Preço ou rótulo? Como o brasileiro está comprando vinho

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O enófilo, escritor, consultor e palestrante Carlos Cabral, estuda o universo dos vinhos desde 1969, ou seja, há 51 anos.

 

Em 1980, fundou a Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho (Sbav) e atualmente é consultor nacional de vinhos do Grupo Pão de Açúcar, definindo os rótulos que estarão nas prateleiras dos supermercados e sendo responsável pela formação do grupo de atendentes de vinhos especializados, que orientam os clientes nas compras. Alías, quando a novidade foi incorporada às lojas do Grupo, mudou a forma de comprar vinhos em um supermercado.

 

Com a pandemia da Covid 19 e o fechamento de bares e restaurantes, o segmento mais beneficiado foi o de vinhos e espumantes, cujas vendas cresceram 12% entre janeiro e maio de 2020, na comparação com o mesmo período de 2019 – um desempenho que surpreendeu até mesmo especialistas na área e empresários do setor.

 

O crescimento veio na esteira de uma ampliação do consumo per capita: depois de uma década chegando próximo a dois litros por ano, o país superou essa marca pela primeira vez em 2019, mas ainda é pouco se comparado a outros países. A seguir, em entrevista exclusiva ao portal NEWTRADE, Cabral aborda o consumo, o momento atual, as vendas e ainda dá dicas para quem quer saber mais sobre vinhos.

 

Como avalia o atual momento de consumo de vinho no País?

Está em forte crescimento devido a alguns fatores que são: a proibição de trabalho imposta aos restaurantes, a descoberta de que vinho é uma bebida que se partilha e a família agora está mais unida devido às restrições de circulação, as fortes campanhas de vendas pelo e-commerce e também a política de ofertas de supermercados.

 

O brasileiro está consumindo e comprando mais vinhos durante esse momento de convívio restrito?

Sim, o convívio leva a essa agradável situação, partilhar em casa, sem necessariamente fazer uma prova ou degustação de exibição, fato que ocorre muito nos almoços e jantares empresariais. Cada família teve uma oportunidade de eleger seu vinho predileto! Tudo isso é compensado pelo fato de se estar em casa e não ter que usar automóvel para se locomover e evitar assim acidentes.

 

O paladar do brasileiro está mais apurado ou ele ainda compra pelo preço na gôndola?

O paladar apurado é um bom privilégio de uma minoria que tomava vinho regularmente ou que é um enófilo praticante. Ainda o fator preço é determinante, pelo baixo consumo de 2,13 litros per capita, o Brasil está ainda na fase embrionária de definir com muita segurança o seu paladar. Nossa própria vitivinicultura nos favorece a isso, estão surgindo pelo território nacional diversas vinícolas, que começam a explorar suas características de solos que darão origem a diversos estilos de vinhos, este é um aprendizado longo, mas que não tem volta, o apreciador de vinhos só melhora a cada dia que prova uma taça, e assim forma sua lista de preferências com mais segurança. Tanto o vinho nacional como o importado tem em nosso câmbio flutuante e na carga tributária os seus maiores inimigos.

 

O Brasil vem se destacando com a sua produção de vinhos e champanhes nas últimas duas décadas. O que falta para o consumo aumentar?

Em primeiro lugar tem que ter fim à guerra fiscal entre Estados e uma redução nos impostos, pois há nesse segmento muita bitributação sobre os insumos. Está provado que o consumidor brasileiro deseja mais e melhor, mas os preços são a grande barreira, pois as bebidas mais populares tem impostos menores e uma política agressiva de Marketing , Promoção e Propaganda, o vinho ainda não consegue recursos para tal. Os espumantes são a grande porta de entrada no mundo do vinho. Esse produto já é o carro chefe de nossa jovem identidade vinícola, a juventude o entende bem, e com o passar do tempo, apura-se ainda mais na escolha e parte-se para os tipos brancos, tintos e rosés maduros.

 

O dólar alto desfavorece o produto importado. Como o varejo trabalha?

O dólar alto prejudica muito á aqueles que estão iniciando, o consumidor consciente e que faz do vinho uma de suas predileções, pode reduzir o consumo, mas sempre irá buscar o vinho que mais lhe agrada. O varejo sempre leva de 60 a 90 dias para passar o custo real da variação cambial, como faz grande compras pode trabalhar com um dólar de preço médio, mas uma hora, caso a lata se mantenha, ela chegará ao consumidor final. Não se pode é perder o entusiasmo, mesmo com o câmbio alto.
Vinho bom é vinho. Sempre foi e sempre será o vinho que você gosta. O preço é só uma referência, que procede, pois há vinhos com 200 anos de história e de produção limitada, mas sempre foi e sempre será para poucos. O consumidor deve e pode exercer sua total liberdade na hora da escolha e o vinho escolhido pelo nome ou valor, pode ou não agradá-lo, daí o importante é desfrutar o momento e guardar ou não o vinho na memória.


Fonte: Newtrade 


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