Mercado aquecido faz executivos de TI mudarem mais rápido

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Há pouco mais de um ano, Ítalo Flammia negociou sua saída da Natura, empresa onde atuou como CIO (Chief Information Officer) por seis anos. Em seu lugar, assumiu Alexandre Vasconcelos, que por conta da saída de Ney Santos do Pão de Açúcar, ficou só um mês no cargo. Santos, por sua vez, foi para o lugar de Marcos Caldas, que saiu da Sadia para ser o CIO da Gol Linhas Aéreas, vaga aberta desde a saída de Paulo Nascimento, que foi para a Azul, também do setor de aviação. Tudo isso aconteceu do começo do ano até agosto. 

 

Essa movimentação atípica entre os executivos da área de tecnologia se intensificou devido ao efeito cascata, que inundou o setor. Ou seja, mesmo com suas empresas crescendo, os profissionais estão trocando de organização ou área. São dezenas de mudanças num espaço muito curto de tempo, prova de que o turnover de CIOs no Brasil - que segundo o Gartner em 2007 já era 30% acima do registrado com profissionais do mesmo posto em outros países - deverá crescer ainda mais este ano. "O tempo médio de um CIO estrangeiro no cargo em 2007 era de 4,3 anos e, no Brasil, 3,6 anos", afirma Ione Coco, vice-presidente de programas executivos para a América Latina do Gartner, especializado em análises na área de tecnologia da informação (TI). Tanto por aqui quanto no resto do mundo, os números são menores do que os registrados em 2006, de 7,6 anos nos demais países pesquisados e de 5,2 anos no Brasil. 

 

Entre as razões para tanta movimentação, estão poucas críticas à performance dos executivos. A maior responsável por tamanha dança das cadeiras entre os gestores de tecnologia é a própria agitação da economia nacional. Primeiro porque isso fez com que várias empresas abrissem capital na bolsa de valores (o que exige disciplina de processos e leva a uma maior cobrança em cima de projetos conduzidos por CIOs) e segundo porque empresas locais se internacionalizaram, exigindo habilidades diferentes dos executivos. Tal crescimento fez surgir até cargos inéditos em empresas do setor, como o de CIO global em corporações como a Friboi, Gerdau e Vale. Além disso, muitas companhias passaram a buscar um perfil diferenciado para a função, de acordo com seu momento. "Existem CIOs para tempo de guerra e outros para tempo de paz", resume Ione. As mudanças, portanto, também ocorrem porque alguns profissionais são bons para reduzir custos e unificar operações após uma fusão, mas não são promissores para apoiar crescimento e inovação - ou vice-versa. 

 

O sócio-diretor da empresa de recrutamento executivo Korn/Ferry, Jairo Okret, responsável pela prática de tecnologia, diz que apenas 10% das mudanças aconteceram em função da aposentadoria de profissionais. Outros fatores são divididos em partes iguais: a transformação da maneira como a área de TI é vista, dando destaque para um CIO mais estratégico e menos operacional; o aumento das exigências, que cansam e fazem com que eles busquem mudanças na carreira; e o surgimento de companhias representativas após a onda de IPOs, abrindo novas oportunidades de trabalho. "Como falta mão-de-obra qualificada, algumas empresas transferem o CIO para o negócio e formam outro gestor para a área de tecnologia", afirma. 

 

De qualquer forma, a previsão dos especialistas do setor é que o movimento de executivos deve continuar. O presidente do Grupo de Executivos de Tecnologia da Informação (GETI), Rogério Nunes, acredita que haverá uma mudança ainda maior na área. Ele lembra que o Gartner apresentou uma pesquisa mostrando que 11% dos CIOs no mundo já assumem outras funções além da TI, contra 5% no Brasil. Hoje os executivos do setor têm uma postura mais estratégica e querem estar mais ligados ao negócio. "Quando não conseguem isso onde estão, acabam indo para outra empresa começar do zero", explica. 

 

A movimentação do setor também não é surpresa para Aline Zimmerman, sócia da Fesa. O aquecimento do mercado espalhou o calor entre os executivos, que buscaram boas oportunidades. "TI hoje é core e sempre tem alguém oferecendo um projeto mais atraente, um desafio interessante ou um destaque maior", afirma. Marcos Caldas, que ficou na Sadia 2,8 anos, depois de passar 17 na Alcoa, diz que mudou para a Gol por várias razões: não se adaptou a Curitiba (PR), onde fica a sede da empresa de alimentos e se interessou pelo desafio de estar numa empresa jovem, de uma vertical diferente daquelas pelas quais havia passado. Também vislumbrou a oportunidade de poder usar mais sua criatividade para inovar. 

 

O caso de Caldas é parecido com o de Vera Marques, que depois de seis anos na Basf, mudou de indústria e foi para o setor farmacêutico, na Roche. "Para mudar, considerei o fato desse segmento ter um forte cunho de inovação, a relação com as áreas de negócios, o modelo globalizado e ao mesmo tempo independente, além da proposta financeira", enumera. Segundo ela, há também que se considerar hoje que os CIOs andam cansados e muito pressionados para reduzir custos. Na pressão, quando aparecem ofertas, eles mudam. Isso acontece mesmo que suas empresas atuais também estejam crescendo. 

 

"A área de TI traz um desgaste natural, ficar por muito tempo numa empresa enche a paciência, a relação fica ruim; isso é unânime", explica um executivo que prefere não se identificar. Ele, assim como outros colegas, concordam que, principalmente em tempos de crise, precisam automatizar vários sistemas para que outras áreas reduzam custos, o que gera mais trabalho. E, pior, eles têm que fazer isso e cortar gastos como os demais departamentos. E para realizar essa tarefa ingrata, contam com prazos apertados. Somado a tudo isso, está o fato de que o ritmo da movimentação entre executivos de TI estava muito baixo até 2006. "É preciso ter novas perspectivas profissionais", diz a headhunter Fátima Zorzato, country manager da Russell Reynolds no Brasil.
 


Alguns executivos hoje mudam antes de atingir o próprio limite e amadurecer a estadia no empregador. Keiji Sakai saiu do Deutsch Bank depois de oito anos e ficou apenas sete meses no HSBC, quando decidiu ser CIO no JP Morgan. "Eu estava com o sentimento de missão cumprida no banco alemão e sentia vontade de buscar coisas novas, o que coincidiu com um mercado aquecido", conta. Mas duas mudanças num prazo tão curto? Assim como Caldas, ele disse que foi mais difícil do que pensou ficar em Curitiba, longe da família. Mas o assédio que sofreu mostra que o setor está realmente agitado. "Em seis meses recebi quatro ou cinco ligações de headhunters", revela. 

 

A CIO Regina Pistelli também mudou de empresa no último semestre. Saiu da Medial Saúde em junho para assumir o mesmo cargo no grupo ABC, dono de 13 agências de propaganda, como DM9DDB e Africa. Ela acredita que fatores como a onda de IPOs, a atuação internacional das empresas, as regras mais rígidas e uma maior atuação nos negócios mudaram a rotina de CIOs. "Alguns não estavam preparados para trocar de chapéu e por isso mudaram o empregador", diz. 

 

Veículo: Valor Econômico


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