Exportador eleva preços e busca novos clientes

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Comércio exterior: Estratégias também incluem importação maior de insumos e uso de instrumentos financeiros

 

Os exportadores lançaram mão de diferentes estratégias para sobreviver ao real apreciado em 2009 e pretendem, em 2010, aprofundar várias delas e buscar outras. Entre as alternativas adotadas estão aumento de preços, maior importação de insumos, uso de instrumentos financeiros, reforço do mercado interno e exploração de novos mercados. Em muitos casos, as soluções não impediram a destinação de uma fatia menor da produção para o exterior, mas garantiram embarques principalmente para as indústrias que não conseguem vender apenas para o mercado interno.

 

Na área de calçados, a Bibi e a Via Uno elevaram os preços de exportação. A Bibi, fabricante de calçados infantis de Parobé (RS), fez dois reajustes nos preços dos produtos exportados ao longo do ano para preservar níveis mínimos de rentabilidade. O primeiro, de cerca de 25%, foi aplicado em junho e em dezembro as novas tabelas estão sendo distribuídas com uma correção média de 5%, que fará diferença no caixa do próximo ano, disse a diretora de exportações da empresa, Andréa Kohlrausch. Conforme a executiva, os aumentos foram aplicados nas mudanças de estação, porque os importadores não aceitam reajustes dentro das mesmas coleções.

 

A Via Uno fez caminho semelhante. Segundo Fábio Oliveira, gerente de exportações da empresa, a coleção de inverno que começa a ser exportada agora sofreu reajuste médio de 15% a 20% em dólar em relação aos valores praticados em 2008. Ele credita a elevação ao maior valor agregado nos produtos, mas o reajuste também foi resultado do câmbio.

 

A tentativa de manter a rentabilidade das exportações com elevação de preços é uma tendência entre os manufaturados, acredita Júlio Callegari, economista do J.P. Morgan. Segundo dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), os preços médios das exportações totais do Brasil em setembro e outubro tiveram elevação de 7,83% na comparação com o trimestre de abril a junho. Apesar da recuperação, os preços médios ainda apresentam queda de 17,65% em relação a setembro e outubro do ano passado. "Há uma tendência de recuperação na ponta de preços nas commodities, que devem puxar valores de outros produtos", acredita . No caso dos manufaturados, diz, o reajuste deve continuar a acontecer como forma de compensação do câmbio. "A alteração, porém, deve resultar em perda de participação de mercado."

 

Andréa, diretora da Bibi, diz que os preços mais salgados provocaram recuo de pouco mais de 30% nos volumes embarcados em comparação com a média de pares registrada em anos anteriores. Em compensação, a Bibi colocou no mercado interno os calçados que deixou de exportar e vai fechar o ano com expansão de 16% a 20% em receitas. Segundo Andréa, o faturamento global da empresa deve apresentar leve alta em relação aos R$ 100 milhões de 2008, apesar da queda de 20% para 12% na participação do mercado externo no mesmo período.

 

Na Via Uno, a elevação de preços fez cair em 10% os calçados exportados para lojas multimarcas, onde a marca foi reposicionada, diz Oliveira, mas a queda foi compensada com o avanço das mercadorias vendidas por meio das franquias no exterior, que se expandiram este ano. Do volume de calçados que comercializa, a Via Uno exporta 50%. Segundo Oliveira, a empresa vai manter a fatia para o exterior no próximo ano. "De maneira alguma vamos deslocar vendas para o mercado interno."

 

A Bibi também continua acreditando nas vendas para fora do país. "O mercado interno vai crescer mais no ano que vem, mas não vamos abandonar as exportações", afirma Andréa. Com uma perspectiva de câmbio mais estável, a diretora espera o início da recuperação das vendas externas, com uma alta de 5% em relação a 2009. A empresa, diz, está ajustada para produzir os tênis destinados à exportação com o dólar entre R$ 1,70 e R$ 1,75. Uma nova avaliação do quadro será feita em abril ou maio, informa.

 

"As estratégias para continuar no mercado externo variam. Mas quem desistir agora e parar de exportar vai ter dificuldade para voltar", diz Welber Barral, secretário de Comércio Exterior. Ele estima elevação de cerca de 11% no valor total das exportações para 2010, levando em conta preços médios do segundo semestre de 2009 e dólar a R$ 1,75.

 

As cearenses Carnaúba do Brasil, fabricante de cera de carnaúba, e a Cearapi, produtora de mel orgânico, aproveitaram as oportunidades que tiveram para elevar preços. Segundo a gerente de exportações da Carnaúba do Brasil, Marina Azevedo, o reajuste já acumula 40% desde janeiro, estratégia que não impedirá uma queda de 30% esperada para o faturamento deste ano, quando comparado ao de 2008. Usada principalmente pela indústria de cosméticos, farmacêutica e de alimentos, a cera de carnaúba tem como principais destinos os Estados Unidos, a Alemanha e o Japão. "A demanda de nossos clientes caiu muito em função da crise financeira, mas já está se normalizando", diz Marina.

 

A Cearapi acabou reajustando preços, beneficiada pela conjuntura do mercado internacional de mel. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, a empresa exportou, de janeiro a outubro, quase o triplo do valor embarcado no mesmo período de 2008. Carolina Levy, sócia da Cearapi, conta que o crescimento é explicado pela grande demanda internacional pelo mel brasileiro, retomada com força após as sanções impostas pela União Europeia em 2006. Além disso, diz a executiva, houve grande procura pelo chamado mel light, mais claro, o que resultou em uma alta importante no preço internacional em 2009. Foi assim que a Cearapi conseguiu compensar o câmbio desfavorável, combinando a demanda pelo mel light e uma safra importante do produto na companhia.

 

Uma das maiores indústrias de louças cerâmicas do país, a catarinense Oxford tentou diversas estratégias para manter parte de seus produtos no exterior. A empresa chegou a abrir em 2009 um escritório de vendas no Líbano, em busca de novos mercados. Mas, segundo o presidente da Oxford, Volney Domingues, o novo escritório foi fechado três meses após a abertura. Ao contrário do que a empresa imaginava, o Oriente Médio ainda sentia no segundo semestre efeitos da crise econômica mundial.

 

A revisão da estratégia, contudo, não significa menor apetite pelas exportações em 2010. Domingues diz que a empresa vende ao Oriente Médio a partir da matriz no Brasil, além de tentar avançar na Argentina e nos EUA, que já foram seu maior mercado no exterior. As exportações deverão responder por cerca de 10% da receita líquida da empresa em 2009, que ficará em R$ 120 milhões, 20% maior do que em 2008. Em 2010, a meta é que as exportações também fiquem em torno de 10% da receita.

 

Roberto Campos, vice-presidente de marketing e negócios da Embraco, conta que a fabricante de compressores também tenta a diversificação de destinos. Seus mercados tradicionais são Europa e EUA. A estratégia, diz, é ampliar vendas para Ásia, África e Oriente Médio, com a oferta de produtos inovadores. A empresa deve fechar 2009 com cerca de 62% das suas vendas para o mercado externo. Em 2008, as exportações chegaram a 72%. A queda dos embarques, diz Campos, resultou em menor volume de produção total.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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