Fundos veem estabilidade econômica em 2010

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Os administradores dos principais fundos de pensão brasileiros apostam na estabilidade e no crescimento da economia em 2010 e duvidam que as eleições presidenciais de outubro possam trazer volatilidade ao cenário macroeconômico interno. Por outro lado, eles não têm bons pressentimentos quanto ao cenário internacional e acham que os megapacotes de ajuda dos governos dos países ricos às empresas e bancos vão cobrar sua conta este ano, em forma de déficits fiscais que exigirão juros maiores para seu financiamento no mercado e, consequentemente, desaceleração da atividade econômica, com possibilidade de afetar o Brasil. Sérgio Rosa, presidente da Previ, considera "uma possibilidade" o governo fazer uma política mais agressiva para alterar o patamar atual da relação dólar-real.

 

Maiores investidores institucionais do país, os fundos de pensão dos funcionários do Banco do Brasil (Previ), da Petrobras (Petros), da Vale do Rio Doce (Valia) e da Eletrobrás (Eletros) trabalham com projeções de dólar e inflação estáveis este ano. Juntos, eles têm mais de R$ 190 bilhões em recursos para investimentos, visando o cumprimento de metas atuariais que garantam o pagamento das aposentadorias de 210.061 mil funcionários participantes das empresas patrocinadoras.

 

O cenário macroeconômico traçado pela equipe econômica da Previ é otimista. Projeta tendência de estabilidade continuada e queda da taxa de juros, que deverá permanecer abaixo dos 10%, tanto em termos reais quanto em termos absolutos, afirma Rosa. "O risco de alta da inflação e da taxa de juros é pequeno", diz o executivo, que não acredita em mudanças por causa das eleições presidenciais.

 

"Quando você olha os outros fatores, a dívida do governo versus PIB, capacidade de pagamento, o risco, o problema fiscal, não vejo razões para uma grande mudança na taxa de juros, a não ser para baixo", diz. Para ele, os juros podem não baixar a curto prazo, mas a longo prazo a tendência é de redução. "Acho que a tendência da economia brasileira sob todos os aspectos é muito boa e a expectativa de taxa de juros também vai nesse sentido."

 

Em plena fase de estudos para revisão da meta atuarial, dos atuais 5,75% de juros mais inflação para 5,5%, a Previ está levando em conta o cenário interno e externo. No cenário internacional, os analistas da Previ, apoiados por análises de mercado, esperam algum impacto econômico em forma de volatilidade do crescimento, devido aos efeitos dos bilionários pacotes de ajuda dos governos dos países do mundo industrializado. Para eles, deve haver algum impacto no déficit fiscal, que pode resultar em aumento de impostos e, consequentemente, retração da atividade econômica.

 

"O que vai acontecer no ano que vem interessa, mas para um plano que tem 40 anos de vida, para o qual temos que fazer projeções para 40 anos, importa menos", diz Rosa. Ele acha que a situação fiscal do país não aponta riscos sequer para uma alteração no patamar do câmbio que, "vai manter mais ou menos o mesmo valor", segundo o presidente da Previ.

 

Também otimista, o presidente da Petros, Wagner Pinheiro, prevê um crescimento do PIB a taxas anuais da ordem de 4,5% nos próximos dez anos. "Isso vai gerar crescimento das empresas, ampliação do consumo e do crédito interno", afirma Pinheiro. O desempenho das empresas é um fator relevante para a Petros, que está em fase de ampliação de sua carteira de renda variável.

 

Para Mauricio da Rocha Wanderley, diretor de investimentos e finanças da Valia, fundo de pensão dos funcionários da Vale, a inflação ficará dentro da meta de 4,5% para 2010, mas prefere não apostar em uma cotação para o dólar. "Difícil projetar, depende do movimento de capitais externos." Ele não vê riscos de déficit fiscal por conta das eleições.

 

Jair Ribeiro, economista da Eletros, tem uma visão mais pessimista. Para ele, não há dúvida sobre a capacidade de recuperação do Brasil frente à crise internacional, "maior que a média" mundial. No entanto, diz Ribeiro, há um problema não resolvido que é a taxa de investimento (participação dos investimentos no PIB) necessária para que o país se livre da tendência ao "voo de galinha" (economia sobe muito, mas cai rápido).

 

"Hoje, temos cerca de 20% do PIB, mas deveria ser 30%. Para mim, este é o grande gargalo, que me leva a concluir que há um excesso de euforia com a economia brasileira. Na China e outros países asiáticos, a taxa de investimento é muito mais alta", avalia o economista da Eletros.

 

Ribeiro acha que, como o investimento não tem crescido o suficiente para dar conta da expansão da demanda trazida pelo crescimento econômico, haverá necessidade de aumentar os juros para conter a inflação. A análise mais cautelosa, com base em relatórios produzidos especialmente para a Eletros pela consultoria MCM, se reflete na postura superconservadora do fundo em seus investimentos, mais de 80% concentrados na renda fixa. Estas análises apontam para uma perspectiva de dois aumentos de 50 pontos básicos na taxa de juros Selic, um no fim do primeiro semestre e outro logo em seguida. "Haverá aumento de juros de forma preventiva", aposta Ribeiro.

 

Contribuiria para esta perspectiva o cenário internacional, sobre o qual ele concorda com as análises dos demais gestores, sobre os riscos de desaquecimento por conta dos desequilíbrios fiscais.

 

Quanto às eleições, estes gestores não acreditam que tenham grande influência no comportamento da economia em 2010. "A economia brasileira tem respondido de maneira independente do mundo político", afirmou Ribeiro.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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