Uso de moeda local soma menos de 2%

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Comércio exterior: Transações entre Brasil e Argentina ainda são majoritariamente em dólar


 
O uso de moedas locais nos negócios entre Brasil e Argentina ainda representa menos de 2% do comércio bilateral, mas começa a consolidar-se como alternativa para pequenas e médias empresas, com um detalhe: até agora tem sido praticamente uma via de mão única. Em outubro, o sistema de pagamento em reais e pesos, que dispensa o uso de dólares, envolveu 185 operações e alcançou um recorde desde a sua implantação, segundo novo relatório da Banco Central da Argentina (BCRA).

 

No mês passado, passaram pelo mecanismo exportações e importações no valor de 152 milhões de pesos (cerca de R$ 68 milhões) - volume ligeiramente inferior ao registrado em setembro. Isso equivale a 1,7% da corrente de comércio em outubro.

 
 
No entanto, os exportadores brasileiros dominam mais de 99% desse sistema. Números do BC do Brasil indicam que as vendas à Argentina com pagamento em moeda local foram de R$ 75 milhões em setembro e de R$ 62 milhões em outubro. Na direção contrária, só R$ 325 mil em exportações argentinas para o Brasil usaram o sistema que dispensa os dólares.

 

Para o BCRA, trata-se de uma "diferença cultural", já que os argentinos resistem a abandonar as transações em moeda americana. Funcionários brasileiros também avaliam que o hábito do uso do dólar como referência na Argentina faz com que sejam irrisórias as exportações daquele país ao Brasil com moeda local.

 

A Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB) vê uma explicação de caráter prático. "Os argentinos praticamente não têm riscos de pagamento por falta de divisas do Brasil. Mas os brasileiros podem enfrentar problemas para receber da Argentina se não garantem suas operações pelo CCR", afirma José Augusto de Castro, vice-presidente da associação.

 

O curioso é que, embora sócios e unânimes na decisão de ampliar o comércio bilateral sem o uso de dólar, Brasil e Argentina ainda não entraram em acordo quando se tratam das estatísticas que mostram o resultado desse sistema.

 

Em outubro, segundo dados do Banco Central do Brasil, o número de exportações brasileiras com o uso de moeda local, sem necessidade de troca por dólares, chegou a 170, um aumento de 24% em relação ao recorde de setembro e muito além das três operações registradas no mesmo mês do ano passado. As importações de produtos argentinos usando o SML foram oito, acima das cinco de setembro mas abaixo das dez registradas em agosto e março. No total, foram 178 operações.

 

Para o BCRA, os maiores usuários têm sido pequenas e médias empresas, já que 97% das operações feitas até hoje ficaram abaixo de R$ 2,250 milhões. "O benefício principal reside na economia que o sistema de moedas locais gera nos custos de transação, tanto financeiros quanto administrativos", diz o relatório. Esses custos podem chegar a 3% do volume das operações, acrescenta o BCRA.

 

Castro concorda. "As grandes empresas têm mais capacidade de negociar melhor a taxa cambial e diminuir o risco das variações", afirma. Para ele, o uso de reais e pesos no comércio dos países é "uma ferramenta a mais, mas não necessariamente a melhor". O principal obstáculo ao crescimento das operações é a falta de linhas de crédito para oferecer, ao exportador, o pré-pagamento de suas vendas em moeda local, acrescenta.

 

"Esse tipo de linha de crédito, ainda escassa em ambos os sistemas financeiros, resultará no complemento necessário para que o sistema de moedas locais incremente a sua participação", reforça o BCRA. Mas a autoridade monetária argentina considera positivo o fato de que não houve problemas operacionais no primeiro ano do mecanismo e o volume de comércio coberto por ele cresceu. (Colaborou Sergio Leo, de Brasília)
 


Veículo: Valor Econômico


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