Um longo caminho da sedução ao conforto

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O que passa pela cabeça de uma mulher quando compra lingerie? E de um homem, quando faz o mesmo? Ainda que a mulher em questão faça o estilo Sarah Jessica Parker, no papel da Carrie de "Sex and the City", a resposta não é tão óbvia quanto parece. Da sedução ao conforto, um extenso trajeto permeia a criação e confecção do underwear feminino. Mas ao contrário da moda praia, na qual é vanguarda no mundo, em termos de lingerie o Brasil ainda tem pouco para mostrar. 

 

"Acho que o Brasil está em processo de evolução, mas ainda falta um longo caminho para que a gente possa se equiparar à qualidade e diversidade internacional. As nossas maiores deficiências são os tecidos, a cartela de cores, os elásticos e os aviamentos em geral. Talvez o que falta seja dar à lingerie um tratamento de moda", diz a consultora Helena Montanarini, que cita a grife carioca Verve como uma das poucas que está nessa direção. 

 

A primeira diferença entre a Verve e as grandes marcas que dominam o mercado é que ela segue o calendário da moda e lança quatro coleções por ano. Como acontece em países como Itália, França e Estados Unidos, por exemplo, há uma busca para unir beleza e conforto numa visão contemporânea, que contempla tamanhos maiores e tecidos antes impensáveis para roupa íntima. 

 

Após viver cinco anos nos Estados Unidos e de se habituar aos números de sutiã internacionais, que variam conforme o tamanho do bojo e das costas - e que só agora estão sendo introduzidos aqui -, a executiva Mariana Lima sentiu dificuldades em se readaptar às opções nacionais. Empreendeu, então, uma longa pesquisa para verificar se havia espaço para uma marca que trouxesse um novo conceito. Sua experiência de vários anos no departamento de marketing da Souza Cruz a ajudou a repensar a lingerie produzida no Brasil sob o ponto de vista mercadológico. 

 

Apesar de perceber que havia, sim, um mercado potencial para algo diferente, Mariana enfrentou a falta de entusiasmo pela mudança. "Eu estava querendo quebrar um paradigma e as pessoas não acreditavam: do pessoal da tecelagem, que não queria vender por considerar os tecidos inadequados para lingerie, aos ateliês de confecção, que diziam que não ia dar certo e me achavam maluca. Eu sentia que ninguém queria pensar a lingerie de outra forma", conta. 

 

De uma feira francesa do setor, a empresária trouxe moldes, bojos e modelos. Mas não conseguia montá-los aqui. Telefonava, então, para a França em busca de auxílio e recebia respostas desanimadoras: "Nós lhe vendemos insumos, não somos uma confecção, quem deve saber fazer o produto é sua costureira". Num momento de aflição, Mariana chegou a comprar dezenas de sutiãs importados de vários tamanhos e começou a desmanchá-los para entender sua lógica. 

 

Nove meses depois, em 2002, quando já estava totalmente descapitalizada, abriu as portas numa pequena galeria no Leblon, na zona sul do Rio de Janeiro. Hoje são seis lojas -três no Rio, duas em São Paulo e uma em Brasília. No primeiro ano, a Verve cresceu 200% e nos seguintes tem dobrado de tamanho. A expectativa para 2009 é de dobrar também o número de lojas e de manter a ambição de atender várias faixas etárias: da estudante universitária à sua avó. 

 

Ao estudar o mercado, uma das primeiras conclusões de Mariana Lima foi de que no Brasil existiam basicamente dois tipos de lingeries. As que tinham por objetivo a sedução e primavam pelo desconforto e as do dia-a-dia, feias e sem charme, que ninguém queria ser visto com elas. "Pensei contemplar uma consumidora que comprasse para ela e não para o outro, embora pudesse, eventualmente, ter a oportunidade de se mostrar para alguém". 

 

Com todos os fetiches que envolvem a lingerie, Mariana tem visto pouquíssimos homens fazerem compras para suas namoradas ou mulheres. Em compensação, já viu várias mulheres voltarem no dia seguinte em busca de variantes da mesma peça porque tinham agradado seus parceiros. "Tenho a impressão de que a brasileira ainda tem um padrão estético muito estereotipado, excessivamente preocupado com aparências. Se a gente pensar por aí dá para entender as dificuldades do mercado de lingerie. Embora o sutiã já venha sendo há muitos anos convidado para aparecer, a lingerie, de um modo geral, é algo que não se vê, que está escondido. Então, por que, as pessoas vão investir em algo oculto?". 

 

A idéia de que a sensualidade passa obrigatoriamente por estereótipos do tipo rendas pretas ou vermelhas também já está ficando velha, na opinião de Mariana. Ela acredita que em breve o mercado vai passar por uma grande reviravolta. "O mercado acordou. Sei que não somos únicas, mas pioneiras na compreensão de uma outra mulher e de uma sensualidade mais sutil". 

 

No fim deste ano a Verve vai entrar no universo masculino com cuecas de malha de algodão egípcio e elástico colorido. "Não agüento mais aquelas cuecas com o nome da marca impresso no elástico, como fazem todas as confecções". A decisão é, mais uma vez, fruto da observação e da pesquisa. "Mais de 80% das compras de cuecas são feitas pelas mulheres. Vou, assim, prestar um serviço adicional para minhas clientes". 

 

Veículo: Valor Econômico


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