Pagamento do 13º influencia mais o consumo de cortes bovinos mais baratos

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PARA O VAREJISTA, MUITAS VEZES É MAIS LUCRATIVO COMERCIALIZAR UM CORTE BOVINO MAIS CARO COM MARGEM MENOR DO QUE UM MAIS BARATO COM MARGEM MAIOR

 

A influência do pagamento do 13º salário no consumo de carne bovina é um fenômeno que merece atenção, pois acaba por se refletir nos preços recebidos por todos os elos da cadeia produtiva e até mesmo em outras cadeias de produção de alimentos.
Na terça-feira, as empresas pagaram a primeira parcela do 13º; no dia 20 deste mês, pagarão a segunda.

 

É senso comum que o aumento da massa salarial leva ao aumento do consumo, mas persistem várias dúvidas a respeito de como esse aumento se distribui.
Isso ocorreria também sobre itens de consumo essenciais, como alimentos e especificamente no caso das carnes, por exemplo?

 

Entre os diversos cortes disponíveis, quais seriam os mais influenciados?
O consumo de carnes alternativas típicas do período natalino e de final de ano tem alguma influência no consumo e nos preços de cortes bovinos mais nobres, normalmente substituídos pelo consumo das mesmas?

 

Embora não se possam obter respostas definitivas às questões acima propostas, uma análise das margens brutas praticadas pelo varejo (supermercados) para diversos cortes bovinos na cidade de São Paulo pode ser esclarecedora.

 

Observa-se que os cortes bovinos comercializados no varejo pelos menores valores absolutos (e, portanto, mais consumidos pelos estratos de menor renda), como lagarto (média de cinco anos de R$ 11,03 por quilo), acém (média de R$ 7,53) e músculo (média de R$ 7,59), registram exatamente no mês de dezembro as maiores margens de lucratividade para os varejistas.

 

Em oposição, a picanha (preço médio de cinco anos de R$ 21,14 por quilo) registra a menor margem no mesmo mês de dezembro.
Deve-se ressaltar que, para um estabelecimento varejista, muitas vezes é mais lucrativo comercializar um corte bovino mais caro com margem menor do que um mais barato com margem maior.

 

Isso ocorre, por exemplo, com o filé-mignon, que, na média dos meses de outubro dos últimos cinco anos, comercializado na sua menor margem, rendeu um lucro bruto por quilo, para o estabelecimento varejista, cerca de 220% maior do que o do acém comercializado na média do mês de maior margem (dezembro).

 

Essas estatísticas parecem indicar que os estabelecimentos varejistas se aproveitam do ganho de renda representado pelo recebimento do 13º salário para ampliar as suas margens de lucro na comercialização dos cortes bovinos mais populares.

 

Ao mesmo tempo, estreitam seus ganhos relativos para os cortes bovinos de maior valor, pois os consumidores típicos desses cortes são menos estimulados pelo acréscimo de renda representado pelo 13º salário e, muito possivelmente, mais propensos ao consumo de carnes alternativas mais sofisticadas.(JOSÉ VICENTE FERRAZ é engenheiro-agrônomo e diretor técnico da AgraFNP)

 

Veículo: Folha de S.Paulo


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