As incertezas em decorrência da crise financeira internacional devem afetar o confinamento de bovinos no país no próximo ano. Pesquisa preliminar com pecuaristas associados da Assocon (que reúne 50 criadores do de seis Estados) indica intenção de ampliar o número de animais sob engorda intensiva, mas o próprio presidente da entidade, Ricardo Merola, avalia que não deve haver crescimento em 2009.
"Há incerteza lá fora. Estão dizendo que a Rússia pode deixar de comprar 150 mil toneladas de carne do Brasil", comentou durante coletiva ontem. Em outubro, as vendas de carne bovina do Brasil para a Rússia, seu maior cliente, praticamente pararam, por falta de crédito no país importador. E a situação ainda não se normalizou.
Segundo Merola, em 2008, os pecuaristas também tinham a intenção de elevar o número de animais confinados, mas a vontade foi "arrefecendo" no decorrer do ano por causa da alta do boi magro e do custo dos insumos para alimentação.
Pesquisa feita em março deste ano indicava previsão de aumento de 22%; em junho caiu para 20%, para 6% em agosto e para 1% em outubro, segundo Fábio Dias, diretor-executivo da Assocon. O resultado é que o confinamento nesse grupo de 50 pecuaristas, que foi de 541 mil animais em 2007, deve fechar 2008 em 549 mil bovinos. O número corresponde a cerca de 25% do que é confinado em todo o país atualmente.
De acordo com Dias, a falta de boi magro no mercado fez os pecuaristas reduzirem o ritmo dos confinamentos e fez com que alguns projetos fossem adiados. Em agosto, a arroba do boi magro chegou a R$ 110,00 enquanto o bezerro subiu 60% no período de um ano, segundo ele.
"Será a primeira vez em 10 anos que o confinamento não cresce a essa taxa de 20%", comentou Ricardo Merola, referindo-se ao ano de 2008.
Pesquisa feita há 10 dias pela Assocon com seus associados indica que 39% pretendem aumentar o confinamento ano que vem enquanto 61% devem manter. A mesma pesquisa mostrou que 61% acham que o preço do boi gordo deve ficar estável em 2009; 23% acham que sobe e 16% que baixa. Para o boi magro, a expectativa de 30% é que os preços fiquem estáveis, 30% de que subam e 32% de que recuem.
Apesar do resultado do levantamento, a Assocon é cautelosa. "O ano de 2009 vai depender do preço [do boi] e do custo com alimentação", disse Dias. Para ele, o cenário está indeterminado porque apesar do menor de custo de insumos como milho, o mercado futuro indica preços depreciados para o boi gordo em outubro (levado em conta por ser o pico da entressafra em algumas regiões) do ano que vem. Ontem, o boi para outubro de 2009 fechou a R$ 85,19 na BM&F, queda de 2,31% no dia.
Além desse quadro, os confinadores também sofrem com restrição de crédito. "Já começou a quebrar confinador", disse Merola. Há alguns anos, foram os pequenos, mas em 2008 também grandes tiveram que se desfazer de seus negócios, segundo ele, afirmando que isso não ocorreu entre pecuaristas associados da entidade.
Alexandre Martins, que confinou 9.800 animais em Rio Brilhante (MS) este ano, concorda que tudo dependerá do mercado, da oferta de boi magro e de crédito em 2009. Sua meta é ambiciosa: ampliar em 50% o confinamento em sua propriedade.
Veículo: Valor Econômico