Inflação, só com PIB muito elevado

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A inflação não será um problema em 2010. Mesmo com alto crescimento, entre 4,5% e 5,5%, no Produto Interno Bruto (PIB), aumento na concessão de crédito, elevação do salário mínimo e recuperação do mercado de trabalho, a inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), não deve ultrapassar a meta de 4,5% perseguida pelo Banco Central. Esses fatores, no entanto, pressionam o IPCA de 2011, primeiro ano do próximo governo. Assim, enquanto há consenso entre economistas quanto aos preços controlados no ano que vem, há divergência quanto à dose do remédio que o governo deverá imputar em 2010 para prevenir um descontrole dos preços no futuro.

 

Para evitar que a atividade se aqueça acima do PIB potencial - o máximo de crescimento possível sem gerar aumento de preços -, o governo tem duas armas importantes, as políticas fiscal e monetária. Ambas foram afrouxadas a partir do acirramento da crise econômica mundial para contrabalançar os efeitos recessivos. O governo concedeu incentivos fiscais a setores da indústria, ao mesmo tempo em que o Banco Central baixou as taxas de juros e liberou os depósitos compulsórios.

 

Segundo analistas consultados pelo Valor, o governo não dá indicações de que vá apertar a política fiscal em ano eleitoral, uma vez que boa parte dos gastos com funcionalismo já está contratada. Resta, portanto, ao braço monetário a tarefa de "segurar o crescimento" de um eventual superaquecimento. Há divergência, contudo, quanto à dose e ao momento em que subir os juros possa vir a ser necessário. Para Alexandre Schwartzman, economista-chefe do Santander e ex-diretor do Banco Central, o único risco de um "descontrole" inflacionário ocorrer já no próximo ano é o PIB elevar-se muito acima de 5%. Uma alta de 6,5%, como a que o Credit Suisse projetou semanas atrás, se inscreveria nesse contexto. "Ainda assim", afirma Schwartzman, "as pressões viriam apenas no fim do ano, na taxa acumulada de 12 meses".

 

Para evitar o rompimento da meta de 4,5% para o IPCA, o Banco Central, avalia o economista, deve começar a elevar a Selic em meados do ano. Uma alta nas taxas de juros poderia prejudicar o cenário eleitoral, pode-se imaginar, mas, para Schwartzman, o BC não vai se balizar pela política e, mesmo assim, "não será uma alta monstruosa, o PIB deve bater em 5% mesmo com juros um pouco mais altos", avalia.

 

Antes da crise, o IPCA registrava variações superiores à evolução do PIB e, nos dados consolidados, fechou 2008 quase 1,5 ponto percentual acima da meta - em 5,9% -, enquanto o PIB foi de 5,1%. Até por isso, desde abril do ano passado o BC já começara a subir os juros, processo interrompido com as turbulências mundiais, em setembro, e revertido a partir de janeiro de 2009. Neste ano, contagiado pela crise, o país deve registrar crescimento próximo a 0,5% no PIB e o IPCA será comportado - entre 4,2% e 4,4%. No ano que vem, segundo projeções do mercado, a inflação medida pelo IPCA não deve ter valor muito distinto: fechará entre 4,4% e 4,6%.

 

O risco de uma pressão na inflação deve vir, portanto, de uma atividade em aceleração acima dos limites. Segundo Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Gradual Investimentos, a economia "já recuperou as perdas da crise" e, portanto, dispensa mais incentivos fiscais e monetários. "Como o governo amplia isenções de impostos, resta ao BC elevar a Selic logo no começo do ano, antecipando um superaquecimento", avalia Silveira, para quem a diferença entre oferta e demanda na economia vai se estreitar no final do primeiro trimestre.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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