Produtividade ainda recua, mas dá sinais de retomada

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A produtividade da indústria seguiu em baixa no terceiro trimestre do ano, mas o ritmo de queda arrefeceu significativamente em relação aos trimestres anteriores. De julho a setembro, houve recuo de 1,4% em relação ao mesmo período de 2008, um tropeço bem menor que os 10% do primeiro trimestre e os 6% do segundo. Os números mostram uma trajetória mais favorável do indicador de eficiência da indústria ao longo do ano, o que fica mais claro quando se analisa a evolução sobre os trimestres imediatamente anteriores. No terceiro trimestre, por exemplo, a produtividade cresceu 5% na comparação com o segundo, na série com ajuste sazonal, segundo cálculos da LCA Consultores.

 

A queda de 1,4% registrada no terceiro trimestre sobre o mesmo período de 2008 se deveu à combinação de recuo de 8,3% na produção industrial e de uma retração de 7% no número de horas pagas aos trabalhadores. Em resumo, o ajuste foi maior no volume produzido pelas empresas do que no emprego.

 

Para o economista-chefe da LCA, Bráulio Borges, o pior quadro em termos de produtividade já ficou para trás. Ele ressalta que o nível do indicador em setembro, na série livre de influências sazonais, ficou apenas 1,7% abaixo do registrado no mesmo mês de 2008.

 

Borges estima que a produtividade deverá terminar o ano em queda de 3% a 3,5%. Isso implica uma aposta num quarto trimestre bastante positivo, uma vez que, de janeiro a setembro, houve um recuo de 5,7%. Para comparar, a produtividade industrial cresceu 4,1% em 2007 e 1,1% em 2008.

 

O recuo da produtividade em 2009 indica uma indústria menos eficiente, mas Borges considera importante fazer uma qualificação sobre o resultado. Segundo ele, o indicador tem um comportamento "altamente pró-cíclico" - tende a subir quando a produção da indústria aumenta, e cair quando o volume produzido recua. Para o ano que vem, quando a produção industrial deve avançar com força, a produtividade deve voltar a ter um bom ano, avalia ele. Borges estima queda de 7,5% da indústria neste ano e alta de 9,5% em 2010.

 

O custo do trabalho na indústria também teve um quadro menos desfavorável no terceiro trimestre deste ano. Entre julho e setembro, subiu 3,3% em relação ao mesmo período de 2008, resultado da comparação da alta de 1,9% da folha de pagamento real por trabalhador e da queda de 1,4% da produtividade. O número indica que há pressão de custos do trabalho na industria, mas em magnitude bem menor do que nos trimestres anteriores - no primeiro, houve alta de 14,9% e no segundo, de 11,3%.

 

Na comparação com os trimestres imediatamente anteriores, há uma descompressão de custos - entre julho e setembro, por exemplo, o indicador caiu 9,7% em relação ao período que vai de abril a junho, feito o ajuste sazonal.

 

O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, não vê o risco de pressões inflacionárias relevantes por conta do aumento do custo de trabalho. "Os dados de atividade econômica mostram que ainda há muita capacidade instalada sobrando na indústria", afirma ele, que não acredita numa retomada muito forte das contratações. "Devido às dificuldades inerentes à demissão e contratação, o ajuste no pessoal ocupado costuma ser menor que o da produção, além de ter defasagens. Assim, mesmo que a produção industrial cresça bastante nos próximos meses, não necessariamente haverá uma grande aceleração nas contratações."

 

Para ele, a produtividade em 2010 poderá aumentar pela combinação de uma produção industrial em alta significativa e de um nível de emprego sem grandes alterações. De 2004 a 2008, a produtividade cresceu de modo virtuoso, com alta simultânea de produção e emprego. Gonçalves diz que ainda não é possível ter certeza de que essa combinação vá se repetir daqui para a frente.

 

Segundo Cristiano Souza, economista do Santander, há uma tendência de elevar as horas pagas antes de recontratar pessoal que não se inverterá tão cedo. Para Souza, as perspectivas de aumento de juros, por parte do Banco Central, não servem de estímulo à indústria.

 

"Teremos um aumento vagaroso, porém progressivo e contínuo, na contratação, mas o empresário está pensando na Selic mais alta que teremos em 2010", afirma. "O Banco Central não pode deixar o PIB crescer a 6% ou 7%", diz Souza, "porque isso criaria uma grande pressão inflacionária". Para o economista, o aumento da taxa Selic é um "problema menor" que eventuais elevações de preços.

 

O comportamento da produtividade e do custo do trabalho tem variado muito de setor para setor neste ano, observa Borges. Na indústria extrativa, por exemplo, a produtividade no terceiro trimestre caiu 5,1% sobre o mesmo período de 2008, enquanto houve alta de 1,3% no setor de alimentos e bebidas.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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