Nova suspeita sobre a Sadia chega à CVM

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Informação privilegiada teria sido usada em negociação com ações da Sadia antes da divulgação de perdas 

 

A Comissão de Valores Mobiliários investiga o possível uso de informação privilegiada em negociação com ações da Sadia antes da divulgação, em 25 de setembro, das perdas com derivativos. No dia 10 deste mês, a autarquia encaminhou o assunto à gerência de acompanhamento de mercado. A CVM não comentou o assunto, apenas explicou que a medida não indica abertura de inquérito. Os relatórios mensais enviados pela Sadia à CVM com a movimentação de ações por executivos e pessoas do bloco de controle da empresa mostram que a diretoria negociou papéis em setembro em volume superior ao restante do ano. Também movimentaram ações enquanto dialogavam com bancos sobre as perdas. Procurada, a empresa não comentou o assunto. 

 

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) está investigando suspeita de uso de informação privilegiada em negociação com ações da Sadia antes do fato relevante, em 25 de setembro, que anunciou as perdas com derivativos. No dia 10 deste mês, a autarquia encaminhou o assunto à gerência de acompanhamento de mercado. A CVM não comentou o tema, apenas explicou que a medida não indica abertura de inquérito. 

 

Os relatórios mensais encaminhados pela companhia à CVM com a movimentação de ações por executivos e pessoas do bloco de controle da empresa - documento obrigatório - mostram que a diretoria negociou papéis em setembro. Os controladores também, na fase de diálogo com bancos sobre as perdas. 

 

Essa não é a primeira vez que a Sadia está envolvida em problemas do tipo. Em 2007, o ex-diretor financeiro da companhia Luiz Gonzaga Murat e o ex-conselheiro e membro da família controladora Romano Ancelmo Fontana Filho fizeram acordo com a Securities Exchange Commission (SEC) por uso de informações privilegiada na negociação com ações (ADS) da rival Perdigão, por conta da tentativa de aquisição da companhia com uma oferta hostil em julho de 2006. Murat desembolsou US$ 364,4 mil no acordo com a SEC e Fontana Filho, US$ 316,7 mil. Os executivos também foram inabilitados pela CVM para atuarem em companhias abertas. 

 

Procurada, a Sadia não comentou o assunto nem mesmo explicou se adotou procedimentos de segurança para melhoria dos controles de informação e dos executivos desde o escândalo ligada à oferta pela Perdigão. 

 

No Brasil, o uso de informação privilegiada constitui crime de ação penal pública e infringe a Lei das Sociedades por Ações. 

 

O relatório encaminhado à CVM mostra que em setembro a diretoria vendeu o equivalente a R$ 185 mil em ações preferenciais no dia 12. Trata-se do mesmo dia em que a empresa começou a desmontar parte das operações com derivativos, que trouxeram prejuízo superior a R$ 890 milhões no resultado do terceiro trimestre e anularam as chances da companhia de registrar lucro no acumulado de 2008. 

 

A informação de que a liquidação dos contratos com derivativos começou no dia 12 foi fornecida à repórter Cristiane Perini Lucchesi, do Valor, pelo próprio presidente da Sadia, Gilberto Tomazoni, em entrevista no dia 25. 

 

Também em setembro, pessoas do bloco de controle venderam o equivalente a R$ 512 mil em ações preferenciais entre os dias 9 e 15 e compraram R$ 1,2 milhão depois de divulgarem o prejuízo com derivativos, nos dias 26 e 29. 

 

Ao longo deste ano, as movimentações realizadas pelos controladores, conselheiros e diretores foram por meio das corretoras Concórdia, do próprio grupo Sadia, e Coinvalores, pertencente ao genro do maior acionista da Sadia, Osório Furlan. 

 

A suspeita de que empresas brasileiras perderam dinheiro com derivativos que envolviam opções de venda de dólar pairava sobre o mercado cerca de duas semanas antes de a Sadia anunciar os prejuízos. Quando a companhia divulgou, pouco se sabia a respeito dos contratos arriscados que prejudicaram também outras empresas, inclusive de capital fechado. 

 

O histórico de 2008 dos relatórios da Sadia encaminhados à CVM mostra que os controladores são bastante ativos nas negociações de ações. O que pode ser explicado pela presença de muitas pessoas no acordo de acionistas, boa parte delas sem participação direta na gestão dos negócios. A política de negociação de ações da Sadia por executivos, conforme regra da CVM, veda a movimentação no período cuja situação em curso configure fato relevante. 

 

A suspeita de que houve uso de informação privilegiada desta vez existe no mercado desde o fato relevante. O comunicado sobre os prejuízos foi encaminhado à CVM após o fechamento do pregão do dia 25. Naquele dia, as ações preferenciais recuaram 2,0%, enquanto o Índice Bovespa fechou em alta de 4,0%. O volume financeiro transacionado, de R$ 64,5 milhões, foi superior à média da companhia de R$ 24,5 milhões, ao longo do ano. 

 

A Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, quando pediu à Sadia uma assembléia para esclarecer o problema dos derivativos também colocou na pauta a solicitação de um relatório com movimentação das ações nas datas anteriores ao fato relevante. O tema, porém, foi retirado da pauta com anuência da própria fundação. Na época, questionada, a Previ alegou que não cabe a ela investigar e sua inciativa já despertava atenção. 

 

Em outubro, as movimentações pelos conselheiros e diretores não apenas seguiu como se intensificou. Membros do conselho de administração fizeram a maior movimentação do ano com papéis: investiram R$ 5,6 milhões em preferenciais. As operações ocorreram no dia 1º do mês. Já a diretoria, na primeira quinzena do mês, vendeu o equivalente a R$ 448 mil e comprou R$ 365,9 mil. 

 

A Sadia divulgou o balanço do terceiro trimestre no dia 29 de outubro. Foi quando o mercado soube que a companhia ainda não havia se enquadrado a sua própria política de risco (limite de US$ 1,5 bilhão de posição vendida em dólar), ao contrário do que havia anunciado quando fez a primeira divulgação dos prejuízos. 

 

Em 30 de setembro, a empresa havia reduzido sua posição vendida em dólar de US$ 7,6 bilhões para US$ 6,4 bilhões e montado posição comprada de US$ 4 bilhões. Ainda assim, num cenário de dólar a R$ 2,20, poderia perder mais R$ 2,5 bilhões com a exposição mantida. Até o momento, a empresa não anunciou a liquidação dos contratos mantidos. (Colaborou Ana Paula Ragazzi) 

 

Veículo: Valor Econômico


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