Tragédia em Santa Catarina leva perdas também à pesca

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O presidente da Gomes da Costa (GDC), Alberto Encinas, espanhol que está à frente das operações da empresa no Brasil desde o início do ano, esteve semana passada em Itajaí (SC) verificando pessoalmente os efeitos da enchente sobre o parque fabril da empresa, sediada às margens do Itajaí-Açu, rio que transbordou no dia 22 de novembro e causou a maior catástrofe de Santa Catarina, até ontem com 116 pessoas mortas. 

 

"Tentei chegar na empresa na segunda-feira passada, mas não consegui. Só cheguei na terça-feira pelo 'ferryboat', que cruza Navegantes até Itajaí. E depois só consegui chegar até a fábrica de caminhão", contou. A GDC possui duas unidades em Itajaí, uma fábrica de embalagens, com 100 funcionários, que não foi afetada, e a sua unidade principal, com 1,3 mil trabalhadores, onde registrou os maiores problemas. 

 

O executivo não revelou os valores das perdas porque isso está ainda sendo calculado, mas relata que a empresa ficou alagada, com água com até 1 metro de altura, perdeu parte de equipamentos elétricos, precisou comprar peças novas como compressores e cerca de 70% dos seus trabalhadores foram afetados diretamente pela enchente em graus diferentes. Por enquanto, cerca de 700 pessoas de um contingente de 1,3 mil trabalhadores da fábrica principal já neste início de semana tinham retornado, ajudando na limpeza e secagem das máquinas. 

 

Encinas comentou que, apesar da localização à beira do rio, essa foi a primeira inundação que a empresa sofreu desde que se instalou em Itajaí, em 1998. Segundo ele, foi o momento mais difícil que a Calvo, empresa espanhola que comprou a GDC em 2004, sofreu no país. 

 

Assim como a Gomes da Costa, diversas outras empresas de Itajaí do setor pesqueiro tiveram perdas decorrentes das inundações, e após a água baixar, tentam agora retomar os negócios. 

 

O presidente da Vitalmar e do Sindicato da Indústria de Pesca de Itajaí (Sindipi), Dario Luiz Vitali, afirmou que os prejuízos preliminares já registrados somam cerca de R$ 80 milhões em todo o setor, o que envolve empresas como Femepe, Leardini e a própria Vitalmar. "Mas ainda estamos fazendo o levantamento porque várias indústrias foram inundadas e estão ainda com as atividades paralisadas. Muitas ainda vão ficar paradas por muito tempo", ressaltou. 

 

O seu cálculo envolve os dias parados até agora desde sábado, dia 22, e os prejuízos com perda de máquinas e estrutura física. O Sindipi possui 260 associados entre pequenas, médias e grandes empresas, com cerca de 5 mil trabalhadores no total, e praticamente nenhuma escapou. "O problema se tornou conjuntural. Nós aqui nem mais falamos de crise econômica mundial. As conseqüências ruins que esperávamos para janeiro por conta da crise, já chegaram agora para nós e em doses bem maiores". 

 

Vitali destacou que a Femepe, também fabricante de conservas de peixe, perdeu estoques e teve equipamentos danificados. A Leardini perdeu parte da sua estrutura física, com desabamento da sua área de descarga de produtos. A própria Vitalmar viu a água no seu parque fabril subir a 1,60 metro de altura e ele calcula que o prejuízo chegou a R$ 4 milhões. Ele explicou que na segunda-feira, alguns funcionários da empresa voltaram às atividades, mas de forma precária porque muitos ainda não puderam comparecer, dado o tamanho da tragédia. "Esse primeiro dia de trabalho também foi só para a limpeza. Creio que uma produção mais perto da normalidade somente a partir desta quarta-feira". 

 

Na GDC, a volta normal às atividades também deve ocorrer nesta quarta-feira, depois de 10 dias parada. "Na terça-feira, restabelecemos as caldeiras e vamos voltar a produzir, o que é quase um milagre, considerando que há uma semana a fábrica estava alagada", explica Encinas, que acrescentou que as matérias-primas não foram afetadas porque estavam a uma altura maior. 

 

Durante os últimos 10 dias, o Rio Itajaí-Açu esteve fechado para pesca, assim como não era recomendado embarcação no mar da região, que ainda estava agitado. De acordo com o secretário de pesca do município de Itajaí, Antonio Carlos Momm, ontem a pesca já estava permitida na área, mas ainda assim pouca gente conseguia voltar à atividade. "Algumas embarcações que estavam fora no fim de semana da enchente tiveram que parar em outros locais, como em Rio Grande (RS), e vão demorar para voltar ao trabalho porque muitas vezes o próprio pescador parou o barco nesses locais e veio para Itajaí por terra para ajudar seus familiares". 

 

Momm tem cálculos similares ao do Sindipi em relação às perdas: estima R$ 5 milhões por dia de atividade parada até agora e outros R$ 25 milhões em ativos fixos. Mas espera tempo maior para a retomada normal das atividades: 15 dias. "As indústrias precisam recompor suas máquinas, limpar seus pátios e as máquinas vão ainda ter de ser esterilizadas novamente para receber o pescado". Momm explicou que em geral, de cada 20 trabalhadores, aparecem quatro ou cinco para trabalhar atualmente. 

 

De acordo com dados do Sindipi, a pesca em Itajaí chegará neste ano a 200 mil toneladas, sendo um dos principais pólos pesqueiros do país. Na região, ocorre com intensidade a pesca de atum, tainha e sardinha. O setor na última semana também pediu ajuda ao governo federal para se reconstruir. Vitali disse que são necessárias linhas de capital de giro para as atividades do dia-a-dia, além de recursos específicos para compra de novas embarcações. O setor também pediu anistia por 12 meses do pagamento de impostos federais. 

 

Veículo: Valor Econômico


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