As exportações de carne bovina em dezembro já mostram que vão repetir o mesmo desempenho negativo de novembro. De acordo com números preliminares divulgados pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) já há quedas em receita e em volume. Até o dia 15 foram embarcadas 33,868 mil toneladas (equivalente carcaça), 26% menos do que o realizado no mesmo período de 2007. Em receita, foram US$ 124,2 milhões, queda de 18%. "Em novembro, tivemos a primeira queda em receita nas exportações depois de muitos anos. Tudo indica que isso se repetirá em dezembro e também no primeiro trimestre de 2009", diz Roberto Gianetti da Fonseca, presidente da entidade. O cenário fez a Abiec reverter a previsão de exportações para 2009 de crescimento para US$ 6,5 bilhões para, com otimismo, repetir o valor deste ano, que deve ficar entre US$ 5,3 bilhões e US$ 5,4 bilhões
As constatações têm como base a forte retração de crédito na Rússia, responsável por 37% de tudo o que o Brasil exporta de carne bovina in natura. "Houve uma ruptura de crédito na Rússia. As reservas estão caindo muito e, avalio que é alto o risco de o país pedir moratória", analisa Gianetti. Além disso, os outros dois maiores compradores de carne brasileira (Venezuela e Irã) são altamente dependentes de petróleo, cujo preço do barril despencou desde julho do patamar US$ 145 para US$ 40.
Gianetti disse ontem que está extremamente preocupado com a situação na Rússia. No mês de novembro, as compras deste país despencaram para US$ 43 milhões, ante os US$ 141 milhões de igual mês de 2007. Com isso, a Venezuela passou a primeiro maior importador em novembro com US$ 46,6 milhões. "Houve muita compra do governo Chavez para abastecimento interno", explica Luiz Carlos de Oliveira, diretor-executivo da Abiec.
A saída do setor será redirecionar o volume que deixará de embarcar à Rússia daqui em diante a outros compradores. As principais alternativas, no entanto, são mercados cuja recuperação pode não vir na velocidade necessária. Um deles é a União Européia, para onde os frigoríficos brasileiros pretendem vender entre 80 mil toneladas e 100 mil toneladas a mais do que os 100 mil toneladas deste ano. "Apesar de estar em recessão, a União Européia tem renda per capita alta, e não deixará de consumir carne". Além disso, segundo Gianetti, as margens dos pecuaristas europeus devem ficar apertadas com os preços das carnes caindo no mundo todo, o que aumentará as chances de essa recuperação se concretizar. "Vai ser difícil para os produtores europeus manterem o gado no jardim", ironiza o executivo da Abiec.
Os exportadores brasileiros também contam com a reabertura do mercado chileno para conseguir repetir o desempenho de 2008. A expectativa é que seja liberada a importação ao país sul americano no primeiro trimestre e que, no ano, esse país compre cerca de 100 mil toneladas. "Às vezes sentimos que o Chile age mais politicamente do que tecnicamente para aprovar o acordo sanitário com o Brasil. Até o Paraguai já tem autorização para importar aos chilenos. Se essa liberação demorar mais, há possibilidade de o Brasil retaliar. O salmão e a fruta chilenos que se cuidem", diz.
Veículo: Gazeta Mercantil