Acionistas da Sadia ganham com boatos sobre aquisição

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A Nestlé vendendo frango? Sim. Essa foi a última "aposta" do mercado de capitais nos últimos dois dias. Um boato de que a multinacional suíça iria comprar a fragilizada Sadia S.A. fez as ações da companhia brasileira acumularem alta de 15% nos últimos dois pregões na BM&FBovespa, mais que o dobro dos 6,67% da variação do Ibovespa no mesmo período. As duas empresas negaram o rumor que, não se sabe como exatamente começou, mas foi mais amplamente difundido no mercado depois que foi publicado em um blog na internet na última segunda-feira. "Digamos que a temporada de boatos está aberta. Outros devem surgir. As empresas estão muito debilitadas com essa falta de crédito. Trata-se, portanto, de um ambiente propício para esse tipo de operação, como fusões e aquisições, e, obviamente, para o surgimento e propagação desses boatos", explica José Eduardo Amato Balian, professor do Departamento de Economia da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

 

No caso Sadia, a "semente" do boato foi plantada pelo próprio presidente da Nestlé do Brasil, Ivan Zurita, que divulgou no início de novembro que sua empresa iria fazer neste ano aquisição de uma empresa de "alimentos" no Brasil, o que atiçou a "imaginação" do mercado, conforme explica Denise Messer, da Brascan Corretora. "Dada a situação da Sadia, que está com valor de mercado baixo, resolveram jogar esse boato no mercado, que elevou as ações da companhia. Além disso, as ações da empresa caíram bastante por causa das perdas com derivativos, o que também pode ter contribuído para esse movimento de alta", avalia Denise.

 

Peter Ping Ho, analista da Planner Corretora, diz que foi impressionante o aumento no volume negociado nos papéis da Sadia durante a manhã de ontem, antes dos desmentidos das duas empresas. "O mercado levou o boato a sério, e o volume negociado das ações da empresa chegou a atingir ontem R$ 52 milhões, quando esse valor vinha de um patamar de R$ 24 milhões - e chegou a bater até R$ 14 milhões em dias de pessimismo no mercado", compara Ping Ho.

 

Mas a inconsistência da operação refletiu-se, depois, no fechamento do pregão. Ontem as ações da empresa chegaram a valorizar-se 15% durante o dia, uma das maiores valorizações da bolsa, mas fecharam em alta ínfima de 0,3% - de R$ 3,35 para R$ 3,36.

 

A assessoria da Sadia negou o rumor de aquisição pela Nestlé que, segundo o mercado, seria, de fato, uma operação "incoerente". "Não faz sentido. As duas empresas têm portifólios diferentes. Se a Nestlé efetivasse essa compra iria conseguir sinergias em poucos produtos e teria que fragmentar a empresa. Mais coerente seria se a Tysson Foods fizesse a aquisição, pois elas estão no mesmo ramo de negócios", afirma o especialista da Planner.

 

Mas a incoerência, segundo ele, está no fato de a Nestlé comprar a Sadia, mas não de a empresa brasileira, de fato, precisar de capital neste momento, que poderia ser aportado, por exemplo, por meio de aquisições ou fusões.Na estimativa de Ping Ho, a Sadia precisaria neste momento de, pelo menos, o dobro do que ela perdeu em derivativos para continuar crescendo, o que significaria algo próximo de R$ 1,5 bilhão, quase duas vezes o seu EBITDA (geração de caixa) dos nove meses deste ano, que foi de R$ 820 milhões.

 

"Além de ter tido o prejuízo e ainda estar exposta a perdas maiores, a companhia está agora diante de um dólar mais valorizado e uma taxa de juros mais elevada. O valor que aplicaria no projeto de construção de uma indústria no Oriente Médio, por exemplo, é outro neste momento", explica Ping Ho.

 

Assim, na avaliação do especialista da Planner, sem o aporte de mais capital para investir a Sadia apenas vai continuar com suas operações e mal vai conseguir fazer ajustes na unidades que adquiriu no ano passado para otimizar as plantas industriais ao padrão da empresa. "Isso significará perda de mercado", afirma.

 

Boatos históricos

 

O último grande boato do setor de alimentos ocorreu em 5 dezembro de 2007, quando a notícia de que a Kraft Foods estava negociando a compra da Perdigão fez as ações da companhia brasileira subirem 4,9% em um dia, mais que o dobro do Ibovespa, que encerrou esse dia em alta de 2,27%.

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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