Indústria gasta menos em pesquisa e lançamentos

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A indústria alimentícia do Brasil freou o ritmo de lançamentos no primeiro semestre deste ano para tentar enxugar custos e absorver o impacto da alta de preços das matérias primas. No intuito de repassar ao consumidor o menor aumento possível, os fabricantes diminuíram em 26% no primeiro semestre do ano (na comparação com igual período de 2007) o investimento em lançamentos de produtos, verbas de promoção, divulgação, marketing e publicidade. O total ficou em R$ 861 milhões. De janeiro a junho do ano passado, o gasto ficou em R$ 1,16 bilhão. 


Em pesquisa e desenvolvimento de novidades, o recuo foi ainda maior: 41% em relação ao primeiro semestre de 2007, chegando a R$ 32 milhões este ano. 


Os dados são da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia), que pesquisa as informações com os seus 200 associados, responsáveis por cerca de 70% da produção nacional, entre eles, empresas de grande porte como Nestlé, Unilever e Danone. 


Os números mostram que, assustados com a alta das commodities que se arrasta desde o final de 2007, os fabricantes decidiram segurar as novidades e apostar nos itens que já faziam parte da linha. É uma mudança importante de estratégia uma vez que, no primeiro semestre de 2007, a indústria alimentícia bateu o recorde histórico de lançamentos. 


"Os velhos produtos estavam vendendo bem e os fabricantes não quiserem ir muito além, até por conta da instabilidade da situação mundial", afirma Edmundo Klotz, presidente da Abia. O executivo garante, no entanto, que "o pior já passou" e que as empresas devem voltar a investir com fôlego no segundo semestre, período que costuma ser o mais forte para os resultados. 


Apesar do cenário sisudo e do passo lento da indústria, houve aumento do consumo na primeira metade deste ano, segundo a Abia. As vendas reais da indústria de janeiro a junho cresceram 4,58%, para R$ 108,6 bilhões (considerando alimentos e bebidas alcoólicas e não-alcoólicas). Enquanto isso, o volume total produzido cresceu 7,97%. "O setor já está preparado para absorver a alta nas vendas deste ano, uma vez que trabalha com 72,8% da capacidade instalada", afirma Klotz. A meta é registrar este ano um faturamento nominal de R$ 268 bilhões, valor 16,2% superior aos R$ 230,6 bilhões registrados em 2007, quando o aumento da receita foi de 10,6%. 

As vendas cresceram quase 8% no primeiro semestre porque o consumidor economiza mais em outros setores

 
"Tivemos uma alta de 5% no consumo interno entre janeiro e junho deste ano, sendo que, no mesmo período do ano passado, esse índice foi de 4%", afirma Amílcar Lacerda, gerente do departamento de economia e estatística da entidade. "Mesmo com a alta do preço dos alimentos, o consumidor continuou aumentando seus gastos, graças aos maiores índices de emprego e da renda", diz. 


A fabricante de massas e biscoitos M. Dias Branco é um reflexo disso. A empresa, dona das marcas de massas, biscoitos, margarinas e óleos Adria, Isabela, Basilar, Fortaleza, Richester, Puro Sabor, Finna e Vitarella, sofreu com o aumento das matérias-primas e teve que repassar a elevação para o preço de seus produtos. Com isso, os biscoitos da marca subiram 9% no semestre, as massas 20,5%, a farinha de trigo 36% e as margarinas e óleos, 27%. Mesmo com altas tão salgadas, a M. Dias Branco registrou aumento de vendas em volume de 8% no período. "Parte disso se deve à aquisição da pernambucana Vitarella, produtora de biscoitos e massas", diz Álvaro de Paula, diretor de investimentos e de relações com investidores da companhia. 


Se a aquisição da Vitarella , feita em abril deste ano, fosse excluída , o resultado da M. Dias Branco também teria melhorado. "Desconsiderando a compra da marca, o crescimento ficou em 1,7%", afirma o executivo. 


Isso acontece segundo ele, porque o preço médio dos produtos da empresa, mesmo com a alta, continuam baratos. Um quilo de macarrão da M. Dias Branco, por exemplo, está em R$ 2,86. A mesma quantidade de margarina está cotada em R$ 3,51."Nossos produtos têm baixo valor agregado. O consumidor escolhe economizar em outros setores, que não alimentação", afirma. "Quando, no varejo, os preços subiram, houve uma certa queda em nossas vendas, sim. Mas logo foi anulada e voltamos ao crescimento, que deve perdurar até o final do ano", declara. Tanto é que as marcas de massas registraram aumento na quantidade vendida em de até 29% na comparação entre os semestres. 


Da mesma forma - e apesar de toda dificuldade imposta pela alta das matérias primas -, as exportações também cresceram, com alta de 25,5% em valor, para US$ 15,3 bilhões, segundo a Abia. Em volume, entretanto, houve recuo de 3,6% em volume, atingindo 19,7 milhões de toneladas. "O real mais valorizado segura o crescimento das vendas", afirma Denis Ribeiro, diretor do departamento de economia e estatística da Abia. Segundo Klotz, o Brasil precisa aumentar a investida com produtos de maior valor agregado no exterior. 


"A indústria alimentícia brasileira ainda não rompeu a barreira de 1% de todo o comércio internacional", diz Klotz. Ribeiro arremata. "Podemos aproveitar esse momento de redução nos estoques mundiais de alimentos para crescer mais lá fora", afirma o diretor. Em compensação, a importação de alimentos industrializados no primeiro semestre aumentou 48,1% em valor, para US$ 1,57 bilhão, e 30% em volume, para 1,15 milhão de toneladas. 


O mercado de alimentação fora do lar (food service) também teve crescimento. "No primeiro trimestre, o crescimento do faturamento da indústria com o food service foi de 12%, que acabou recuando para 7% no segundo trimestre, mas continua em escala ascendente", afirma Amílcar Lacerda. 


Veículo: Valor Econômico


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