Para produtores, reajustes são insuficientes

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A indústria de alimentos reconhece que não conseguiu repassar totalmente o aumento de custos verificado nos últimos meses e se queixa de que as margens estão muito apertadas. A cooperativa Aurora, de Santa Catarina, que produz suínos, frangos, leite e derivados, conseguiu fazer reajuste apenas parcial dos preços para compensar a elevação de custos, que veio principalmente dos aumentos da soja e do milho, diz o presidente Mário Lanznáster.
 


Segundo ele, a maior alta de custos se deu nos suínos. A alta repassada ao varejo ficou entre 16% e 18% no primeiro semestre em relação a igual período de 2007. De acordo com a cooperativa, esse foi o reajuste que o varejo aceitou sem diminuir o volume de compras, mas não foi suficiente para contrabalançar a pressão de custos. "A indústria de carnes em geral neste ano está operando em forte aperto, com prejuízo. O varejo chorou um pouco em relação a esses aumentos, mas a indústria não pode ceder mais", diz Lanznáster.
 

 
A M. Dias Branco, fabricante de massas, biscoitos, farinhas e margarinas, tem conseguido repassar com dificuldade o aumento de custos em seus principais insumos - trigo e óleo - para seus compradores. "Em uma economia estável, negociar reajustes é sempre algo complicado", diz Marcos Viveiros, diretor de controladoria da empresa. No ano passado, a elevação dos preços das matérias-primas foi bem expressiva e não foi possível fazer todo o reajuste necessário. Neste ano, segundo Viveiros, o trigo já mostra estabilidade e abre-se oportunidade para uma recuperação mais robusta das margens.
 

 
O diretor-presidente do laticínio paranaense Líder, Fortunato Bérgamo, diz que o leite não é culpado pela alta de preços. "Quando falam em inflação, deviam tirar o setor lácteo da história. Nessa mesma época do ano passado, o litro de leite longa vida era vendido por R$ 2,05 no varejo. Hoje é encontrado por R$ 1,35", compara.
 

 
Enrique Traver, diretor da Imcopa, fabricante de óleo de soja do Paraná, afirma que o setor segue preços internacionais e não há margem para negociação entre indústria e varejo. "Acompanhamos a bolsa e nossa margem é pequena, de 2% a 3%", diz. "Não deixamos de efetuar vendas e não perdemos clientes. Negociamos tudo o que produzimos", explica o executivo. Segundo Traver, o varejista não tem muita opção para recusar os repasses. "Se ele não pagar o preço de mercado, não compra, e a produção é exportada."
 

 
Fabricante de item nada essencial à dieta alimentar, a Coca-Cola também começa a se preocupar com o aumento dos seus principais insumos: açúcar, garrafas PET e latas de aço. "Não vendemos um produto de primeira necessidade, então ele é facilmente cortado da lista de compras ", explica Luiz Collier, diretor financeiro da Coca-Cola Guararapes, engarrafadora para Pernambuco e Paraíba.
 

 
Por enquanto, a empresa tem mantido os preços, o que lhe garantiu a manutenção da participação de mercado. Para isso, intensificou a negociação com os fornecedores. "Acabou a época das vacas gordas, quando o varejo aceitava facilmente o aumento de preços", diz Collier. O temor é que os consumidores da região se voltem para as tubaínas, os refrigerantes de pequenos fabricantes, que foram deixados um pouco de lado com o ganho de renda da população.

 

Veículo: Valor Econômico


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