A fragilizada condição financeira da Sadia S.A., que em setembro tinha registrado mais de R$ 620 milhões em prejuízos com derivativos, ajudou a reforçar o rumor de que a companhia está "batendo de porta-em-porta" atrás de um sócio. O fundo de investimentos Advent, que no setor de alimentação tem participação em redes de restaurantes, como Viena e Frango Assado, informou ontem, por meio de sua assessoria de imprensa, que seus gestores foram procurados por representantes da companhia que estaria interessada em negociar participação na companhia. "Mas o fundo não tem interesse no negócio, pois tem atuação voltada ao varejo", informou a assessoria.
Além do Advent, analistas acreditam que a empresa pode estar tentando negociar a venda para outros fundos, como Tarpon Investment Group, Gávea Investimentos, que recentemente comprou participação no grupo Cosan, e até o GP Investimentos, que não tem o perfil de investir em empresas para ser minoritário, mas que também seria, neste momento, alvo da Sadia.
A companhia de alimentos negou, por meio de sua assessoria, que tenha procurado o Advent ou qualquer outro fundo em busca de compradores. Mas a condição frágil da empresa acabou ressuscitado ontem no mercado um outro rumor: a de que o BNDESPar - que está ampliando sua participação em empresas de alimentos, principalmente frigoríficos - estaria estudando financiar uma operação de fusão da Sadia com a Perdigão em troca de participação acionária na "nova empresa". As duas companhias negaram o rumor.
Analistas consideram a possibilidade da operação coerente, do ponto de vista de sinergias que seriam geradas, mas enxergam como difícil de ser aprovada pelos órgãos de defesa econômica. "No setor de congelados e industrializados, as duas empresas iriam controlar cerca de 60% do mercado. O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) iria bloquear essa operação", acredita Peter Ping Ho, analista da Planner Corretora.
Esse tipo de impedimento é considerado questionável na prática, segundo analistas. Isso porque na história recente de fusões de grande porte no Brasil há vetos que não se concretizaram. É o caso da compra da Garoto pela Nestlé, em 2002, que foi julgada em 2004 pelo Cade, que negou a operação por considerar que a nova empresa teria 58% do mercado brasileiro. A Nestlé recorreu à Justiça e o processo tramita até hoje.
Se confirmado, o rumor de que a Perdigão compraria a Sadia com aporte do BNDES seria o troco dado pela Perdigão pela oferta hostil feita em 2006 quando a Sadia chegou a oferecer R$ 3,88 bilhões pelo controle da Perdigão, oferta que foi recusada pelos fundos de pensão, principais acionistas da Perdigão. Ontem, as ações da Sadia e da Perdigão recuaram - as da Sadia caíram 6,12% - mas, segundo Ping Ho, da Planner, a oscilação foi resultado de movimento técnico do mercado, na inexistência de fundamentos.
Perdigão
Enquanto a Sadia busca capital para ser recuperar do rombo causado pelas perdas em derivativos, a Perdigão informou ontem que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) liberou R$ 283,7 milhões à companhia em empréstimos já aprovados referentes a projetos de investimento expansão de capacidade. Ainda, em reunião ontem, o Conselho de Administração da Perdigão aprovou a segunda fase da reestruturação societária e de negócios das companhias que foram adquiridas.
Veículo: Gazeta Mercantil