Paulistano gasta mais com ração do que com feijão

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Fipe atualiza pesquisa usada para calcular a inflação e descobre mudanças no padrão de renda e nos hábitos de consumo dos moradores de São Paulo

 

Hoje as famílias que vivem na cidade de São Paulo gastam uma fatia maior do orçamento com ração para o cãozinho ou o gato de estimação (0,55%) do que com o feijão (0,39%), um alimento básico. Em contrapartida, o desembolso com aluguel caiu pela metade nos últimos dez anos porque um número crescente de famílias teve acesso à casa própria. Também o peso da prestação do carro zero nas despesas triplicou no período.

 

Esses são exemplos de como a explosão do crédito e o ganho de renda provocaram nos últimos dez anos uma revolução nos hábitos de consumo dos paulistanos. Essas e outras mudanças foram captadas pela nova Pesquisa de Orçamento Familiar (POF). A partir deste mês, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), o indicador de inflação da cidade de São Paulo, passa a ser apurado de acordo com a nova POF.

 

Ontem o coordenador do IPC da Fipe, Antonio Comune, divulgou o indicador da primeira quadrissemana deste mês já pela nova POF. A inflação subiu 0,19%, ante um resultado praticamente estável de junho (0,01%). Entre os seis itens que mais influenciaram a inflação da primeira quadrissemana, quatro deles (viagem, assistência médica, refeição e carro usado) ampliaram a participação nos gastos das famílias de acordo com a nova POF.

 

Segundo Comune, a mudança da POF não vai aumentar a inflação. "De jeito nenhum isso vai acontecer", frisou. Ele contou que desde fevereiro vem apurando o IPC pela POF velha e a nova e os resultados são muito próximos. Por questões metodológicas, a Fipe vai divulgar o IPC pelas duas apurações no fechamento deste mês.

 

De acordo com a nova POF, os grupos habitação, despesas pessoais, educação e vestuário perderam participação no orçamento das famílias, enquanto os gastos com transportes, saúde e alimentação aumentaram.

 

O grande destaque foi o aluguel, que pesava 8,97% e responde agora por 4,68% das despesas. Comune explica que a redução nos gastos com o aluguel, que passou a ser apurado pelo número de dormitórios, é resultado da maior oferta de crédito para a compra da casa. Também foram as facilidades de crédito que ampliaram gastos com carro novo, de 0,84% para 2,48%, e o usado, de 2,20% para 2,66%.

 

Com mais pessoas trabalhando, os gastos com refeição fora de casa cresceram, de 2,71% para 3,02%, e as despesas com serviços também. O desembolso com serviços pessoais quase dobrou, de 0,79% para 1,38%, e os gastos com cabeleireiro deram um salto, de 0,79% para 1,38%.

 

Entra e sai. A ascensão social da população e as rápidas mudanças tecnológicas provocaram um entre e sai de itens pesquisados. "Caíram fora da nova POF 50 itens e entraram 60", disse Comune. Entre os que saíram estão os aparelhos de vídeo, DVD player, rádio-gravador, freezer, TV de tubo, entre outros. Em compensação, houve a inclusão de produtos mais avançados, como TV de LCD, notebook, e serviços que no passado eram inacessíveis para boa parte da população, como passagens aéreas (0,51%), despesas com animais domésticos (0,77%) e cursos de pós-graduação e MBA (0,07%).

 

"Na próxima atualização da POF, teremos de incluir o iPad. Nessa não incluímos o iPhone porque ele já foi incorporado por outras tecnologias", diz o economista.

 

A partir de agora, a POF será atualizada uma vez por ano. A última POF tinha sido feita em 1999. Por causa de mais de dez anos de defasagem e dos ganhos do salário mínimo, a faixa de renda das famílias pesquisadas mudou: era de até 20 mínimos e a partir de agora é de até dez.

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


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