Os cerca de 34 frigoríficos de Mato Grosso param de funcionar a partir de hoje por falta de autorização para transportar animais. Os funcionários do órgão de defesa agropecuária do estado, o Indea-MT, estão em greve desde segunda-feira e, desde então, não estão sendo emitidas Guias de Trânsito de Animais (GTAs), sem as quais os frigoríficos não podem transportar bois ou suínos para abate. O JBS/Friboi, que possui quatro plantas em Mato Grosso, confirmou que foi atingido pelo efeito da paralisação e que, por isso, hoje não conseguirá abater bois nos unidades do estado. O presidente do Sindicato das Indústrias Frigoríficas de Mato Grosso (Sindifrigo), Luiz Antônio Freitas Martins, relata que não haverá abate bovino em praticamente nenhum frigorífico do estado. As empresas do setor, segundo ele, deixarão de faturar em torno de R$ 20 milhões por dia, valor que considera a receita média de R$ 1,1 mil por cada um dos 18 mil a 20 mil bois abatidos diariamente.
Esta é a quarta greve deflagrada neste ano pelos funcionários do Indea-MT. A categoria exige do governo Blairo Maggi a adoção de um plano de cargos e carreiras para equiparar salários defasados. A presidente do sindicato que representa os funcionários do Indea-MT, o Sintap, Diane Eire Dias, informou que até mais do que os 30% exigidos por lei dos serviços essenciais do órgão estão sendo mantidos. A prioridade, segundo ela, está em assegurar o status sanitário do estado, que é de livre de febre aftosa com vacinação, com fiscalização nos postos volantes e fixos, sobretudo a de fronteiras - Mato Grosso faz fronteira com a Bolívia, que não está livre da doença. "Priorizamos essas áreas essenciais. A emissão de GTA não está sendo feita e, inclusive, estamos com fiscais próximas às áreas dos frigoríficos multando indústrias que transportam animais sem o documento obrigatório", avisa Diane que informou que por mês o Indea emite em torno de 40 mil GTAs.
Entidades que representam pecuaristas em Mato Grosso obtiveram na Justiça liminar contra a greve do Indea, mas, segundo Diane, foram decretadas contra o Indea e não contra o Sintap. "Por isso, ainda não fomos notificados. E quando isso ocorrer, vamos acionar nosso departamento jurídico para recorrer da decisão", afirma a dirigente do sindicato.
Mato Grosso tem capacidade instalada para abater 26 mil cabeças por dia, volume que estava em 18 mil por causa da já conhecida escassez de boi no mercado, o que representava uma ociosidade de 30%. Mas nesta semana, por conta da suspensão da emissão de GTAs, essa ociosidade veio aumentando e ficou em torno de 50% até ontem, segundo Freitas. "As guias que foram emitidas até sexta-feira passada têm validade média de quatro dias. Assim, até hoje (ontem) havia alguma movimentação de animais. Mas amanhã (hoje) não haverá mais frigoríficos com autorização para transportar boi", diz Freitas.
Dos 34 frigoríficos com inspeção federal de Mato Grosso, 28 são exportadores. Destes, nove são autorizados a vender ao mercado europeu. Além do JBS/Friboi, outros frigoríficos de grande porte têm plantas de abate em Mato Grosso, entre eles, o Marfrig e o Bertin, além da Sadia. O Marfrig e o Bertin foram procurados ontem para comentar o assunto, mas não retornaram até o fechamento desta edição. A Sadia, que possui planta de abate de bovinos em Várzea Grande, cidade vizinha à capital mato-grossense, Cuiabá, informou que até agora não foi prejudicada pela greve no Indea.
Preços
A paralisação do abate de bovinos em Mato Grosso deve pressionar ainda mais o preço da arroba do boi na região, que já estava recuando por causa da redução de abate dos frigoríficos em todo o País, reflexo do arrefecimento das exportações. De acordo com a Secex, os embarques em novembro de carne in natura recuaram 36%. O mercado futuro está refletindo essas quedas. De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) somente nos três primeiros dias de dezembro, o indicador do boi gordo ESALQ/BM&FBovespa recuou 1,5%, passando para R$ 85,82 (à vista, em São Paulo).
Veículo: Gazeta Mercantil