Não há consenso entre os economistas sobre a desindustrialização do País

Leia em 2min

A desindustrialização é um velho fantasma, que desperta polêmica no Brasil. Uma corrente de economistas acredita que o processo está em curso, provocado pela valorização do real. Outro grupo defende que é impossível falar em desindustrialização em um País com uma economia interna pujante. Os dois lados têm bons argumentos.

 

Para o coordenador do grupo de indústria do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), David Kupfer, o perigo de desindustrialização é real, principalmente no cenário global de pós-crise. "Hoje mais exportadores estão de olho no mercado brasileiro", disse.

 

Com a grande entrada de recursos no País, o câmbio está se valorizando, reduzindo a competitividade da indústria brasileira, que passa a importar cada vez mais insumos e peças e a enfrentar concorrência acirrada de produtos acabados que vêm do exterior.

 

Kupfer lembra que, antes da turbulência internacional, as importações brasileiras cresciam a taxas de 50%. "Por conta da recuperação da economia, em um contexto internacional de fraco crescimento, podemos retomar em 2010 esse ritmo de importações, prejudicando a balança comercial."

 

Para o economista, o maior problema é de longo prazo. Na sua avaliação, o real forte vai provocar uma perda de "adensamento" das cadeias produtivas, transformando as empresas brasileiras em simples montadoras de produtos.

 

INDÚSTRIA AVANÇA

 

O economista do banco Santander, Cristiano Souza, tem uma posição completamente diferente da do seu colega da UFRJ. Ele afirma que não existe desindustrialização em um País em que a produção cresceu, em média, 4,6% ao ano entre 2004 e 2008. No mesmo período, o emprego na indústria avançou 1,4% por ano.

 

"Não dá para falar disso no Brasil", afirmou. Ele argumenta que o impacto da concorrência externa não é tão expressivo, porque a economia brasileira ainda é relativamente fechada. Além disso, o mercado interno pujante vai garantir um bom desempenho para a indústria no próximo ano.

 

Segundo o economista, alguns setores, como calçados ou têxteis, estão sendo prejudicados pelos importados, mas a situação é a mesma nos mais diversos países, por conta da alta competitividade dos asiáticos. "Não é um problema de câmbio. Se o dólar estivesse em outro patamar, a situação não seria muito diferente."

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


Veja também

Mantega prevê crescimento de 8% a 10% no PIB do 3º trimestre

Ministro fez a estimativa para crescimento anualizado e afirmou que o câmbio está sobrevalorizado   ...

Veja mais
Cai a demanda do consumidor por crédito

Em outubro, procura do consumidor por financiamento caiu 0,4%   A demanda do consumidor por crédito teve e...

Veja mais
Indústria vende menos, mas consegue reduzir déficit

Relações externas: Importação em queda melhora o saldo no semestre     ...

Veja mais
Produtividade ainda recua, mas dá sinais de retomada

A produtividade da indústria seguiu em baixa no terceiro trimestre do ano, mas o ritmo de queda arrefeceu signifi...

Veja mais
Mercado melhora previsão para o PIB

Os analistas do mercado financeiro aumentaram a previsão de crescimento da economia brasileira para este ano e ta...

Veja mais
A hora das classes D e E

Consumidor de renda mais baixa se torna mais atraente para as empresas atualmente   A classe C, que até po...

Veja mais
Pobres já gastam 5% mais que ricos

Estudo mostra avanço do consumo das classes D e E do Norte e Nordeste em relação às classes ...

Veja mais
18,5 milhões de brasileiros mudam de classe

De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 18,5 milhões de brasileiros mudaram de cla...

Veja mais
Os eleitos do BNDES

Como o banco, que está prestes a receber um novo aporte de R$ 100 bilhões do Tesouro, escolhe seus vencedo...

Veja mais