Preços de exportação de básicos mostram recuperação em maio

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Os preços de exportação de algumas das principais commodities brasileiras reagiram em abril e principalmente em maio, ajudando a melhorar o valor das vendas de produtos básicos. No mês passado, as cotações da soja em grão exportada pelo Brasil subiram 7,3% em relação ao mês anterior, enquanto as do suco de laranja avançaram 21,6%, as do petróleo, 15% e as da carne bovina 7,3%.

 

Nos últimos meses, as commodities estão em alta no mercado internacional, refletindo a demanda da China e o forte aumento da liquidez global, consequência da política monetária expansionista dos principais bancos centrais do planeta. Desde 2 de março, o índice CRB, composto por 19 produtos primários, subiu 28,21%.

 

Com a melhora dos preços e o aumento do volume vendido de algumas commodities em relação aos primeiros meses do ano, os produtos básicos têm ganhado ainda mais importância na pauta de exportações do país, num momento difícil para as vendas de manufaturados. De janeiro a maio, os básicos responderam por 40,8% das vendas totais, bem mais que os 33,9% do mesmo período de 2008.

 

O economista Fábio Silveira, da RC Consultores, elevou em abril a sua projeção para as exportações neste ano, de US$ 160 bilhões para US$ 170 bilhões, graças à melhora das perspectivas para as exportações de produtos primários. Para ele, a alta mais recente das commodities no mercado internacional tende a se refletir em elevação das cotações das vendas externas nos próximos meses. "Os preços de exportação costumam refletir contratos fechados com 30 a 60 dias de antecedência", diz Silveira, que aposta num saldo comercial de US$ 15 bilhões neste ano.

 

O Bradesco destaca também a melhora do volume exportado de algumas commodities nos últimos meses. Em maio, as quantidades vendidas de soja em grão cresceram 4,1% em relação a abril, as de farelo de soja, 10,5%, as de açúcar em bruto, 63%, e as de petróleo, 13,4%. No mês passado, os economistas do Bradesco elevaram a previsão para as exportações neste ano, de US$ 142 bilhões para US$ 148 bilhões, refletindo um aumento das projeções para o volume vendido de produtos como soja, açúcar e celulose. O Bradesco tem uma das estimativas mais otimistas para o saldo comercial em 2009, de US$ 29,4 bilhões. Em 2008, atingiu US$ 24,8 bilhões.

 

Os preços de exportação de commodities têm se recuperado em relação aos meses imediatamente inferiores, mas ainda são, de modo geral, bem inferiores ao do primeiro semestre do ano passado. Em maio, os preços de exportação do petróleo subiram 15% sobre abril de 2009, mas caíram 60% sobre abril de 2008.

 

Como o volume exportado de várias commodities também encolheu na comparação com o primeiro semestre ano passado, o valor das vendas externas da maior parte desses produtos em 2009 segue abaixo do observado em 2008. De janeiro a maio, as exportações de básicos atingiram US$ 22,613 bilhões, 7,4% menos que no mesmo período do ano passado. Há algumas exceções, como a soja em grão, que viu o valor exportado subir 12,8% nesse intervalo.

 

A demanda da China por commodities é um dos principais fatores que explicam a a recuperação dos preços, diz o economista André Sacconato, da Tendências. O país aproveitou para recompor os seus estoques dos produtos num momento em que as cotações estavam em baixa, nota ele.

 

A forte expansão monetária promovida pelos bancos centrais dos países desenvolvidos também contribuiu para a alta dos produtos primários, lembra Silveira. Por conta disso, há um movimento de desvalorização do dólar e um aumento da liquidez internacional, fatores que estimulam a busca dos investidores por commodities.

 

A grande dúvida entre os analistas é o que vai ocorrer com as cotações desses produtos nos próximos meses. O economista Júlio Callegari, do JP Morgan, acha mais provável que os preços fiquem próximos dos atuais níveis. Segundo ele, a China tende a arrefecer um pouco o ritmo de compras, e a expectativa é que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) não expanda ainda mais a política de aquisição de títulos públicos e privados, o que aumenta a circulação de dinheiro na economia.

 

Já Silveira vê um risco maior de queda desses preços em algum momento até o fim do ano, por acreditar que está em formação uma nova bolha de commodities. Não há, segundo ele, fundamentos econômicos que justifiquem a alta dos produtos primários num cenário em que economias importantes, como a americana e a japonesa, atravessam forte recessão.

 

De qualquer modo, são as commodities que devem dar algum alento às exportações neste ano. O cenário para as vendas de manufaturados é muito ruim, dado que países como EUA e Argentina, grandes compradores desses produtos, enfrentam um momento complicado. De janeiro a abril, o volume exportado de manufaturados caiu 28,2%, segundo números da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex). No período, as quantidades exportadas de básicos subiram 17,9%.

 

Veículo: Valor Econômico


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