Inflação oficial deve voltar a subir e ficar em 5% neste ano

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Analistas do mercado financeiro consultados pelo DCI apontam que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deverá encerrar próximo dos 5%, ou 0,5 ponto percentual a mais do que a projeção do Banco Central. Segundo Pedro Raffy Vartanian, professor da Trevisan Escola de Negócios, para evitar o repique inflacionário, o governo deverá tomar como principal medida a elevação da Selic.

 

"A Selic será ao redor de 11%, assim como informou o Boletim Focus desta semana. O aumento será uma das medidas para evitar o repique inflacionário. Quando a economia cresce, a reação natural dos preços é de alta. Outros meios de frear a inflação, por parte do governo, é estimular a oferta, incentivando investimento das empresas e também apostando em infraestrutura", afirmou.

 

A crise econômica "ajudou muito a conter a inflação em 2009", segundo avalia a coordenadora de índices de preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Eulina Nunes dos Santos. Ela explica que, com a crise, houve redução da demanda internacional por alimentos, o que evitou maiores reajustes nesses produtos no mercado interno e, além disso, houve influência também do dólar mais baixo sobre os preços de vários produtos.

 

Eulina citou também que as medidas governamentais para reduzir os efeitos da crise, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para vários produtos, também ajudaram a conter a inflação no ano.

 

Segundo divulgou o IBGE, o IPCA em 2009 ficou em 4,31%, variação bem inferior à apurada em 2008 (5,90%). Entre as principais quedas de preços no ano passado, figuram itens diretamente influenciados pela redução do IPI, como automóvel usado com queda de 11,90%, eletrodomésticos que recuaram 4,85% e automóvel novo negativo em 3,62%. Os combustíveis fecharam o ano com alta de 2,61%, acima do resultado de 0,55% em 2008. Em 2009, o álcool variou 14,98%.

 

A análise da Rosenberg Consultores Associados, aponta que "a contribuição benéfica dos alimentos, que ajudou a conter a inflação durante todo o ano de 2009, não deve ser vista novamente no início de 2010, devido a dois fatores: a recuperação econômica mundial deve pressionar os preços das commodities; as intensas chuvas que vem ocorrendo em todo o País já prejudicaram as lavouras e tal impacto deve ser refletido nos preços das hortaliças, legumes e frutas."

 

Para o economista Mauro Calil, o corte de impostos, como o governo pretende fazer com os combustíveis, deve elevar ainda mais a pressão inflacionária em 2010. "A redução de impostos é boa para estimular o consumo, mas o objetivo é conter a inflação, e para isso temos que conter a demanda. Uma redução de impostos como o benefício do IPI não reduziria a inflação."

 

Ele acrescentou: "o álcool variou muito, foi o vilão de 2009. Por isso o governo anunciou este ano a redução da proporção do mesmo na gasolina, para não influenciar os índices inflacionários. Eu sou o único que projeta a Selic em menos de dois dígitos. A renda familiar está aumentando, contudo, a dívida familiar também cresce e irá segurar o consumo. Existem maneiras de conter o consumo, como o aumento dos impostos, redução de parcelas de financiamentos, os preços administrados de energia e telefonia cresceram muito e isso poderia ser contido", explicou o professor.

 

Calil argumentou ainda que o preço das commodities energéticas devem aumentar no curto prazo; as metálicas devem reduzir ; as commodities agrícolas vão apresentar um preço elevado o que fará a Selic subir até 9,75%.

 

Para o especialista e diretor da Fractal, Celso Grisi, o ano será bom, teremos crescimento econômico por parte do mercado interno, se ajudado pelo mercado externo superará os 5%.

 

"Todo período de crescimento produz uma pressão inflacionária. As pressões do câmbio, a demanda interna muito forte, os saldos das políticas anticíclicas agora adicionadas do reajuste do salário mínimo vão pressionar a inflação e com isso o BC terá que elevar a Selic. A taxa de juros deverá chegar 10,5% no fim de 2010, e sua trajetória de crescimento deve ocorrer logo no fim do primeiro trimestre", explicou Grisi.

 

A maioria dos economistas ouvidos pelo DCI afirma que, após registrar inflação de 4,31% em 2009, o IPCA deve ficar próximo dos 5% este ano, mesmo com alta nos juros.

 

 

Veículo: DCI


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