Dólar supera R$ 1,80, e BC não compra mais moeda

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Divisa americana sobe mais 1,68% e acumula valorização de 11,2% no mês.Autoridade monetária interrompe seqüência de compra diária de dólares que durava desde 8 de outubro de 2007

O dólar rompeu o teto de R$ 1,80 pela primeira vez desde janeiro. Ontem, a moeda encerrou vendida a R$ 1,818, com alta de 1,68%. Nesse cenário, o BC decidiu não comprar dólares no mercado de câmbio ontem e interrompeu uma seqüência de intervenções diárias que ocorria desde 8 de outubro do ano passado. Com sua atitude, o BC sinalizou ao mercado que a cotação do real ante o dólar pode ter mudado de patamar. Apenas neste mês, a moeda americana já se apreciou em 11,19%. No ano, a alta acumulada diante do real chega a 2,31%. Apesar de o cenário turbulento no front externo sugerir que o BC não adicione mais volatilidade intervindo no mercado, o governo espera queda no fluxo de dólares no curto prazo em razão de perdas registradas por grandes investidores. Nas últimas semanas, quando as turbulências começaram a pressionar o dólar, o BC já havia diminuído o valor de suas compras.

 

Em 2007, quando o cenário era mais tranqüilo, o BC chegou a comprar US$ 1 bilhão num único dia. Desde a semana passada, as intervenções oscilavam em torno de US$ 50 milhões diários. "Não me surpreende o dólar romper em breve o teto de R$ 1,85. Temos visto uma ausência de dólares no mercado. Era esperado que ao menos os exportadores estivessem entrando no mercado com as cotações nesses patamares, mas nem isso tem ocorrido", diz João Medeiros, diretor da corretora de câmbio Pionner. Nas últimas quatro semanas, as reservas internacionais alternaram aumentos entre US$ 300 milhões e US$ 600 milhões, com poucas quedas. A posição da segunda-feira passada, porém, mostrou uma redução de US$ 1,2 bilhão, apesar da atuação do BC. Segundo a Folha apurou, esse movimento é considerado muito importante para o governo porque pode significar uma queda no fluxo de capital externo para o país e os dados do ingresso de dinheiro externo nas próximas semanas deverão deixar claro se esse movimento está se confirmando ou se trata-se apenas de uma instabilidade de curto prazo.

 

Cobrir perdas

 

Com as perdas no exterior, muitos investidores estão se desfazendo de aplicações em que tiveram boa rentabilidade para cobrir os prejuízos. O próprio ministro Guido Mantega (Fazenda) ressaltou, nesta semana, que o dólar deveria subir a partir de agora, não apenas por causa da queda nas exportações e da alta das importações, mas também por um menor fluxo de recursos externos. O governo acredita que essa situação, ditada pelo cenário mundial, não trará maiores problemas e poderá ser revertida, no médio prazo, com investimentos externos no país para exploração da região do pré-sal, a partir de meados de 2009. Isso, porém, ainda depende da definição das regras. Só aí será possível saber o interesse dos investidores.

 

A política de compra de dólares foi adotada pelo BC em janeiro de 2004 e tem por objetivo reforçar as reservas em moeda estrangeira do governo, que na época estavam em US$ 49 bilhões. Atualmente, graças às intervenções, as reservas estão em US$ 206 bilhões. A opção por não comprar dólares ontem não é definitiva, e o BC pretende avaliar a situação do mercado de câmbio diariamente para decidir se retoma ou não suas intervenções. Segundo técnicos da instituição, não existe motivo para o BC continuar comprando dólares no mercado, colocando mais pressão na taxa de câmbio, num momento em que as reservas já se encontram num nível bastante elevado. "Considero que a cotação do dólar já subiu muito em tão curto período. Com esse exagero, acho que a moeda [americana] deve se enfraquecer e voltar um pouco", diz Miriam Tavares, diretora de câmbio da corretora AGK.


 
Veículo: Folha de S.Paulo


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