Empresários investem para formar talentos

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Com a falta de centros de formação profissional, gritante em áreas como engenharia, consultoria, tecnologia da informação e logística, empresas do setor de serviços estão sendo obrigadas a investir, em média, R$ 2 milhões ao ano, para formar os próprios profissionais.

A transportadora Coopercarga chega a aplicar 30% do lucro líquido da empresa na educação de empregados, atingindo um investimento de R$ 2,2 milhões na formação de profissionais, sendo a metade desse valor somente para a formação de motoristas. "Nós somos mantenedores da Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte (Fabet), para que os motoristas passem por cursos de reciclagem de seis em seis meses", afirmou o presidente da empresa, Osni Roman, em entrevista ao DCI.

Já o banco Bradesco, apontado por especialistas em Recursos Humanos como uma referência na formação da própria mão de obra, prevê um investimento de R$ 142 milhões em educação profissional até o fim deste ano e já planeja a inauguração de uma universidade corporativa em maio de 2014.

"Esse valor é voltado ao investimento na educação continuada como um todo. A universidade foi fruto de alguns ajustes e construída gradativamente. Teremos nove escolas ligadas às competências requeridas por cada cargo dentro da empresa", disse a diretora de recursos humanos do banco, Glaucimar Peticov, em entrevista ao DCI.

Na hotelaria, a gigante Accor, também apontada como exemplo na formação de mão de obra para os próprios empreendimentos, investe, globalmente, cerca de R$ 144,4 milhões por ano no programa Universidade Corporativa Academie, existente há 20 anos.

A empresa oferece cursos que variam de aulas a distância, com curta duração, a programas mais longos, para a formação de profissionais para a manipulação de alimentos, por exemplo.

A empresa informou ao DCI que prefere investir na formação dos empregados, já que o setor hoteleiro exige aptidões específicas, que nem sempre são facilmente encontradas em profissionais no mercado de trabalho.

Custos

Segundo o diretor da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), Luiz Edmundo Rosa, qualificar os funcionários tem sido a alternativa mais barata para as empresas, já que as vagas que demandam formação específica chegam a ficar até um ano abertas, impedindo que a empresa produza durante esse período e acarretando custos com o processo seletivo.

"Ou a empresa assume que esse problema também é dela e toma uma atitude de investir em educação corporativa, ou gasta até um ano fazendo processos seletivos para encontrar alguém formado", disse, em entrevista ao DCI. "Isso porque um processo seletivo longo custa muito dinheiro para a empresa, deixar essa posição vaga é muito oneroso. É sempre mais barato, então, investir em educação", concluiu.

Rosa também destaca que a formação de um profissional pela educação corporativa pode aumentar o tempo de permanência do funcionário na empresa. "Quando eu formo um profissional, essa pessoa tende a ficar mais tempo na empresa. O que é contratado pronto, está no mercado para ver quem dá R$ 100,00 a mais. Há uma certa pirataria nesse setor, uma empresa 'rouba' o empregado da outra", disse.

No caso do Bradesco, por exemplo, a formação de mão de obra é a única forma de contratação para cargos mais altos.

"Nós não temos um processo de seleção ou admissão, a não ser para cargos iniciais. A nossa tarefa já será de desenvolvimento desse profissional para cargos futuros", explicou Glaucimar. "Hoje temos extensões de treinamento em 14 capitais. Agimos fazendo um mapeamento de competências, que identifica funções que merecem aprimoramento. Para isso usamos dados objetivos sobre o que cada profissional precisa para atender à demanda do segmento onde ele atua", concluiu.

O tempo apontado por Rosa como a média para um processo seletivo, entretanto, de 9 meses com a vaga em aberto, é confirmado pela Coopercarga, que reitera a preparação da própria mão de obra como a melhor solução para o problema.

Áreas

Segundo o diretor da ABRH, os setores mais afetados hoje pela falta de empregados qualificados são os ligados a engenharia, consultoria e tecnologia da informação. "Nós estamos formando apenas 1,8 milhão de pessoas no Brasil, segundo o último Censo Escolar", explicou. "A formação de gente para essas áreas também é carente. Dos 6,7 milhões de universitários no Brasil, 1,1 milhão está estudando administração, 650 mil estão estudando direito, enquanto faltam engenheiro, biólogos, químicos", concluiu.

De acordo com Rosa, "é mais fácil para a universidade criar cursos que não necessitem, por exemplo, de laboratórios e consultórios, mas apenas de aulas teóricas. Sai mais barato".

Rosa alerta, no entanto, que a deficiência no ensino superior, pela falta de cursos ou pela ineficiência dos mesmos, não é o único problema na formação profissional dos brasileiros.

Dados do Ministério da Educação revelam que a média da educação nacional do País não passa de 3,8, em uma escada que vai de zero a dez. O número é resultado da mais recente avaliação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), realizada em 2011.

Além disso, especialistas em RH apontam a redução de 15% nas matrículas de alunos no ensino médio nos últimos 10 anos como um dos principais fatores na redução da oferta de mão de obra qualificada no Brasil.

No caso da Coopercarga, que tem uma grande demanda por conhecimentos técnicos específicos, a defasagem é evidente. "Esse é um grande problema, não só do setor de transportes, mas da economia brasileira, na verdade. Nosso setor tem peculiaridades em que a falta de mão de obra se agrava, mas a falta de profissionais é um grande problema, para todas as empresas ", disse Roman.



Veículo: DCI


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