Varejo pede socorro ao governo

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A exemplo das montadoras, que conseguiram sensibilizar o governo e receberam incentivos para estimular as vendas de veículos, as grandes cadeias varejistas do país bateram às portas de Miguel Jorge, no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, e de Guido Mantega, no Ministério da Fazenda, em busca de socorro. O grande gargalo do comércio é a falta de crédito para financiar o capital de giro e as vendas ao consumidor.

 

O Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV), do qual participam 30 grandes redes de diversos setores, está em negociações com os representantes do governo para a criação de um "pacote de crédito", o que daria novo fôlego financeiro às varejistas e permitiria que o setor melhorasse as condições oferecidas aos consumidores.

 

A partir de outubro, muitas redes tiveram de encolher os planos de pagamento, reduzindo o número de prestações de cinco ou seis parcelas para duas ou três.
Uma das medidas que já foi proposta pelas varejistas e que está sendo analisada pelo governo é a constituição de Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDCs) bancados por recursos públicos. Por meio desses fundos, os bancos compram os recebíveis das varejistas - ou as prestações que serão pagas pelos consumidores no futuro.

 

Com isso, o varejo poderia levantar recursos e teria capital de giro para comprar mais mercadorias e pagar os fornecedores, que costumam receber em prazos mais curtos, em 40, 60 ou 90 dias. Por ser uma operação financeira bastante conhecida, a proposta dos FDICs é considerada uma saída viável para socorrer as varejistas e reativar o consumo.

 

Segundo o Flávio Rocha, membro do conselho do IDV, a maior preocupação do setor é fazer com que os recursos do governo cheguem de maneira veloz e a um custo razoável ao varejo, a tempo de estimular o consumo.
"Nós queremos criar uma via rápida de acesso", diz o executivo, que é acionista do grupo Guararapes, holding que controla a Riachuelo, uma das três maiores cadeias de vestuário do país.

 

Os varejistas tentam convencer as autoridades a abrir um canal direto para concessão de crédito ao varejo, sem a intermediação de bancos. Há o temor de que bancos cobrem um spread elevado para repassar as linhas do governo, ou simplesmente não ampliem a oferta de crédito ao setor.

 

O aumento da inadimplência é o maior obstáculo para as as operações com recebíveis, como os FIDCs, que precisam ser classificados por agências de risco de crédito. Com a piora dos indicadores econômicos, os atrasos no pagamento se acentuaram e as varejistas tiveram de elevar suas provisões para créditos duvidosos. No entanto, diz Rocha, são as varejistas que assumem o risco nas operações com recebíveis e não os investidores.

 

Ao longo desta década, os sistemas de concessão de crédito adotados pelo varejo foram aperfeiçoados, o que torna toda a cadeia mais segura do que era nos anos 90, acrescenta. "Muitas varejistas estão associadas a bancos atualmente ou possuem suas próprias instituições financeiras, como as montadoras", diz Rocha.

 

Segundo Marcos Gouvea de Souza, da GS&MD, firma de consultoria especializada em varejo, é imprescindível que os recursos "cheguem ao varejo na velocidade e na extensão que o momento requer". O varejo, acrescenta, emprega atualmente mais do que a indústria e as medidas de estímulo ao setor poderiam ter uma repercussão em grande escala. Os membros do IDV, que é presidido por Luiza Helena Trajano, controladora do Magazine Luiza, reuniram-se na última sexta-feira, em São Paulo, com o ministro Miguel Jorge.

 

Em uma carta entregue ao ministro, o setor reivindica a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados para produtos populares e questiona a restrição dos financiamentos do BNDES para empresas com participação de capital estrangeiro. Muitas varejistas são multinacionais, como Wal-Mart, Carrefour, Leroy Merlin, ou possuem sócios estrangeiros, como o Magazine Luiza, que tem entre os seus acionistas o fundo americano Capital Group, a Renner, cujo capital é pulverizado na bolsa, e o Pão de Açúcar, do qual o grupo francês Casino é co-controlador.
 


Veículo: Valor Econômico
 


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