Queda do preço do leite pode aliviar inflação

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Mesmo que pequena (0,64%), queda pode ‘contaminar’ outros produtos alimentícios

 

O leite, que até junho acumulava inflação superior a 13% nos últimos 12 meses, finalmente deu uma trégua ao bolso do consumidor. Em julho, houve queda de preço nas duas versões mais consumidas pelos paulistanos: o tipo B (- 0,64% em relação ao mês anterior) e o in natura (leite vendido em saquinhos, que ficou 0,11% mais barato).


“Por ser um produto de consumo obrigatório, especialmente entre as crianças, o leite é um dos itens com maior peso individual no orçamento das famílias”, afirma Cornélia Porto, coordenadora do Índice do Custo de Vida (ICV) do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). “Por isso, a queda de preços, ainda que pequena, é motivo de comemoração. Ela alivia o bolso do consumidor e também ajuda a diminuir o ritmo da inflação geral.”


O resultado foi atípico para um mês de julho. Por se tratar de um período de poucas chuvas, o pasto cresce menos, o gado fica magro e a produção de leite diminui. Por conseqüência, o produto fica mais caro. Em julho de 2007, por exemplo, o preço do leite tipo B subiu 8,03% e do in natura, 7,95%. “Era um cenário muito diferente do atual. Naquela época, o consumo do produto estava crescendo, tanto no mercado interno como externo”, explica o economista Éder Pinatti, do Instituto de Economia Agrícola do Estado de São Paulo (IEA).


Neste ano, a situação se inverteu. O consumo caiu, e, para evitar perdas ainda maiores, os produtores, a indústria e os supermercados resolveram baixar os preços. “Como em 2008 a inflação atingiu alimentos essenciais e encareceu a compra de supermercado, muitas pessoas diminuíram o consumo de leite para equilibrar a conta”, declara Martinho Paiva Moreira, vice-presidente de Comunicação da Associação Paulista de Supermercados (Apas), apontando uma queda de aproximadamente 5% nas vendas do produto. “As empresas iniciaram uma disputa de preços e os supermercados também reagiram, levando um produto mais barato ao consumidor final.”


Como o leite tem validade curta, não vendê-lo dentro do prazo de consumo significa perder todo o investimento. “Nós não podemos dar férias para as vacas e reduzir nosso custo de produção”, brinca Jorge Rubez, presidente da Associação Brasileira de Produtores de Leite (Leite Brasil). “Portanto, a única saída é diminuir as margens de lucro e evitar que o leite encalhe em nossas mãos.”


Rubez acredita que a bebida pode ficar ainda mais barata nos próximos meses. “Como em setembro se inicia o período de chuvas, a produção deve aumentar, e o preço, conseqüentemente, vai cair mais”, analisa o presidente da Leite Brasil, prevendo que o País produza 27 bilhões de litros em 2008.


Caso a projeção se confirme, o leite pode deixar de ser vilão e se transformar em herói. “Ao lado do pão, do trigo e dos óleos, o leite deve ser um dos alimentos que mais irão colaborar para que a inflação seja reduzida até o fim do ano”, declara Cornélia Porto, do Dieese.


Bolso apertado


A família da manicure Patrícia Vieira, de 35 anos, consome cerca de três caixas de leite longa vida por semana - fora a lata de leite em pó, destinada ao pequeno Ryan, de dois meses. “E não dá para comprar menos, porque leite é essencial, né?” Por isso, quando viu o preço do produto subir no começo do ano, a manicure mudou de marca. Ela diz que ainda não sentiu no bolso a redução de preços. “Mas, se cair mais, poderemos voltar a comprar a marca que comprávamos antes da inflação.”


AS DIFERENÇAS


Tipo A: é um leite mais concentrado e mais ‘limpo’, com maior teor de gordura e menos bactérias. É a versão mais cara

Tipo B: por ter ordenha manual, há uma quantidade maior de bactérias. Ele sofre adição de água

Tipo C: é bem mais aguado e tem maior concentração de bactérias. Seu sabor é diferente, e o odor é mais forte

In natura: é mais barato, mas a desvantagem está na higiene.

Envasado em saquinhos, o líquido fica sujeito a contaminações


Veículo: Jornal da Tarde


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