Empresário quer mais crédito e juro menor, apesar da crise

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O setor produtivo concorda com o governo ao dizer que o País está mais bem preparado para enfrentar a atual crise financeira, mas os empresários acreditam que o Brasil poderia aproveitar melhor a situação para garantir um crescimento econômico maior nesse momento de fragilidade externa. "Nós não estamos isolados e sofremos influências, mas não podemos ser covardes. O governo não pode ter uma posição conservadora nesse momento", afirmou o presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Benjamin Steinbruch. Para ele, o Banco Central foi "extremamente conservador" na política de juros altos e perdeu a oportunidade de permitir que a iniciativa privada intensificasse os investimentos.

 

As altas taxas de juros e a inflação são os principais fatores que estariam travando a economia brasileira, na avaliação do ex-ministro da Fazenda, Luiz Carlos Bresser-Pereira. "Por isso estamos crescendo com taxas substancialmente menores do que o Brasil poderia", afirma o economista. Segundo ele, a taxa de câmbio praticada no País é outro empecilho para o crescimento. Já o presidente da CSN acredita que o Brasil vive um "equilíbrio instável", enquanto outros países estão diante de um "desequilíbrio estável", e por isso o momento é propício para o governo brasileiro incentivar as empresas nacionais para evitar o desaparecimento de investimentos. "O País tem empresas sólidas, agora cabe uma definição do que queremos para o nosso futuro. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ajuda, mas não resolve".

 

Outra crítica feita pelo empresário é que o governo deveria "irrigar" a economia brasileira para não perder a costume de levar para frente o crescimento. "Acredito que a situação continua muito favorável, mas se não houver uma definição deixaremos escapar o crescimento mais uma vez. Gostaria que o governo tomasse a iniciativa de dar mais crédito, manter a liquidez e fazer com que o consumo continue", afirmou o presidente da CSN.

 

Para ele, é "inaceitável" que o governo brasileiro mantenha a atual política monetária conservadora considerando "todas as situações favoráveis" para o País. "Temos de ser cautelosos, mas não podemos ser covardes. Até agora o Brasil foi covarde na maneira de encarar a sua posição diferenciada", disse Steinbruch. Em seu entendimento, a situação dos bancos internacionais é complicada e a tendência é de agravamento. "Do ponto de vista do sistema financeiro brasileiro não se ouve falar nada. Pelo contrário. A posição dos bancos brasileiros é exatamente a oposta", analisa.

 

Segundo ele, antigamente, em momentos de crise externa, a tendência dos investidores era sair do Brasil e ir para ativos estrangeiros, mas agora ele acredita que o movimento tende a ser contrário. "Ontem a minha primeira preocupação foi ver onde estava o dinheiro da CSN, em que bancos. Felizmente a maioria está em bancos brasileiros, como BB [Banco do Brasil], Itaú e Bradesco", disse.

 

Governo

 

A crise financeira nos Estados Unidos foi o tema dominante da reunião do grupo de coordenação, no Palácio do Planalto. Segundo assessores do Planalto, durante o encontro, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fez uma exposição sobre como está a situação hoje e a avaliação do governo é de que é preciso continuar acompanhando a crise com atenção porque ela está maior do que as expectativas anteriores indicavam. No Planalto, as avaliações são de que, apesar das preocupações, o Brasil está em condições que nunca esteve antes de enfrentar esse tipo de situação porque a economia está estabilizada, está em ordem, os fundamentos são sólidos e as reservas são altas (US$ 200 bilhões).

 

Análise

 

Na avaliação do ex-ministro da Fazenda, Antônio Delfim Netto, a desaceleração da economia mundial deve provocar um movimento deflacionário global que vai diminuir as pressões externas, sobretudo de commodities, sobre os índices de preços no Brasil. Nesse contexto, ele acredita que o desaquecimento do PIB global vai ajudar muito o Banco Central na tarefa de levar a inflação ao centro da meta de 4,5% em 2009. Para ele, contudo, apesar do trabalho do BC ter "ficado muito mais fácil" com a deflação que vem do exterior, ele não tem certeza de que o Copom vai antecipar o movimento de redução de juros, que para muitos analistas deverá ocorrer a partir do início do segundo semestre de 2009. "O BC dá um peso enorme para o excesso de demanda. Estou convencido que boa parte da inflação interna veio do aumento dos preços das commodities. Assim, se o BC tivesse elevado os juros em 100 pontos-base até agora, ao invés de 250 pontos-base, teria surtido rigorosamente o mesmo efeito [na inflação], com a diferença que teria muito menos custos ao País", disse. Um desses custos seria o fiscal, pois o aumento dos juros eleva as despesas do Tesouro para financiar a dívida interna em títulos públicos, que atingiu R$ 1,202 trilhão em julho.

 


Veículo: DCI


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