Governo pode adotar corte de gás em térmicas

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Segundo Lobão, medida faz parte de plano de contingência que está pronto

 

O governo brasileiro pode cortar gás de termoelétricas, de indústrias e até dos automóveis para compensar um eventual agravamento no corte do fornecimento do gás natural da Bolívia. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse ontem que o ministério possui um plano de contingência pronto para entrar em vigor em casos extremos de redução da oferta.

 

“O governo tem um plano de contingência. Se nós tivéssemos passado por uma situação de extrema dificuldade, o adotaríamos. Mas (por ora) não é necessário”, disse Lobão.

 

As autoridades brasileiras tomaram um susto na manhã de ontem com a informação de que um novo incidente na Bolívia, ocorrido na madrugada, teria aumentado de 3 milhões de metros cúbicos por dia para cerca de 15 milhões de metros cúbicos diários o corte no envio de gás natural. Segundo Lobão, duas válvulas de gasodutos foram desligadas por causa da ação de manifestantes.

 

O desligamento da segunda válvula, que elevou o estrago para cerca de 15 milhões de metros cúbicos (metade do gás comprado pelo Brasil) chegou a causar preocupação em São Paulo, principal mercado do gás andino. Mas, ao longo do dia, o problema foi contornado. Restou, portanto, o corte de apenas 3 milhões de metros cúbicos, causado por um incêndio na quarta-feira.

 

Segundo Lobão, o fogo já foi controlado e os técnicos brasileiros e bolivianos apenas aguardam o resfriamento da válvula para que volte a funcionar. “Se tudo correr bem, em dois ou três dias a situação se normaliza”, disse o ministro.

 

Segundo ele, a redução de 3 milhões de metros cúbicos diários não é um problema. O governo já mandou desligar uma térmica da Petrobrás, a de Fernando Gasparian, em São Paulo, para poupar gás. Essa usina consome 1 milhão de metros cúbicos de gás por dia.

 

Lobão explicou, contudo, que, se a situação na Bolívia voltar a se agravar, o Brasil terá de pôr em funcionamento o plano de contingência. Segundo ele, entre as medidas está a retirada do gás de todas as térmicas da Petrobrás e da Eletrobrás movidas a esse combustível.

 

Do ponto de vista do sistema elétrico, essa medida pode ter seus efeitos atenuados pelo fato de que algumas dessas usinas funcionam também com óleo. Outra eventual providência seria a suspensão da injeção de gás no processo de extração de petróleo.

 

Além disso, Lobão afirmou que as indústrias que contam com suprimento de gás podem funcionar com o óleo diesel temporariamente. No caso dos usuários de automóvel movido a gás, Lobão disse que uma eventual redução no abastecimento de Gás Natural Veicular (GNV) só ocorreria “em última hipótese”. O ministro deixou claro que as eventuais medidas não necessariamente foram citadas na ordem em que poderão ser executadas.

 

Ao ser questionado sobre se o plano de contingência poderia poupar 31 milhões de metros cúbicos diários, volume total do fornecimento previsto no contrato entre Brasil e Bolívia,o ministro respondeu: “Pode chegar.”

 

SP anunciou medida para reduzir consumo

 

O Governo do Estado de São Paulo já tem um plano de contingenciamento fechado caso a Bolívia interrompa o fornecimento de gás natural para o Brasil. Ontem, depois de problemas no suprimento, que resultou em cortes de até 50% na oferta do insumo durante a madrugada, a secretária de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo, Dilma Pena, chegou a anunciar a implementação do plano de redução de consumo.

 

Com a normalização no fornecimento do combustível no decorrer do dia, ela voltou atrás e suspendeu a medida no início da noite. A decisão intempestiva da secretária, no entanto, mostrou aos consumidores o que virá pela frente caso o conflito na Bolívia persista e afete o suprimento de gás natural para o Brasil.

 

Segundo a secretária, a prioridade é a manutenção da integridade do sistema e, para isso, existem alguns critérios técnicos que serão adotados”, explicou a representante do governo paulista, no início da manhã de ontem. De acordo ela, outro princípio norteador do plano de contingência é compatibilizar a redução do fornecimento do insumo com processo produtivo de alguns setores industriais.

 

“Existem fornos, por exemplo, que não podem ser desligados rapidamente. Isso será feito de forma gradual”, explicou. Dilma Pena ainda informou que os grandes consumidores de bicombustíveis, que podem trocar o gás por outro combustível, também deverão contribuir. Segundo a secretária, apenas os consumidores residenciais, comerciais e hospitais serão poupados do plano de contingência.

 

ACOMPANHAMENTO ANUAL

 

Em nota, a Comgás, uma das principais distribuidoras de São Paulo, informou que tem acompanhando com toda a atenção os desdobramentos dos recentes acontecimentos sociais e políticos na Bolívia. “Até o presente momento não houve redução no suprimento de gás natural e, portanto, o fornecimento a nossos clientes continua normal”, afirmou a companhia.

 

A distribuidora informou ainda que tem um plano de contingenciamento formatado com a Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp) para ser colocado em prática a qualquer momento, caso seja necessário. Mas observa que “em qualquer cenário está garantido o abastecimento ao setor residencial e aos serviços essenciais, como hospitais”.

 

Na Gás Natural, distribuidora que atende a Região Sul do Estado de São Paulo, o fornecimento de gás também não foi comprometido. Como a Comgás, a companhia informou que tem um plano de contingenciamento.

 

Segundo informações, a Arsesp atualiza anualmente o plano de redução de consumo das distribuidoras no caso de um problema na oferta boliviana. Dentro desse programa, várias indústrias já adaptaram suas plantas para funcionar com outros combustíveis. O problema é que, ao contrário de São Paulo, outros Estados não tem um plano B para o caso de faltar gás natural no País.


 
Veículo: O Estado de S.Paulo


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