Empresas exportadoras têm receita maior em plena crise

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A desvalorização do real ante o dólar, que ultrapassou o índice de 30% desde o início da crise, tem animado empresas exportadoras, que veem nesse fato oportunidade para gerar mais receita em tempos de restrição de crédito. Um dos motivos é a retomada da competitividade dos produtos brasileiros no exterior, que mesmo com a queda do preço na moeda norte-americana, ajudou a sustentar o aumento da receita em reais. Esse é o caso da Suzano Papel e Celulose, que fechou o ano com R$ 2,2 bi em caixa e da fabricante de eletrodomésticos Mabe, que exportava cerca de 12% de sua produção em 2006, e que após forte retração sentiu a retomada e elevou esse percentual, mesmo com a expansão da produção total em cerca de 50%.

 

Esses fatores se refletiram no desempenho da balança comercial de março, divulgada pelo Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). O saldo totalizou US$ 1,7 bi, valor 79,3% superior ao registrado em março de 2008 (US$ 988 milhões). Na primeira semana de abril, com apenas três dias úteis, a balança comercial apresentou superávit de US$ 588 milhões, crescimento de 8,7% em relação ao mês passado.

 

"A desvalorização cambial de mais de 30%, em geral, é benéfica para o exportador, pois tem preços competitivos", afirmou diretor de Estratégia, Novos Negócios e Relações com Investidores da Suzano, André Dorf. "No mercado de celulose o preço caiu de US$ 850 para US$ 500 por tonelada, mesmo com essa queda, em função do câmbio, os produtores não tiveram perdas tão grandes, principalmente quando o assunto é commodity, incluindo ainda, metais", exemplificou o executivo.

 

Essa foi a percepção do especialista em papel e celulose da Tendências Consultoria, Bruno Rezende, que classificou 2008 como um bom ano para as empresas do setor no Brasil. No ano passado, mesmo com as quedas do último trimestre a celulose valorizou 12%, e as exportações de celulose, aumentaram 9,6% em volume e 30% em receita.

 

Esse cenário positivo foi sentido também por indústrias de transformação, um exemplo é a subsidiária brasileira da multinacional mexicana Mabe, que, no Brasil, detém as marcas Dako, GE e Mabe. De acordo com o presidente da companhia, Patrício Mendizabal, a empresa sentiu um aumento da receita em função da retomada da competitividade dos produtos da empresa.

 

Segundo ele, as vendas que são feitas no mercado internacional e que atendem, principalmente, a África, Europa e América Latina, estavam em um patamar de 12% da produção há três anos, antes da valorização da moeda brasileira ante a norte-americana. Porém, esse índice caiu para 6% durante o período em que o real ficou em R$ 1,70 para US$ 1. "Agora com o atual nível de câmbio as vendas subiram", disse Mendizabal. "O índice de exportação subiu para 10%. Essa parcela ainda é menor do que em 2006 mas em unidades aumentou, pois a produção chegou a 3 milhões de eletrodomésticos", comemorou.

 

Cobrança

 

Esses números são vistos como positivos pelo economista e presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (Abracex), Roberto Segatto. Porém, ele cobra alguma medida mais enérgica do governo, em especial do Itamaraty para a abertura de novos mercados.
"Estive em diversas feiras e a atuação do Itamaraty é ridícula, não estão preparados para divulgar nossos produtos pelo mundo", esbravejou Segatto que apontou a África, países árabes e asiáticos como mercados que o País precisa explorar melhor. Segundo o economista, é necessário que o governo brasileiro tome medidas para incentivar as exportações das pequenas e microempresas a um nível mais parecido com o de países como a Itália, que de acordo com ele, é de 70% do total vendido no mercado internacional. No Brasil, esse nível está em 3,5% a 4%.

 

Para o presidente da associação, a competitividade dos produtos brasileiros melhorou muito em função do câmbio. Porém, ele lembra que o resultado poderia ser incentivado mais ainda com a reforma tributária e uma sensível redução dos impostos, desde os trabalhistas quanto aqueles que incidem sob os investimentos em maquinários. Dentre os exemplos ele citou a redução do IPI para os automóveis no Brasil, que levaram ao recorde de vendas no primeiro trimestre deste ano, e o nível de tributação e de encargos na China e na Índia, que não passam de um dígito.

 

Muitas indústrias brasileiras estão exportando mais em plena retração mundial, com a desvalorização do real ante o dólar, que ultrapassou o índice de 30% desde o início da crise. É o caso da Suzano Papel e Celulose, que fechou o ano com R$ 2,2 bi em caixa. "No mercado de celulose o preço caiu de US$ 850 para US$ 500 por tonelada, mas, mesmo com a queda, em função do câmbio, os produtores não tiveram perdas grandes", disse o diretor de Relações com Investidores da Suzano, André Dorf. Também a fabricante de eletrodomésticos Mabe se beneficiou do câmbio. "Agora com o atual nível de câmbio as vendas subiram", disse o presidente, Patrício Mendizabal.

 

Na contramão está o setor automotivo, que segundo a Anfavea deverá exportar 500 mil veículos em 2009, baixa de 32% ante 2008. "No primeiro trimestre nós deixamos de exportar 100 mil, o que é muito significativo", afirmou o presidente da entidade, Jackson Schneider. A retração das exportações será um dos principais motivos que levarão o mercado brasileiro de veículos a fechar o ano em queda de 3,9% ante 2008, o primeiro recuo desde 2003.

 

A balança comercial, que está positiva em R$ 3,6 bilhões no ano até o início de abril, é beneficiada pela queda de 21% nas importações em relação ao mesmo período do ano passado. Somente entre os dias 1º e 5 deste mês, as compras no exterior recuaram 33,9% ante as do mesmo período de 2008.

 

Veículo: DCI


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