IGP-M indica recomposição de preços industriais

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Os preços no atacado estão em alta. Enquanto a elevação de preços industriais e os fatores sazonais nos primeiros meses do ano eram componentes esperados pelo mercado, foi a magnitude do movimento que surpreendeu os analistas. A primeira prévia do Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M), referente aos últimos dez dias de janeiro apresentou alta de 0,98%, ampliando a marca de 0,63% registrada no IGP-M de janeiro. Ao mesmo tempo em que consolida o fim do período deflacionário observado pelos IGPs ao longo de 2009, o dado divulgado ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV) aponta para altas próximas a 1% ao mês até o segundo trimestre.

 

O resultado foi puxado pela elevação de 1,81% nos preços industriais, compensando o efeito negativo dos bens agrícolas, que sofreram variação de -0,88% no período. Ambos aprofundaram o movimento já captado no indicador de janeiro, quando, respectivamente, variaram 0,36% e -0,09%. Do lado da indústria, foram os bens finais (que avançaram de 0,6% para 2,2%) e os intermediários (de 0,1% para 1,2%) os principais contribuintes. Segundo os analistas consultados pelo Valor, há, embutido nessa rápida elevação, uma combinação de fatores sazonais e recomposição de preços.

 
 
Para Fábio Ramos, economista da Quest Investimentos, alguns setores industriais aproveitaram a recente desvalorização cambial para reajustar seus preços. Segundo Ramos, a valorização do real ao longo do ano passado - quando passou de R$ 2,33 para R$ 1,71 - impediu que os fabricantes de bens que competem com importados repassassem para seus clientes um produto mais caro. Nas primeiras semanas de 2010, no entanto, a alta do real - que chegou a alcançar R$ 1,89 - serviu de gatilho para recomposição de margens. "Isso foi mais evidente no setor de metalurgia, que estava com muitos estoques durante o período recessivo e apenas recentemente pode aumentar preços", diz.

 

Parte da alta dos bens industriais decorreu de itens específicos. Os alimentos processados, por exemplo, saltaram de 1,7% na primeira prévia de janeiro para 5,8% na prévia de fevereiro. Os economistas avaliam que a explosão nos preços do açúcar respondeu pela maior parcela deste aumento. No mesmo período, o açúcar cristal aumentou 23,8% e o refinado, 18,3%. Sua matéria-prima, a cana de açúcar, ainda impactou a alta de 15,5% do álcool combustível.

 

Segundo Tatiana Pinheiro, analista do Santander, a velocidade desta elevação no atacado deve preocupar o Banco Central (BC). "Nesse ritmo, nos primeiros dois meses do ano já teremos revertido a deflação de 1,7% acumulada em 2009", diz ela. O Santander estima que a taxa de juros básica deve ser elevada a 12% ao ano para dirimir pressões inflacionárias, começando em março - desde julho do ano passado a taxa está fixada em 8,75% ao ano.

 

"Todos esperavam um incêndio nos primeiros três meses do ano, mas algumas chamas vieram mais altas que o estimado", afirma Fábio Romão, economista da LCA Consultores, que, no entanto, ressalta que o incêndio "era mais que esperado por todos, inclusive o Banco Central". Para Romão, não restam dúvidas de que os IGPs serão mais "salgados", mas é cedo para o BC começar a agir. "As incertezas internacionais ainda são muito grandes e a alta nos preços neste começo de ano, ainda que superior ao estimado, era previsível".
 

 

Veículo: Valor Econômico


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