de 2006 e 2007. Na bolsa de Nova York, os contratos futuros da commodity estão em queda em 2008 (25,66%) e nos últimos 12 meses (23,16%), segundo variações acumuladas calculadas pelo Valor Data. A libra-peso do produto chegou a superar US$ 2 em Nova York em 2006; na sexta, fechou a US$ 1,0765.

 


Na recém-encerrada safra 2007/08, os embarques de suco do país somaram 1,27 milhão de toneladas, ante 1,39 milhão em 2006/07. Como a oferta de laranja será menor e a demanda segue retraída em alguns mercados, principalmente nos EUA, ninguém aposta em crescimento significativo em 2007/08.

 


Mas a expectativa de que as cotações do suco subam em Nova York ainda existe, já que a temporada americana de furacões está começando agora, como observa Maurício Mendes, presidente da consultoria AgraFNP. "Este será um fator de influência até novembro".

 


Foi por causa da queda da oferta na Flórida (que reúne o segundo parque citrícola mais importante do mundo), provocada por furacões, que os preços dispararam de meados de 2004 até o fim de 2006. A esta altura, contudo, uma eventual valorização nova-iorquina tem poucas chances de beneficiar os citricultores paulistas em 2008/09.

 


Disputas de preços à parte, todos os elos da cadeia produtiva paulista são unânimes em apontar o greening como principal dor de cabeça para a citricultura no Estado. Provocada por bactérias, a doença já esvaziou tradicionais pomares no norte do Estado e hoje se prolifera mais rapidamente do que o previsto, elevando custos e perdas.

 

Veículo: Valor Econômico


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